O Covil da Serpente

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A cama estava cheia de mulheres nuas e cobras venenosas. Ela era redonda e preta, com três metros de diâmetro. Ruivas, morenas, loiras... albinas, negras, mulatas... todos os corpos se conectavam em uma dança de beijos, lambidas e dedos vorazes. O único homem da cama deslizava sinuoso por cada uma delas. 

Ele era calvo, alto e muito esguio; a pele era da cor das acácias do deserto. Seu membro ereto serpenteava por entre os seios volumosos ao som das najas que sibilavam irrequietas. As cobras entrelaçavam-se nos corpos, espiralando-os, como correntes vivas. Havia gemidos de prazer, o som de escamas frias passeando pelas coxas abertas, o vaivém de penetrações fugazes arrancando suspiros na noite do Cairo.

Todos, mulheres e cobras, o amavam. Tamanha era a devoção, a entrega, o incontrolável ímpeto de adorar aquele homem como se fosse um deus entre os mortais. Mesmo quando o sangue vertia aos litros dos pescoços, seios e nádegas, só existia o prazer de servir ao rei dos reis. 

Os caninos cravavam nos lábios da vulva, o líquido rubro abundava enquanto a língua comprida e bifurcada passeava útero adentro. No interior das mulheres, o órgão bipartido rodopiava em uma espiral úmida e intensa. Uma a uma, as mulheres iam morrendo sem que notassem, pois estavam ocupadas demais sentindo orgasmos múltiplos. Somente as cobras sobreviveram à orgia do homem de olhos verdejantes.

Uma mulher morena abriu a porta do recinto, quebrando a escuridão intensa que ali reinava. Ela tremia e fazia questão de olhar apenas para o chão.

— Perdoe-me, mestre... há um Membro que está à sua espera.

O vampiro levantou-se da cama e as najas o acompanharam. Sua pele escura agora estava banhada em uma camada de sangue, esperma e líquido vaginal. A serva à porta nada enxergava, mas estremeceu ao ouvir tantas criaturas sibilantes se aproximarem mais e mais.

— Diga que se não ir embora de imediato, terei que matá-lo — ele respondeu, a voz arrastada como um sussurro lascivo.

A mulher deu passo para trás, pronta para sair correndo a qualquer momento. Engasgou; detestava trocar palavras demais com seu mestre. Hesitante, ainda sem encarar o breu, replicou:

— É Lucian Giovanni, meu senhor.

Ela não viu, mas um sorriso irônico dançou nos lábios finos do sujeito. Sem dizer palavra, ele aproximou-se da porta e passou ao lado da serva, ignorando-a. As dezenas de najas que seguiam o vampiro se alastravam como um tapete vivo.

Algumas, contudo, consideraram que era um bom momento para o jantar. Elas se enroscaram na serva aos montes, picando-a por todo o corpo enquanto  a morena berrava para que seu mestre a ajudasse. O homem nu caminhou indiferente enquanto a mulher se afogava no mar de víboras.

                                                ***

O vampiro albino de longos cabelos negros estava de pé na sala de estar, admirando uma enorme pintura que retratava uma batalha épica entre os deuses Set e Osíris. A mão esquerda estava nas costas ao passo que a outra repousava em uma bengala preta com empunhadura na forma de um crânio de prata.

O sobretudo negro caía-lhe até os tornozelos, pouco acima dos sapatos sociais impecavelmente lustrados. Os dias do deserto eram insuportáveis, mas o frio reinava à noite. Antes que o sujeito de olhos azuis pudesse contemplar mais a batalha mitológica no quadro, começou a ouvir o chiado de víboras preencherem o ambiente.

— Lucian — disse o sujeito calvo atravessando um largo umbral, agora limpo e trajando um roupão escarlate. — Preferia nunca mais ter que ver sua cara, necromante. Sua presença é um mau augúrio dos mais pestilentos. A que devo o desgosto?

