A Sorte de um Amor Tranquilo

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Não devemos depositar no outro a resolução de nossos problemas, a responsabilidade de preencher nossas rachaduras, cicatrizar as nossas feridas. Me desculpe Cazuza, mas ninguém merece um amor com sabor de fruta mordida e Deus me livre da sorte de um amor tranquilo.

Passei muito tempo acreditando que tudo que eu mais queria era um pouco de calmaria, nenhum conflito. Mas descobri que querer e precisar não são as mesmas coisas. Eu sei que não quero e não preciso de alguém pela metade, alguém que não possa estar comigo por inteiro. Sei que somos a soma de todas as nossas caras metades que conhecemos pelo caminho, mas ainda sim, isso não nos diminui, apesar de muitas vezes nos machucarmos e nos sentirmos quebradas, ainda sim depois que tudo passa continuamos inteiras, porque ao contrário do que querem que acreditemos sempre fomos assim. E na maioria das vezes esses tropeços só nos fazem ainda mais fortes.

Pensei que depois de tantas desilusões eu queria e precisava de calmaria, e torcia pela sorte de ter um amor tranquilo. Mas mar calmo não faz bons marinheiros, e percebi que precisava de algumas tempestades para me fazer sair da zona de conforto e assim crescer. O que quero dizer é que a gente precisa ter ao nosso lado alguém que desperte aquilo que de melhor há em nós, alguém que nos desafie, nos instigue a ir além. Alguém que nos tire para dançar, mesmo que a gente tenha dois pés esquerdos só porque dançar é bom, mas dançar junto é melhor. Alguém que nos mostre que acordar cedo pode ser uma droga, mas quando temos alguém ao nosso lado para ver o sol nascer pode ser uma droga boa. Enfim poderia dar inúmeros exemplos de "conflitos" que tirariam meu conforto, mas que valeriam a pena abrir mão da minha "tranquilidade". 

Então me desculpe Cazuza mas não quero ter a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida. Mas admito que quero viver o "nós" na batida no embalo da rede, aqueles altos e baixos que fazem a gente se sentir viva, afinal é essa oscilação que nos mantém vivos. Quero viver tendo a sensação de borboletas no estômago e o frio na barriga. Parei de ter medo de enfrentar as tempestades e aprendi a dançar na chuva! 

Para aonde foram as borboletas?Onde histórias criam vida. Descubra agora