O Mestre das Marionetes

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— Quem é você? — Aica indagou feroz para o sujeito encapuzado de jaqueta verde escuro. Ele estava a dois metros atrás dela, dentro do círculo de motos. — Fale o que quer aqui antes que minha gangue te arranque as tripas pela boca.

A mulher de olhos azuis estava muito inquieta com aquela figura. Não o sentira se aproximar, teria usado Rapidez? Sua única certeza era de que não era humano, apesar dos jeans rasgados e tênis vulgares que vestia. Talvez fosse um Assamita ou um Nosferatu que tivesse usado Ofuscação para se aproximar tão furtivo. Seja como fosse, seus instintos lhe avisavam para não baixar a guarda.

— Eu tenho muitos nomes, mas pode me chamar de Ragnus — disse ele com um tom casual, enfiando as mãos nos bolsos. — Geralmente essa é a última coisa que insetos como vocês escutam antes de morrerem. Mas por ironia do destino, vocês não serão mortos por mim, mas pela própria Camarilla. Os que sobreviverem, é claro.

A gangue de uns vinte motoqueiros fechou os punhos quase que em sincronia. Ele os havia chamado de insetos? Com os caninos à mostra, os grupos ao redor das motos logo adentraram no círculo como lobos se aproximando de um cordeiro indefeso. Aguardavam tão-somente a ordem da líder para ver quem arrancaria seu coração mais rápido.

O rosto da vampira de jaqueta de couro fez um trejeito de desprezo antes de cuspir no chão. Ela inclinou a cabeça de cabelos curtos para o lado sem tirar os olhos do invasor. Não enxergava seu rosto, apenas os lábios finos e o queixo sem barba. Voraz, comandou:

— Acabem com ele!

Cinco vampiros, três brutamontes e duas mulheres, usaram a Rapidez. Perfuraram o ar como foguetes, os músculos já aumentados com sua disciplina Potência. Cada um disparou de um lado diferente de Ragnus. O mais veloz foi um musculoso de bandana vermelha e óculos escuros que lançou o punho contra a nuca encapuzada. 

Antes que ele pudesse perceber, todo seu corpo foi fatiado em cinco partes. O invasor então puxou o osso do braço recortado e enfiou no meio da testa de uma vampira loira que lhe atacava com uma voadora enquanto ela ainda estava no ar.

Um outro grandalhão de bigodes ruivos vinha com o cotovelo contra as costelas esquerdas do inimigo. Ragnus deu um passo para trás, desviando, fazendo com que o atacante passasse em sua frente em câmera lenta. O encapuzado então cravou os dedos por dentro da carne do pescoço do musculoso. Agarrou o osso e, de maneira sobrenatural, retirou toda a espinha do sujeito para fora do corpo, a cabeça ainda balançando no alto do pescoço.

Usando a espinha como lança, enfiou na boca de um vampiro de tranças castanhas que tentava dar-lhe uma rasteira. A espinha atravessou a garganta, abriu um buraco na nuca e se fincou no chão de cimento. A última vampira, uma morena de cabelos cacheados, vinha do alto como um meteoro contra o encapuzado, o soco pronto para achatar seu crânio.

 Ragnus levantou a mão direita para o alto, espalmada como uma lança, e deu um passo para ficar no ponto exato. A mão pálida atravessou a cara da morena como se fosse uma espada, perfurando-a da testa até o ânus. Seu corpo se dividiu ao meio, caindo em câmera lenta ao redor do invasor.

Toda essa cena se passou dentro de um segundo, tamanha foi a celeridade sobrenatural aplicada na batalha. Quando o resto dos Brujahs deu por si, os companheiros estavam dilacerados ao redor do sujeito estranho, que sequer parecia ter suado para tal. Todos pararam, atônitos, o coração pulsando de ira e ódio. O oceano de sangue ao redor de Ragnus começou a flutuar. Se levantou dos corpos, do chão, da jaqueta do invasor e flutuou em diversos rios carmesim em direção à sua boca.

Antes que Aica pudesse dar alguma ordem, o estrago já estava feito. Todos os Brujahs da gangue estavam com os olhos negros, possuídos pela Besta. Como animais selvagens, pularam e correram contra o encapuzado de uma só vez, berrando sua fúria para o frio da noite.

 Foi então que todos eles pausaram. Os que corriam, se detiveram; os que saltaram, flutuaram no ar. Alguma força extremamente poderosa estava congelando o movimento da gangue inteira. Apesar da fúria roendo-lhe as entranhas, Aica era a única que ainda não estava tomada pela Besta. 

Quis atacar em super velocidade, mas seu corpo não lhe respondeu. Todos seus tendões tremiam, os músculos se enrijeciam, mas nada se movia. Até sua visão começou a oscilar, escurecendo aos poucos, enquanto sentia dores em todas suas juntas.

— Desgraçado! — a vampira de cabelos índigo esbravejou, forçando sua língua a se mover na boca. — Você é um Tremere da Linha do Sangue!

Ragnus olhou para Aica, totalmente surpreso.

— Ora, vejam só. Ela consegue falar. Faz tempo que alguém consegue resistir o suficiente para mexer os músculos da boca.

De repente, todos os Brujahs paralisados flutuaram no ar e ficaram enfileirados na frente de Ragnus. Aica ficou na ponta esquerda, sentindo a horrível sensação do seu sangue se comprimir na parede das veias e dos músculos com força o suficiente para levitá-la. Em seguida, todos se ajoelharam ao mesmo tempo, os olhos negros ainda em fúria, a baba caindo descontrolada de suas bocas.

— Ouçam, seus vermes. — Quando Ragnus disse isso, Aica sentiu uma dor aguda dentro de sua cabeça, como se fosse explodir. — Digamos que fiz muito barulho e a Camarilla está atrás de mim. Preciso de uma distração eficiente. Vão até o local mais cheio de gado que você conheçam nessa cidade. Matem todos os mortais de lá. Isso vai me dar o tempo que preciso.

Todos da gangue deixaram de lutar contra a paralisia e seus olhos voltaram ao normal, embora desprovidos de seu brilho. Aica começou a gritar de dor, sentia que havia uma bomba explodindo dentro de seu cérebro. Estava desesperadamente lutando para conter essa dor em uma bolha imaginária.

— Força de vontade alta — falou o encapuzado como se estivesse se referindo a uma sujeira asquerosa em uma camiseta de seda branca. — Você realmente é um pé no saco, criança. Vai ter que morrer antes.

Ele levantou sua mão lentamente e apontou sua palma para a testa da vampira. Sirenes de viaturas começaram a ecoar pelas ruas, se aproximando.

— Sua briguinha de gangue atraiu atenção demais — o invasor lamentou, azedo. — Depois acabo com você.

Fez um gesto suave com os dedos e Aica foi lançada contra o muro do beco. Atravessou os tijolos até abrir uma cratera em um prédio próximo, entortando uma das vigas que o sustentava. Seu corpo inteiro formigava, a visão escurecendo. Sentia seu próprio sangue escorrendo por entre os dentes e pousando na ponta úmida da língua. A última coisa que viu foi sua gangue correndo pelo beco, prontos para quebrar a Máscara.     

🦇 Vampiro A Máscara 🦇 O Despertar de Caim 💀Onde histórias criam vida. Descubra agora