O vampiro sorriu, admirando como o velho conhecido se encaixava na paisagem peculiar de seu refúgio. Era uma casa grande que por fora parecia uma de muitas, mas por dentro era um museu vivo. O lugar era infestado de relíquias milenares. À parede havia baixo-relevos originais de templos egípcios. Pelo menos três sarcófagos repousavam na sala, restaurados com ouro puro. Estátuas de Set, Rá e Nut reluziam nos criados-mudos e sobre as prateleiras repletas de papiros.

— Isso são modos de tratar um velho amigo, Kek? — Ele vislumbrou o exército de najas que se alastravam ao redor do vampiro, orbitando-o em ritmo lento e incessante. — Parece que diablerizar aquele Gangrel há trezentos anos te fez muito bem. Quem diria, Animalismo é uma disciplina que lhe cai como uma luva.

O vampiro de roupão caminhou vagarosamente até o tapete da sala, os olhos fixos em Lucian. Não dava para saber se Kek apenas se aproximava ou se o espreitava, pronto para um bote. Quando ficou a dois metros da visita, parou e o esquadrinhou com um ar misterioso.

— Você não veio ao deserto para falar de amarantos pretéritos. A morte sempre te acompanha, Lucian. Diga de uma vez o que o traz até mim.

Um peso grave impregnou-se na voz do Giovanni.

— Adrien...

Sem que terminasse a frase, os lábios achocolatados do careca se abriram, revelando dentes pressionados. O canto do nariz se retorceu em desprezo, as pálpebras se estreitaram. A voz do Seguidor de Set ressoou enfática enquanto as najas moveram-se estressadas pela sala.

— Isso é culpa sua, Lucian! De quem foi a brilhante ideia de dominar um Tzimisce para que escondesse a relíquia no coração de um Ventrue nojento!?

— Ele era mais antigo do que nós, Kek. Abatê-lo não era fácil. Adrien Jules podia comandar todos os habitantes de Paris de uma só vez se ele quisesse.

— Mais antigo que você — refutou o setita. — Faz-me rir, Lucian. De que lhe serviu o nível Majestade em Presença? O maldito morreu e agora sua parte da relíquia está perdida. Diga-me, necromante, como é ser o responsável direto do início da Gehenna?

— Tolice. O apocalipse vampiro só será nossa preocupação se eles encontrarem as outras três partes.

— Seu biltre usurpador, é por isso que está aqui? Quer a minha parte da relíquia? — Kek sorriu, sua cabeça se inclinou junto com o ondular de suas sobrancelhas. Seu tom mais soava como um chamado ao combate que uma pergunta.

Lucian respirou calmamente.

— Às vezes me questiono o quão frio é o sangue dos répteis, Kek. Não vim lutar contigo. Eu passei todos esses séculos estudando uma maneira de destruir as relíquias. Acredito que isso seja possível se elas forem levadas para o mundo dos espíritos e atingidas pela arma certa. Preciso de você, velho amigo. Será como nos velhos tempos, Kek: eu, você e ela. Precisamos nos unir para destruir as chaves antes que seja tarde demais.

O vampiro alto e calvo deu um passo à frente, o nariz ficando a quinze centímetros do necromante. Os olhos do setita já não eram verdes, mas amarelos. Suas pupilas redondas se alongaram, fendendo-se em grandes e ameaçadoras riscas.

— Desapareça da minha frente, Lucian. Se eu te ver novamente, te garanto que minhas presas no seu pescoço serão as últimas coisas que você sentirá na sua desprezível não-vida.

Lucian suspirou com um ar decepcionado. Virou-se e se dirigiu à porta. Antes de cruzá-la, ouviu às costas:

— E deixe Yorukage fora disso! Por Set, se você se aproximar dela, Lucian...

Indo embora, o Giovanni sorriu. Seus planos estavam saindo exatamente como havia planejado.


                                                    ***

Palavra do Autor:

Hey, wattpaders vampíricos! Estão curtindo a história? Comentem o que têm achado até então, quero a opinião de vocês. Se gostaram dessa atmosfera sombria, deixem sua estrela e se inscrevam no meu perfil. Mais capítulos virão logo, logo! 

Até breve!

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