CAPÍTULO 35

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Miranda Priestly admitia, estava cansada. Muito.

Com olhos turvos ao encarar o teto, ela suspirou internamente. Por mais que ali, no colchão macio e convidativo, enroscada à sua companheira fosse algo tentador, ainda havia medidas a tomar.

Miranda cheirou os cabelos macios de Andrea e colocou sobre eles um beijo suave. Em seguida, com cuidado praticado, retirou o braço da jovem mulher que enlaçava pela cintura e escorregou o corpo fora da cama. Que uma delas pudesse aproveitar para dormir adequadamente. E que fosse Andrea. Só Deus sabia o quanto as infelizes surpresas do dia anterior abalaram a jovem mulher e preocupavam Miranda.

A editora estirou os músculos doloridos das costas e pescoço e foi com passos medidos e silenciosos até o banheiro. Após tratar dos afazeres matutinos, seguiu para a cozinha. A casa estava em silêncio. Normal, era seis e vinte de uma manhã de domingo.

Miranda deu um longo bocejo.

Antes que entrasse em ação, porém, ela precisava ficar plenamente acordada. Na cozinha, a editora fez algo que raramente executava há algum tempo: preparou uma porção de café.

Quando não tinha os préstimos de Carena, geralmente era Andrea quem se incumbia da bebida fragrante. O resultado, sempre louvável. Uma coisa era trazer um café pronto de acordo com suas exigências, outra, fazer um. Andrea era perita em ambos.

O pensamento arrancou um sorriso jocoso de Miranda.

Um tempo depois, a cafeteira fez o seu papel e a mulher pegou a xícara e a levou aos lábios. Café forte, puro e escaldante. Miranda deu um suspiro apreciativo antes de ter outro longo gole. Tão logo esvaziou a xícara, refez o processo. Terminado, ela levou a nova xícara de café consigo e sentou-se num dos banquinhos ao balcão da cozinha. Deu uma bebericada mais comedida e retirou o celular do bolso do roupão.

Apertou a memória do aparelho.

Sorriu maliciosamente ao ouvir o atendimento descontente da voz ríspida de alguém retirado abruptamente do sono.

— Detetive, precisamos conversar.

Por mais que internamente xingasse a mulher de tudo quanto era nome, ele concordou prontamente. Miranda Priestly poderia ser uma cadela tirana, mas pagava assombrosamente bem.

A editora foi objetiva e relatou as novidades quanto à Lillian. Tão logo partira do apartamento da amiga, Sophie havia ligado para Miranda e contado o ocorrido. No entanto, a mulher mais velha ainda tinha suas reservas.

— Bom saber. Mas já ia dizer para você descartar a garota. Consegui uma informação interessante, ontem à noite. Estava esperando uma hora viável para ligar — a voz do homem estava mais desperta.

Miranda ouviu-o atentamente. Ao final, infelizmente, viu-se surpresa, e de forma negativa.

— É uma pessoa muito ligada a nós, detetive... Quero que averigue isso minuciosamente, para que não ocorram injustiças... — seu tom foi firme. — Quero seu parecer o mais breve possível. Isso é tudo — desligou.

Depois de um profundo suspiro, Miranda passou uma mão pelo rosto, num gesto desolado. Embora esperasse o pior das pessoas, tal revelação realmente a deixou passada. Por enquanto, não contaria nada a ninguém, incluindo Andrea. Não magoaria sua família por conta de algo ainda em investigação.

Miranda deu um novo suspiro e quadrou os ombros. Novamente pegou o celular, e após a memória do aparelho chamar pelo número, foi respondida por Leslie Walton, a sua Relações Públicas.

Apesar de também acordada por Miranda, diferente do detetive, Leslie atendeu-a cordialmente e em alerta. Afinal, em sua maior parte, seu trabalho era lidar com problemas, e eles não tinham hora para acontecer, e sempre pouco tempo para minorações.

Pedido InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora