ÔMEGA | Contos Do Apocalipse - Livro 1

Capítulo 1

Delence caminhava com o travesseiro na mão e os olhos pesados. Passando pelo estacionamento privado da Hípica Monsueto. Sua mãe vinha logo atrás carregando a bolsa Prada no ombro, e com uma cara agradável. A mãe não era carrancuda, e só mantinha a cara emburrada quando estava sozinha com a filha.

- Senhora Holland – Cumprimentou Harry, o pretendente de Delence. Ele usava uma calça cáqui e uma blusa social rosa-bebê. Ele tinha músculos definidos, além de lindos cabelos cor de mel. Os olhos verdes eram de se admirar. Delence se sentia um pouco incomodada em não poder escolher com quem se casar, mas poderia ser pior.

- Harry, como vai? – Respondeu a mãe, com um sorriso simpático.

- Muito bem e a senhora? – Ele era galanteador. Por mais que também estava prometido a Delence, não se importava em curtir a vida e paquerar outras garotas. Os pais não o proibiam de sair, pelo contrario, ainda o apoiavam e recebiam as namoradas dele em casa.

- Estou bem, obrigada.

- Delence – Ele sorriu sutilmente para a futura esposa, que retribuiu com um pequeno sorriso, tão pequeno que talvez o garoto nem tenha percebido.

Eles entraram no hotel que ficava a frente da hípica. O quarto de Delence e da mãe era reservado apenas a elas. O hotel era tão grande quanto o resto do lugar. As paredes reluziam o dourado dos muitos enfeites. Em uma estante, brilhavam os muitos troféus que os alunos ganharam. Além de ter uma sala de estar maravilhosa, com sofás enormes e macios e garçons oferecendo petiscos e champanhe a todo momento.

A mãe ficou na recepção conversando com os amigos enquanto Delence e Harry se encaminhavam ao quarto. O lugar tinha elevador, mas Delence gostava de subir as escadas, além do mais, os quartos eram no segundo andar.

- Esta bonita hoje, Delence – Sorriu Harry de um jeito doce. Ele era educado com ela. Sempre foi. O fato de que seriam marido e mulher em um futuro próximo talvez o obrigasse a ser gentil. Mas Delence se incomodava com o fato do futuro marido sair com outras meninas e ela não poder fazer o mesmo. A mãe insistia em dizer que ela teria de se guardar para ele, mas ela achava injusto, porque Harry não se guardava para ela.

- Obrigada – Sorriu Delence, sem olhar para o garoto.

Eles eram completos estranhos forçados a ficarem juntos pelos pais. Nenhum dos dois queria se casar, mas nenhum dos dois iria se opor.

Chegaram a porta do quarto dela e com um beijo na mão delicado, Harry se despediu da futura esposa. Ela entrou naquele quarto todos os fins de semana durante todos os seus 15 anos de vida. E ela nunca sentia como se aquele lugar fosse o dela. Ela queria mais que aquilo, mais do que a mãe havia planejado. Mas ela escondia o sentimento tão fundo que as vezes nem ela acreditava que aquilo não era o que ela realmente queria.

A menina se sentou na cama revestida com uma colcha de ceda verde musgo. Ela poderia decorar o quarto como bem entendesse, mas preferia deixa-lo daquele jeito. Ela não queria se sentir em casa, aquele lugar não era a casa dela.

A janela do quarto dava para o pasto, aonde os alunos iam com seus cavalos apenas para cavalgar livremente. Também para o barzinho feito com palha, em estilo havaiano, com mesinhas de madeira polida do lado de fora, aonde os jovens geralmente gostavam de ficar. Delence reconheceu Harry chegando ao bar. Cumprimentou as pessoas galante como sempre. Mas parou na mesa aonde sentavam três garotas. Uma loira e as outras duas eram morenas. Elas sorriram e se levantaram ao ver o herdeiro daquilo tudo. Se cumprimentaram com beijinhos e abraços. Mas, na vez da loira cumprimentar Harry, eles deram um beijo apaixonado e quente. O coração de Delence se apertou. Ela sabia que Harry saia com outras meninas, mas ver aquilo a deixou profundamente constrangida. Ela se sentiu traída.