— Obrigada, você salvou minha noite, guria! — disse a gordinha de óculos para a indiana enquanto costuravam pelo cardume de gente se remexendo no tapete de fumaça. Nuit Blanche de Vive la Fête tremia o chão e as paredes. O lugar era um ménage de coquetéis, perfumes franceses e corpos elétricos.
— Isso que eu chamo de ostentação! — comentou Louise, seu cabelo branco estilo Cléopatra espelhando as diversas cores piscando na boate. — Aquele segurança com certeza teve a noite mais lucrativa do ano.
— Aquele careca vai ficar muito triste daqui a pouco, he, he — apostou Kashvi, tirando o capuz de sua jaqueta jeans, revelando os olhos verde-amarelados.
— Notas falsas? — a gótica de olheiras negras e pele alva indagou, degustando a ideia pilantra.
A estrangeira de cabelo roxo com corte moicano retribuiu o sorriso travesso para a magricela.
— Ai, não creio! — exclamou Pietra, levando a mão à boca ao gargalhar. Seu casaco violeta parecia brilhar sob as luzes frenéticas, se destacando da blusa preta e do jeans azul prussiano. — Que malvada, gostei! Ha, ha!
— Não gama, não, seu crush tá acenando pra você ali, óh — disse a estudante de espartilho e saia preta. Apontou com a unha preta para um rapaz negro com cabelos encaracolados de pé ao lado de um balcão lotado de gente.
Sem notar, Pietra arrumou o cabelo preto com mexas roxas atrás da orelha; a pele bronzeada pareceu enrubescer. Ela ajeitou os óculos e puxou a manga branca de listras pretas espiraladas da amiga.
— Vem comigo, Louise, por favor.
Uma mão de pele mais torrada tocou suavemente no ombro da fofinha de sandálias pretas.
— Coragem, Pietra — incentivou Kashvi, sustentando um olhar penetrante e motivador para a adolescente. — Você consegue. E além do mais — ela pegou na mão da gótica de meia-calça e tênis All-Star —, Louise vai dançar comigo. É minha música favorita.
O queixo de Pietra caiu, como se tivesse levado um tapa. Louise ondulou as sobrancelhas para a indiana que já se movia no ritmo da música, os coturnos estalando no chão.
— Quanta audácia — respondeu a jovem de olhos verdes, apertando delicadamente a mão que lhe acolheu. — Quem diria que agora eu tenho alguém com quem apostar. Vamos ver quem pega mais.
Louise deu uma piscadela de "já volto" para Pietra e desapareceu no labirinto de corpos extasiados. A garota congelou, ainda processando o que foi que acabou de acontecer. Só despertou do transe quando ouviu uma voz masculina chamando seu nome. Era Dominic. E ele estava ao lado de uma japonesa de pescoço comprido e olhar ofídio, longas mechas amendoadas descendo pelos ombros. Victoire. A patricinha que azucrinava sua vida desde que entrou no Ensino Médio.
Pietra cortejou a ideia de sair correndo. Poderia dizer que precisava urgentemente ir ao banheiro. Tipo, pelo resto da noite. Mas respirou fundo, considerando que poderia apenas fingir que a asiática não existia. Esquivou-se de um rapaz de boné dançando de olhos fechados, quase derrubou uma garota baixinha que carregava dois copos de bebida e passou no meio de um grupinho que cantava fielmente a letra da música com gestos marotos.
— Oi, linda! — cumprimentou Dominic quando Pietra se aproximou. Deu dois beijos nas bochechas rechonchudas da adolescente, que sentiu um pedaço do paraíso por alguns segundos.
A sensação acabou quando teve que cumprimentar Victoire, ambas dando um seco "oi". A japonesa rolou os olhos enquanto Pietra fez questão de ficar o mais longe possível dela.
— Achei que não fosse conseguir entrar! — comentou o rapaz cor de café com camiseta laranja.
— Eu também — lamentou Victoire, mais para si mesma que para os dois.
— Aquela indiana do 3°E deu uma ajudinha pra gente! — esclareceu Pietra, fingindo que procurava uma garrafa que lhe interessasse nas estantes atrás do balcão.
— E falando nisso, cadê a Louise? Dois minutos no Inferno e já se perdeu de ti, é?
— Bem... — a jovem de óculos olhou para a pista de dança, procurando pela amiga. Tanto ela como Dominic avistaram Louise e Kashvi dançando uma de frente para a outra. Ambas pareciam corpos celestes flertando com a gravidade, chocando-se aqui e acolá. Às vezes se abraçavam. Parecia que competiam uma com a outra para ver quem colocava mais lenha na fogueira.
