As pálpebras pesadas e sonolentas caíam por cima das olheiras. O homem de casaco preto tentava esconder um bocejo por debaixo da figura triste que sua imagem criava.
O sol pairava pelo horizonte, indicando que era hora de dormir. Enquanto isso, o homem se entristecia cada vez mais, porque sabia que a noite estava apenas começando.
Faminto, assim que terminasse o expediente, a primeira coisa que faria seria devorar algo com muito açúcar. Felizmente, não sofria de diabetes. Não precisaria de mais problemas.
Sua função ali não poderia ser mais simples. Pegue um papel, carimbe e arquive. Não faça perguntas, não questione ou vire a cabeça se não para pegar mais uma folha de papel.
- Será que eu fui bem claro?
- Totalmente, Senhor Oldman.
- Francamente, preciso de homens para fazer análise forense, não de crianças brincando de ser Holmes.
A imagem do senhor Oldman não era das melhores para se ter à noite. Com mais ou menos seus cinquenta anos, sua cabeça perdia os cabelos do topo, revelando manchas claras pela pele da careca. Aos lados da cabeça, o cabelo começava a pratear, mas ainda havia resquício do que havia sido um tom enegrecido.
Sua postura ainda devia ser algo com que se orgulhava, pois, o peito estendido para a frente o fazia sorrir pretensiosamente sempre que olhava para o pequeno Holmes, revelando um ex-combatente de guerra que agora trabalhava na polícia com grandes 1.70m de puro egocentrismo. As roupas, tradicionais. Social, trocando o cinto por suspensórios, já que não gostava de fivelas brilhantes, mas sim de elegância, agora que possuía o cargo de delegado.
Fora da delegacia, dezenove graus. Os dentes sempre batiam quando o vento rodopiava em volta do corpo. Mais e mais suspiros, demonstrando que o dia não tinha sido dos melhores.
- Precisa de café?
Foram três segundos até a resposta. Newman estava ao seu lado, já conhecendo seu colega.
- Um cappuccino com chocolate extra e coco, por favor.
- Dieta de engorda? - Ele riu de leve, mas concordou e pôs-se a andar.
Ao ver-se pelo reflexo da janela, viu o corpo cansado de um velho, apesar dos vinte e sete anos. Alto e grande, tinha 1.80m de pura insegurança. Seus cabelos haviam sido raspados, em um corte sem qualquer cuidado, deixando pequenas pontas de um suspeito cabelo castanho escuro. A barba tampouco sobrevivera. Havia sendo feita sempre que os fios tentavam respirar para fora da pele e a única desculpa para tal genocídio era que ficava desleixado. Talvez tivesse orgulho dos olhos verdes. Achava-os bonitos, mas sabia que também eram janelas da alma e aquele corpo já não havia mais tal regalia.
Poucos minutos depois, Newman entrou na delegacia novamente, com dois copos de plástico e uma caixa de donuts. Sem ao menos perguntar, colocou levemente os pertences à mesa e convidou o amigo para comer.
- Você tem ido ao médico, Rafael?
Rafael. Pareciam ter passado séculos desde que o chamaram pelo nome novamente.
- O doutor Sigma...
- Aquele cara?! Já falei pra esquecê-lo, não é bom sujeito. Tá querendo o seu dinheiro apenas.
- Mas eu não tenho outro lugar pra ir.
- Você tá é com medo de encontrarem uma solução pros seus problemas. Já te falei, Rafael, assim que o Oldman se aposentar, um de nós vai conseguir o cargo de delegado e precisamos estar bem.
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Tem alguma coisa no Escuro?
Mystery / ThrillerDono de uma mente nociva e repleta de questionamentos, Rafael se levanta mais um dia para continuar em seu estágio no departamento de polícia. Sua roupa desgrenhada e sem muito brilho revelam que sua personalidade é de alguém descuidado e a beira da...