O Fascínio da Besta

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O rapaz negro abriu uma fresta na cortina de seda e espiou as garotas seminuas no sofá vitoriano, tagarelando as últimas frivolidades ébrias de suas vidas. As taças de vinho nas mãos de ambas dançavam o balé de seus corpos sinuosos, ocasionalmente gotejando no tapete persa daquela suíte presidencial. Mãos suaves tocaram os ombros do jovem, que não se assustou quando sua mestra lhe sussurrou aos ouvidos:

— Pronto para executar a disciplina de nosso clã, Oscar?

Tão irresistível era a voz da ruiva às suas costas que o jovem sentiu o calor avivar-lhe as partes íntimas. Sua mente flertou com a ideia de descartar as humanas e arrebatar aquela fenomenal mulher de mármore. Mas controlou-se — por hora.

— Já te disse que sim, Ophelia.

— Não senti segurança na sua voz. — Ela o abraçou pela cintura e colou seu corpo curvilíneo no dele. O rapaz tentou conter um suspiro quando a mulher desceu o tamborilar dos dedos longos pelas suas coxas. Ela o dedilhava como se ele fosse um instrumento musical. — Me conte outra vez como é que se manipula as emoções dos mortais.

— A disciplina Presença... — Sua mestra lambeu-lhe a nuca. Oscar sabia que ela estava testando sua concentração... e se divertindo muito no processo. — Ela consiste em você sintonizar as emoções alheias. Se estabelece um laço empático com os alvos. — As mãos de longos dedos agora arranhavam o abdômen do discípulo. — Em seguida, se mentaliza a atração. — Elas desceram pela virilha, que já pulsava ardente. — Você acredita que é irresistível. — Ele se virou para Ophelia, os olhos consumidos pelo desejo. — Inconscientemente, os humanos captarão o chamado, ficando fascinados com você...

Oscar vislumbrou a mestra, hipnotizado pela expressão elegante, a pele macia, as curvas lascivas. Ela trajava um vestido de gala de seda rubra, um colar de safiras e pequenos brincos em formato de uma rosa. Seus olhos verdes eram uma selva de mistérios insondáveis e prazeres profanos. Os lábios da ruiva desenharam um sorriso felino enquanto ela deu dois tapinhas no cabelo crespo do aluno.

— Bom garoto. Agora... — Ela tocou nos ombros do rapaz e o fez girar até encarar as duas no sofá outra vez. — Pega!

Não era a primeira vez que Ophelia tratava Oscar como um bichinho de estimação. E ele sabia que também não seria a última. O rapaz de olhos cor de âmbar deu um suspiro, afogou seus devaneios com a mestra e se focou nas duas vítimas que a ruiva lhe deu de presente.

As duas garotas estavam no esplendor das vinte primaveras. Uma tinha cabelos dourados cascateando em cachos pelos ombros nus, pele alva com bochechas maquiadas em um rosa que contrastava com o batom preto. A pele da outra era de um bronze reluzente enquanto os cabelos desciam negros até o pescoço, ondulando em rios de ébano. A loira trajava um sutiã e calcinha vermelhos enquanto a morena, brancos.

Na ocasião, Oscar vestia uma social branca com os botões do peitoral entreabertos. Também uma calça preta e sapatos bem lustrados. Estaria simplório, não fosse a qualidade impecável das marcas mais caras do mundo que desfilavam pelos tecidos de seu traje. Ele adentrou devagar no ambiente totalmente decorado à moda do século XIX, capturando os olhares curiosos das duas risonhas.

— Você deve ser o Oscar — a jovem de cabelo moreno falou, julgando cada milímetro do rapaz de cima a baixo. Demorando-se um pouco mais lá pelos países baixos. — A tal Ophelia disse que era seu aniversário. Vinte e dois, não é isso?

— Oooi, Oooooscaaaar! — cumprimentou a loira antes que o rapaz pudesse responder. — Achei que você fosse mais alto. — Ela se virou para a amiga, sussurrando alto o suficiente para ele ouvir. — E mais bonito também.

A garota de pele morena deu risada descontraída e entregou a taça na mão do jovem.

— Ignora ela, queridinho. Faz um favor? Vai buscar mais vinho pra gente, a garrafa acabou. E vê se traz mais daqueles pães de queijo, estão uma delícia.

— Vai loooogo, filho. Tá fazendo o queeeee aí aiiiiinda? — disse a outra, rindo.

Os lábios de Oscar endureceram; o canto forçou uma curva para cima. Os dentes mordiam-se pesados por dentro. O problema da Presença era justamente o fato do vampiro precisar acreditar que é o galã sedutor, a estrela do lugar. Se sua autoconfiança fosse abalada, realizar a técnica era quase impossível. 

O novato já sabia usar um pouco de Auspícios, o poder que aguçava seus sentidos. O que era bem mais fácil porque só precisava de pura concentração. Treinava arduamente a Rapidez, já conseguindo superar a velocidade de um humano comum. Mas Presença era seu grande problema... não era uma pedra no sapato, mas um prego que furava seu pé, e bem fundo.

Oscar podia sentir os olhos da mestra pesando às costas, o julgamento já lhe carbonizando os ossos. Ela cobrava bastante dele. Queria que fosse o melhor de todos os neófitos, o novato mais exímio que o mundo vampiro já viu. Sabia que o castigo viria pesado na próxima sessão de treinamento. Essa cadeia de pensamentos inseguros foi alimentando sua ira, fervilhando as entranhas. Se controlou para não quebrar a taça na cara da garota.

Então, o cheiro das duas invadiu suas narinas. Ainda silencioso, olhando para elas, pôde ouvir o palpitar dos corações. Aquele sangue parecia um perfume exalando pelos seios, despertando um transe de luxúria maldita. O rapaz podia quase sentir a vitae delas fluindo desvairada por suas veias. Aquela foi a primeira vez que Oscar tomou consciência da Besta que existia dentro de si.

Porque foi a Besta que fez seus caninos crescerem. E fez gritos de horror retumbarem da suíte presidencial.

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