— Parece que sua amiga está se divertindo bastante sem você, né, Pietra? — alfinetou Victoire. — Vocês nunca se desgrudam. Pra uma amizade funcionar, você tem que dar espaço pra outra pessoa, sabe? Quem avisa amiga, é, né.
— Pois é. Aposto que você entende bastante sobre ser grudenta, né, Vic? — rebateu Pietra, mais por instinto que outra coisa.
— Então, gatas, vamos pedir um vinho? Whisky? O que vai ser? — Dominic tentou acalmar os ânimos com um sorriso amarelo.
— Vinho — pediu Pietra.
— Whisky — sobrepôs Victoire.
— Ei, mano... — o rapaz de olhos castanhos ponderou entre asduas garotas e chamou o barman, um sujeito magro de cavanhaque loiro. — Vou querer três tequilas, por favor. — Ele lançou um olhar de desculpas para as duas. — Todo mundo aqui curte tequilas, né?
— O que você escolher está bom pra mim — disse a japonesa, colocando a mão sobre o ombro do adolescente de maneira insinuante.
Pietra apenas assentiu. Sentia que sua noite estava indo pelos ares. E seu crush, descendo pelo ralo. Deu uma olhadela para a pista de dança, procurando por Louise. Ela estava beijando um rapaz alto e musculoso que com certeza era mais velho. Avistou Kashvi em um canto sob as escadas. Estava aos amassos com... um casal. Um rapaz ruivo e sua aparente namorada, uma jovem de tranças castanhas.
— Então, Pietra, é sua primeira vez, né? — A voz de Dominic fisgou a atenção da jovem.
— Oi? — Sua pele avermelhou-se intensamente. De imediato lembrou que desejava que o rapaz negro fosse o primeiro com quem se deitasse. Também lembrou que costumava se imaginar com ele sob os lençóis frequentemente.
— No Inferno... — Dominic deu uma risada, pois percebeu o duplo sentido da frase.
— Ela só faz essa cara porque é virgem — zombou Victoire após virar o copo de tequila.
— Eu não sou virgem! — contradisse a fofinha de jaqueta violeta. — Já fiquei com muitos caras... — De repente ela notou o rosto risonho e sobrancelhas arqueadas de Dominic. — Quer dizer, não tantos assim. Só alguns poucos.
— Quem te viu, quem te vê! — disse o estudante de camisa laranja ao por a mão no ombro de Pietra. Parecia surpreso, mas não incomodado com o comentário. Quase que por instinto, a asiática fingiu que tropeçou sobre o rapaz, dando uma desculpa para abraçá-lo de repente.
— Ai, desculpa, querido, foi um idiota aqui atrás! — ela abriu um sorriso dissimulado para ele.
— Então tu me trocou por esse paspalho, Vic? — inquiriu um adolescente alto, de porte atlético e com jaqueta de um time de rugby. Ele separou o abraço entre o estudante negro e a japonesa, se colocando no meio, olhando para Dominic como se fosse arrancar seu couro ali mesmo.
— Cai fora, Matt, a gente já era! Faz duas semanas, já, se toca! — Victoire reclamou, aguda.
— Você vai me pagar, Vic. — Ainda sem olhar para ela, o jovem ergueu Dominic pelo colarinho e o jogou para o lado. O rapaz cambaleou por dois metros, mas conseguiu manter o equilíbrio para não cair. Mathew e os amigos que o acompanhavam, também com a mesma jaqueta, caíram na risada.
— Dominic, não! — Pietra queria fazer algo, mas estava assustada demais para conseguir se mexer.
— Vem! — o grandão provocou, imponente. Os amigos continuavam a gargalhar.
O rapaz de cabelos encaracolados olhou para as duas e depois para baixo. Se meteu na multidão de corpos dançantes e sumiu.
Mathew então fitou Victoire, que fazia menção de ir atrás dele, e disse-lhe:
— Dizem que a vingança é um prato que se come frio. Mas eu sou o fogo, baby. — Ele então pareceu notar que a garota de óculos estava ali. — Você vai me pagar agora mesmo.
O brutamonte abraçou Pietra e a beijou à força.
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🦇 Vampiro A Máscara 🦇 O Despertar de Caim 💀
VampiroO apocalipse vampiro começou quando um príncipe da Camarilla foi diablerizado por um sujeito misterioso. Agora, o recém-abraçado Oscar e sua mestra precisarão caçar essa ameaça caótica por toda a Europa. Ao mesmo tempo, um vampiro necromante procura...