Capítulo 4

0 2 0
                                    

UM MÊS DEPOIS

Hoje acordei com uma súbita vontade de escrever algo diferente, algo que me encha a alma, e não apenas noticias que por vezes parecem mais coscuvilhice do que noticias. Pego então no portátil e começo a escrever. Não sei porque mais a única coisa que consigo fazer é descrever aquela noite que passei com o Lucas. Talvez porque nunca mais o vi, ou porque aquilo foi uma loucura que mais pareceu um sonho. De qualquer forma, é algo não irá acontecer de novo e que eu necessito de apagar da minha memória.

-Bom dia amor.- diz-me Mateus com uma bandeja na mão.

-Hoo, que querido. -dou-lhe um beijo na bochecha. -Não precisavas.

-Eu gosto de fazer mimos a minha namorada, que espero que em breve possa chamar de noiva.-agarra a minha mão

-Eu já te disse que ia pensar no assunto, só estamos juntos á duas semanas.- digo largando a sua mão

-Mas eu já te expliquei, nós conhecemo-nos já á mais de 3 anos, e estamos apaixonados á imenso tempo. Só que só admitimos á pouco tempo. É como se estivéssemos juntos á muito.

Eu não concordo propriamente com isso, nem sei se estou apaixonada por ele, mas tenho medo de o magoar. Mas também, como é que eu posso aceitar casar com alguém, se só consigo pensar noutra pessoa.

-Lucas!

Neste momento a minha pele arrepiou-se. Será que estava a pensar em vós alta? Será que ele sabe o que aconteceu? Eu não contei a ninguém, mas eles também eram bons amigos.

-O que é que tem o Lucas?- pergunto tentando esconder o nervosismo.

-Aquele burroacabou de deixar escapar uma rapariga linda e perfeita para ele.

-Como é que sabes?- a curiosidade despertou

-Porque  fui eu que os apresentei e ela mandou-me mensagem a dizer que ele não quis nada com ela. É mesmo burro. Já não o vejo com ninguém já para aí 2 meses. A ultima vez que ele esteve com alguém, foi mais o menos quando se conheceram.

Quando nos conhecemos? Eu não diria que ele não esteve com ninguém um mês antes de mim. A forma como me tocou, não foi de um inexperiente. O meu corpo começa a arrepiar.

-Sabes eu acho que ele é gay.- diz-me Mateus com ar sério

-Gay?- acredita em mim, ele NÃO É. Tenho provas disso- Achas mesmo?

-É a única explicação para não ver alguém como ele com uma rapariga. Até te digo mais, acho que ele está apaixonado por mim.- 

O meu coração parou neste momento. Apaixonado por ele? Mas que raios? Ou ele é estúpido ou só pode estar a gozar com a minha cara. Dá para perceber bem que o Lucas nunca na vida deixou escapar um rabo de saias. Por amor de Deus, nem eu consegui escapar.

-Não olhes para mim com essa cara. Lembras-te na gala, há um mês?- se não me lembro, é a única coisa em que penso ultimamente, mas digo que sim com a cabeça.- Ele, nesse dia, primeiro não te queria levar, depois passou a noite toda estranho, sempre a olhar para nós os dois.

-A sério?- será que ele está a falar a serio? Será que naquela noite ele estava com a mesma vontade do que eu? Bem, vontade tinha de ter, mas sempre achei que fosse por ter sido apanhado no momento, talvez ele quisesse desde que me viu naquele vestido.

-Sim a sério.

O telemóvel dele toca. Ainda bem, porque assim acabou com esta conversa sem pés nem cabeça. Tenho a certeza que se naquela noite ele estava a olhar para nós era por minha causa, não dele.

Já faz duas hora que estou sentada no sofá, com o portátil nas pernas tentando escrever. Parece que nada me sai. Quando começo a escrever acaba sempre por ser o mesmo "Quando senti suas mãos desapertarem-me o vestido e entrarem por ele até me agarrar a cintura...". Não posso continuar assim, agora tenho um namorado, do qual eu gosto, e não posso nem quero continuar a pensar em alguém que não foi capaz de me ligar ou mandar uma mensagem.Levanto-me e vou a meu quarto, mudo de roupa e saio para ir fazer compras. 

O mercado estava cheio como sempre. De um lado só se vêm mais atarefadas com a lista de compras e com os filhos irrequietos, de outro, adolescentes que provavelmente frequentam as faculdades aqui próximas e que aproveitam as tardes livre para umas compras rápidas e baratas. Depois existem as pessoas como eu que tem todo o tempo do mundo. Mesmo depois de ter voltado ao trabalho, continuo a ter imenso tempo livre, tempo esse que costumo ocupar com a minha irmã, ou o livro que sempre quis escrever. Hoje escolhi tempo com a irmã.

-Deixa-me ver se percebi. Tu dormiste com uma pessoa que dizias não gostar nada. Depois como ele não te contactou no espaço de uma semana, decidiste dar uma chance ao Mateus.

-Sim é exatamente isso.

-Tu és doida? Se continuas a pensar nesse tal Lucas, é porque talvez não gostes do Mateus.

-Tens razão Clara. Eu não posso continuar a magoa-lo assim.

-Pois não, devias deixar a porta aberta para quem realmente goste dele.

-Naão!-grito num tom de admiração e felicidade- Tu gostas dele.

-o que? claro que não.

-Não me mintas. É escusado, eu vou acabar com ele. Podes admitir.

-Eu não vou estar com alguém que primeiro esteve com a minha irmã.

-Primeiro, não tem mal, eu não sinto nada por ele. Segundo, nunca chegamos a vias de facto...

-Ó meu Deus, não precisava de ouvir isso- reclama ela a rir-se

Ficamos horas a conversar sentadas no chão da minha sala enquanto comia-mos chocolate. Falamos sobre tudo e mais alguma coisa, sobre o Lucas, sobre o Mateus, sobre o meu livro... No meio de isto tudo o único assunto que me fazia confusão era o nome Lucas, não paro de pensar porque é que ele não ligou? Terei sido eu tão horrível? Pensei que o facto de ele ter ficado durante a manha a ajudar-me tivesse sido um bom sinal. Talvez ele só quisesse dormir comigo mais uma vez antes de desaparecer da face da Terra.

"-Então já te lembraste de tudo?-diz-me num tom de troça.

-Não gozes. E sim- digo mordendo o lábio- Já me lembrei de tudo.

Aproximei-me devagarinho dele. Sentia-o a duvidar se devia-mos, mas eu continuava a aproximar-me lentamente. Ele agarra-me a cintura e beija-me. Um beijo suave e ao mesmo tempo intenso. Começa a desabotoar-me a camisa e deita-me mesmo ali no sofá. Por vezes ele parava e olhava-me nos olhos, talvez em busca de aprovação, eu sorria e ele voltava a beijar-me, os lábios, o pescoço, o peito, todo o corpo."

Mais Do Que Uma AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora