CAPÍTULO 43

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— Nigel, não me interessa se eles ainda não têm todas as amostras — Miranda Priestly pontuou impacientemente em um tom baixo de um canto no corredor do hospital. — Dê um jeito nisso — apertou o osso do nariz tentando domar a irritação, enquanto ouvia os novos queixumes do homem. — Repito: Não me interessa. Se houvesse necessidade de eu ter que perder tempo com essas questões, não teria designado você para cuidar delas. Quero ver todas as peças em nossa videoconferência — pausou para olhar o relógio em seu pulso — daqui duas horas. Veja como você está com sorte. Tempo mais que suficiente. Isso é tudo! — desligou o celular, antes que Nigel pudesse reagir.

A editora guardou o aparelho no bolso do casaco, com um suspiro. Quando se virou, ao final do corredor viu uma das enfermeiras vir em sua direção. A jovem tinha no rosto aquele sorriso irritante.

— Senhora Priestly.

Miranda estremeceu internamente ao tom infantil e olhos verdes bobos.

— Pronta para ver suas meninas? — a voz cantada e sorriso meloso.

Miranda resistiu a uma resposta ríspida à pergunta sem noção e limitou-se a um apertar de lábios e aceno silencioso. Não seria sensato fazer inimizades com o pessoal do hospital, principalmente com os que tratavam diretamente de suas filhas. Além disso, vá entender o porquê, mas suas meninas gostavam de Sally.

— Por favor — a jovem loira e rechonchuda agradavelmente pediu indicando o caminho com a mão, e a editora a seguiu resignadamente, pensando que a menina precisava urgentemente de uma considerável perda de peso. Já o seu jeitinho entediante, provavelmente, não teria solução.

Três portas adiante, elas entraram. Havia outro corredor, de cada lado, mais portas. Ao final, uma área de recepção e uma entrada restrita.

— As roupas estão na terceira saleta. O mesmo procedimento dos demais dias.

— Obrigada — Miranda usou sua voz gentil ensaiada, corriqueira em eventos.

Na pequena sala indicada, sobre um banco, a editora encontrou as roupas verdes esterilizadas, protetores de pés, luvas de látex, touca médica e máscara facial, protegidos por um envelope plástico selado a vácuo.

Miranda retirou o casaco e as joias e os colocou no banco. Abriu a bolsa e pegou um saquinho plástico, de onde tirou um par de sapatos baixos e moles, que trocou pelos de salto que usava. Em seguida, usou um dos armários para guardar seus itens descartados.

Assim que terminou de lavar as mãos e antebraços na minúscula pia com o sabonete líquido viscoso e, maravilhosamente sem cheiro, a editora colocou o traje horrendo, mas extremamente necessário.

Mesmo com todo o aparato em casa, as médicas de Miranda foram unânimes em afirmar que, após o transplante, seria mais seguro que as gêmeas permanecessem no hospital. Precisariam de isolamento e as instalações estéreis de lá eram mais bem preparadas.

As sessões específicas de quimioterapia e radioterapia do processo de destruição da medula começaram ainda na mansão, e quando o material do transplante chegou, as meninas foram transferidas. No hospital terminaram esta etapa e receberam a transfusão com as células progenitoras, que circulariam na corrente sanguínea e se alojariam na medula óssea, voltando a se proliferar. O procedimento levaria de duas a três semanas, com as gêmeas internadas em regime de isolamento, à base de dieta especial e rigoroso sistema de higiene.

Durante o período em que se reconstrói a medula, o paciente fica mais exposto a episódios infecciosos e hemorragias. Embora todos os cuidados, esperava-se que as gêmeas tivessem febre ou infecção. Porém, em um ambiente controlado, os médicos acreditavam poder efetuar uma rápida contensão, e consequentemente, não terem de lidar com um quadro mais grave.

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