Passarinho

15-Estou aqui para te proteger

"Malu:9
Dudu:10

Dudu está prestes a marcar o gol decisivo. A pequena plateia, composta por crianças de nossa classe e vizinhança, direcionava uma imensa onda de energia positiva, com seus gritos e murmuros que não compreendo. Junto com eles e meu imenso cartaz de incentivo, decorado com glitter e lantejoulas rosas e azuis compondo a frase "Caso você perca, lembrará para sempre o quão fracassado foi aos seus 10 anos de idade. Não me decepcione!
Ps: gastei AUD$ 1 nas lantejoula, 50 centavos no glitter E AUD$ 2 no cartaz. Se perder quem paga é tu! Obrigada.
Lembre-se: o importante é se divertir!" Me localizava no canto da arquibancada, com um grande sorriso!

Com a bola submissa aos seus pés, Dudu se deslocou com agilidade até o gol, pronto para fazer o ponto decisivo. Com confiança e aquecido pelo calor da torcida ele chuta a bola! Ela voa tão alto quanto uma borboleta, livre pelo céu azul. Ou então quanto um pássaro cor de laranja!
Acho que ela está voando para longe. Aí meu deusinho!
A bola aterrissa com força, centralizada no meio da Janela da casa ao lado. Vou correndo até Dudu, que permanece paralisado com as mãos sobre a cabeça. Não sei se ele está assim por conta da janela ou por ter perdido a chance de vencer e ainda ter estragado o jogo.
Os torcedores não produzem mais barulho algum. Todos estão a espera do próximo ato.
Um senhor_ provavelmente sofredor de uma doença que faz os cabelos caírem, já que não tem nem 10% de cabelo em sua cabeça, ou seriam 20%? Tanto faz!_ sai da casa com a bola em mãos olhando para nós. Não parece nem um pouco feliz.

"Que o culpado se pronuncie!" Diz em alta voz com uma voz falha.
Dudu e eu caminhamos até o senhor. Dudu está a soar frio, provavelmente preocupado com o castigo que receberia de sua mãe. Do jeito que conheço a tia, ela não deixará que ele participe do grande jogo, que ele tanto treinou, da semana que vem.
O senhor aponta para meu amigo "Foi você o causador disso?" Volta sua mão para os cacos quebrados espalhados por todo o chão.
"Si..."
"Fui eu!" Digo elevando a voz entrando na frente de Dudu. "Sinto muito!"
O senhor me direciona um olhar de desprezo e faz um bico com seus lábios "Tinha que ser uma garota!"
Ao entrar em contato com tais palavras, engulo meu orgulho e permaneço de cabeça erguida, não deixando me afetar por algo que poderia vir de um ser que, pelo que parece tem um leve retardo mental. "Me passe o contato de seus pais para que eu discuta com eles o prejuízo dessa brincadeira."
Passo o telefone de meu pai e sou liberada para voltar ao campo. No caminho, Dudu parece irritado.
"Por que Fez isso? Deveria ter deixado eu assumir a culpa de meus atos. Seus pais terão que pagar sem que você não tenha feito nada de errado!" Eu sorrio com sua preocupação.
"Você deveria me agradecer! Se não fosse por mim, perderia o jogo da semana que vem." Sento-me no banco, ele fica a minha frente, ainda bravo. "Só de imaginar seu rosto triste por não poder jogar no jogo mais esperado do ano, fez meu coração amolecer e tomar essa atitude."
Sua feição muda e Dudu parece mais suscetível a aceitar minha ajuda.
"E o dinheiro?"
"Isso não é problema! Meus pais podem pagar, nao se preocupe." Digo dando de ombros.
Subo no banco e começa a dançar com as mãos na cintura "Agora vamos comemorar pelo jogo da semana que vem!"
"Mas eu nem ganhei ainda!"
"Mas Vai ganhar! Além de ter me feito pagar AUD$ 3,50 no cartaz, quebrou o vidro e aumentou aí da mais o meu prejuízo. Para me recompensar você vai ter que ganhar esse jogo a qualquer custo. E nem venha com desculpas!" Advirto-o ainda dançando minha coreografia inovadora e criativissima!
Ele responde minha ameaça com as mãos levantadas se rendendo. Puxo-o para cima do banco e começamos a cantar e dançar juntos.

Dudu vai vencer o jogo da semana que vem!
Eu sei eu sei
Com ele não tem para ninguém!
Ninguém ninguém
O melhor jogador
Veio pra ganhar
Ganhar ganhar
..."

Caminhar por entre lobos disfarçados de carneirinhos toda a manhã não é algo que me fascine; mesmo assim preciso enfrenta-los dia após dia. Lidar com cochichos e olhares se tornar cada vez mais insignificante, você está destruído não há mais nada que te faça sentir algo. Por isso, a minha caminhada até a sala de filosofia é apenas mais um passei silencioso por uma rua desertar a meia-noite.
Junto de meus livros me direciono a terceira sala do corredor, cheguei um pouco mais cedo, porque estou fugindo das meninas. Elas acham que meu visual poderia mudar um pouco. Tentei convence-las de que uma simples camada de maquiagem não seria suficiente para salvar esse rosto, mas Liza  garantiu que ele não é tão ruim, que ela pode ajudar.