|23|: A gota d'água

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"Certas pessoas partem da nossa vida como borboletas após o fim da primavera; que sequer temos a chance de nos despedir delas. "
(Dialectic)


Coréia do Sul, Seul.

Especialmente naquele dia o céu pareceu querer fazer questão de vestir-se com seu manto cinzento, ocultando toda e qualquer beleza luminosa que poderia estar acima ele.

Yura por outro lado, preferiu levar aquilo como um cenário imperfeitamente perfeito para seu estado de ânimo. Não dormira a noite inteira, pois esteve chorando pela morte de SolJi. Era tão cruel e repentino que sua mente quase não se via capaz de captar a realidade e talvez algo lhe faltasse para que pudesse digerir e aceitar o fato de que nada ali se tratava de uma brincadeira de mal gosto. Seu carro serpenteava pelas ruas praticamente no automático, porém estacionou frente ao departamento policial de maneira amarga, se tratava de caótico entrar ali para responder perguntas sobre uma amiga morta, a qual não teve e nunca mais teria a chance de se despedir.

Suspirou quando retirou sua mão de dentro do sobretudo preto para empurrar a porta de vidro do edifício cor pastel, expondo-a ao frio daquele dia fúnebre. Dentro do local e ao passo que caminhava até a recepção passou pelo seu reflexo num espelho, o qual refletiu seu nariz vermelho, a expressão cansada e devastada. Ignorando a imagem horrenda de si mesma, seguiu mais alguns passares sobre os saltos negros, os quais também complementavam seu traje de mesmo espírito, até que se visse frente ao balcão de madeira clara.

- Bom dia, senhorita. No que posso ajudar? - uma policial questionou em meio a um sorriso.

Yura não pretendeu fazer questão de responder ao cumprimento, logo porque seu dia definitivamente não estava bom e nada poderia melhora-lo.

- Gostaria de saber onde fica a Divisão de... - engoliu em seco - Crimes Violentos. - em silêncio questionou-se o porquê de o caso estar numa divisão de nome tão... Vil.

- Terceiro andar, querida. - respondeu sem tirar o sorriso do rosto.

Como resposta, a arroxeada apenas assentiu e seguiu para o elevador. Os segundos usufruídos pela caixa metálica para chegar ao seu destino deram vazão de tempo suficiente para Yu refletir que a última vez em que estivera numa delegacia que fosse, foi aos seus 5 anos, quando precisou depor acerca do acidente de seus pais, visto que também estava no carro. Os policiais acreditaram que havia sobrevivido somente porque a viram; afinal, quais as chances de haver um sobrevivente num acidente onde um carro capota e cai de uma dada altura? Ninguém soube explicar como. Embora, Yura soubesse que se tratava de um milagre.

Com as mãos cruzadas sobre o corpo, seguiu para fora do elevador depois deste ter aberto, revelando diante de seus olhos escuros um ambiente semelhante ao que estivera anteriormente, um corredor mediano separava a caixa de onde saíra recentemente, de um espaço amplo cheio de mesas em suas devidas divisões, as pessoas trabalhavam, documentavam casos e mais casos, decorrentes de diversos pontos da cidade. Perceber que em alguma mesa, um tal policial tratava do motivo de estar ali, lhe causava afiliação. Numa tentativa quase falha de segurar as lágrimas que ameaçaram surgir mais uma vez, voltou a caminhar rumo ao seu destino, sentando-se em seguida numa cadeira vazia existente frente à um policial que parecia entretido com algo no computador. Não fazia ideia se era com o homem que deveria tratar do assunto, mas não viu outra opção.

Pigarreou com o objetivo de ter a atenção do oficial para si, o qual ergueu os olhos e elucidou:

- Bom dia, no que posso ajudar?

Dialectic | ksjOnde histórias criam vida. Descubra agora