Capítulo 15

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Abel estava sentada em um dos bancos de concreto tentando digerir tudo o que tinha acontecido. Ela tinha sido sequestrada pela irmã de Ashton, o garoto loiro que sentava com elas na mesa do salão de jantar. Mas a menina era homicida. Abel não chegou a ver o rosto dela, mas pela voz e pelo o que ela disse, parecia mesmo estar falando sério. Se Delence ficasse perto de Ashton, ela se machucaria e levaria Abel com ela. Era muita coisa para entender. E como assim Delence conhecia a irmã de Ashton e não estava surpresa com o jeito que ela enfiou um canivete na coxa dela?

Ela já tinha trocado de roupas e se livrado das cheias de sangue da colega de quarto. Estava olhando para as próprias mãos quando alguém sentou do seu lado.

- Tudo bem? - Alguém disse.

Abel se virou para ver Josh, o amigo de Delence. Ele também era amigo do Ashton, mas Abel achava Josh mais bonito, não importava o que as outras meninas diziam. Mas eles nunca chegaram a conversar de verdade.

- Oi - Abel sorriu.

- Parece estressada - Josh franziu o cenho, observando as feições carrancudas de Abel. Examinando as reações da garota.

- To um pouco cansada - Abel disse.

- Deixa eu adivinhar - Josh riu - Delence Holland?

- Como sabe? - Abel riu também.

- Bom, você e a Delence não foram no café da manhã mas as meninas disseram que vocês ficaram no quarto juntas - Josh deu de ombros - e se formos contar o histórico da Delence...

- Achei que fosse amigo dela - Abel cruzou os braços. Se sentindo mal por falar sobre a amiga.

- E eu sou - Josh disse - Por ser amigo dela que eu a conheço. Sei que ela não faz por mal, mas essa coisa de ela tentar ser melhor que todo mundo o tempo todo irrita qualquer um.

- Ela é assim, mas está tentando mudar, ok? - Abel se levantou - Pare de falar mal da sua amiga!

- Ela brigou com você e você a defende? - Josh pega o braço de Abel.

- Ela não brigou comigo - A garota tenta se soltar, mas ele é mais forte - O que você quer?

- Quero que me conte o que aconteceu com você.

- Me solta, okay? - Abel pediu - Eu não quero falar sobre isso, será que pode entender?

- Claro - Josh a soltou e sorriu - Boa garota.

O garoto bonito dos olhos azuis se afastou deixando Abel sozinha novamente, mais confusa do que antes. O que ele quis dizer com "boa garota"?

Abel estava com medo de ter se metido em uma historia que não teria um final muito bom. Tudo o que ela queria era ser alguém. Ela não estava sendo ninguém ali.

Ela se lembrou de casa, pensando nas três irmãs mais velhas sendo perfeitas sempre e da única irmã mais nova, também sendo perfeita. Elas eram ruivas, como Amália. Tinham corpo definido e voz impecável. Apenas Abel puxou o pai, na palidez, nos cabelos escuros e na falta de talento para qualquer coisa. Bom, pelo que parece, a ômega viu algo nela que ninguém mais conseguia enxergar. E isso encheu a garota de esperanças, que logo foram esmagadas pelas pessoas maravilhosas e talentosas que a ômega enfiou naquele lugar junto com ela. Principalmente no quarto dela. Era complicado viver com todas aquelas meninas, elas chamavam atenção só por existirem. Eram notadas.

Abel teve uma clareza nas ideias, deu um sorriso e levantou decidida.

*

Amália suspirou fundo no café da manhã, era impossível entrar no quarto e não sentir vontade de sair correndo em seguida. Ela já ouviu boatos de que as pessoas morriam de vontade de conhecer o quarto, porque as meninas mais gatas da ômega dormiam juntas. E claro que com toda a sua vontade de se destacar, ela amou aquilo. Mas ninguém enxergava que era horrível. Simplesmente impossível respirar quando estavam todas lá. O ar ficava tão pesado que o corpo se recusava a receber aquilo.

ÔMEGA | Contos Do Apocalipse - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora