Capítulo 7: Torta de creme

5 2 0
                                    

O velho apartamento trinta e três continuava a chamar pouca atenção no corredor do prédio dez da rua dez. Tinha consigo uma linha tênue entre abandono e caridade, pois era pequeno e humilde, velho e desgastado, mas era aconchegante. Quem fosse que entrasse, recebia a hospitalidade de um singelo apartamento.

Rafael apanhava o molho de chaves e abria temeroso, relutante se Morpheus estaria bem. Engolia em seco, pensando se o gato estaria com fome ou até mesmo preocupado com seu sumiço repentino.

Ouviu um miado fino, seco e longo, como se a criaturinha estivesse com sede. Viu Morpheus então se esgueirar pela porta para encontrar o parceiro.

O gato era jovem, com menos de um ano de idade, mas já possuía um tamanho relativamente grande. Rafael sorria envergonhado, sabendo que havia vacilado. Levou o gato ao colo, pedindo a Santos que trancasse a porta.

A primeira coisa que fez foi pedir desculpas pelo sumiço. Prometeu a si mesmo que compraria um alimentador automático assim que tivesse tempo. Acariciou o gato mais um pouco e o devolveu ao chão. Morpheus miou novamente e Rafael entendeu que era por comida.

- Santos, só um instante. Preciso dar comida pra ele. Deve ter algo pra beber na geladeira. Eu não bebo, mas deve ter algum suco ou refri. Pode pegar lá.

- Obrigado, estou bem. - Ela sorriu tímida.

- Vamos lá, Morpheus. Hora de comer!

Deu passos leves pelo chão, esperando não incomodar a parceira. Morpheus, por outro lado, miava cada vez mais ao ver que seu amigo estava com a pote de ração em mãos.

Abaixando-se, acariciou a cabecinha sem pelos do gato e entregou sua comida e sem pensar duas vezes, o gato se entregou as delícias que tanto implorava.

O gato agora passaria longos minutos comendo e isso daria a Rafael mostrar o apartamento velho para sua colega. Sorriu com vergonha, mas disse mesmo assim:

- Bem-vinda ao meu lar.

Ninguém riu, pelo contrário, ficaram muitos sérios. Olhavam um pro outro. Santos caminhava pelo local e agora via melhor as coisas.

Por trás da porta do apartamento trinta e três haviam poucas coisas para se ver. Uma sala pequena sem paredes que dividissem a cozinha. A sala de estar possuía uma um sofá se dois lugares, uma mesa de vidro e uma televisão de vinte polegadas. Na cozinha, um cooktop barato, um forno sujo, uma geladeira barata e a dispensa com seus alimentos. No banheiro, havia uma banheira que a muito tempo não era usada, só precisando do chuveiro à gás.

Por fim, o quarto de Rafael tinha uma cama de casal, uma mesa com um notebook e alguns livros empilhados no chão. Não era nada comparado à casa de Santos, mas Rafael sabia que tinha suas coisas tinham charme. Ele agradecia pelo pouco conquistado, mas gostaria de ser mais do que um minimalista.

Depois de ver tudo, Santos o observava, ainda sem dizer uma palavra. Rafael esperava alguma crítica, alguma palavra, mas tudo que aconteceu em seguida foi ver Santos ir até o quarto e tirar a camisa, revelando os seios novamente. Rafael engoliu em seco e se preparou para foder de novo. Quanto tempo demoraria para enlouquecer novamente então?

Santos deitava em seu corpo ainda um pouco pensativa. Seus cabelos amorteciam sua cabeça e Rafael acariciava seu braço.

- Eu sou ninfomaníaca. - Ela disse seca.

- Isso quer dizer que somos amigos coloridos agora?

- Não, não somos.

- Você dorme com vários homens então?

- Não é de aparecer muitos caras para transar. Eu me masturbo mais do que transo.

Silêncio.

- Não precisa ter vergonha, é natural.

- Eu sei que é, só não tenho costume de falar sobre isso.

Mais silêncio.

- Por que você me contou isso?

- Achei que seria bom compartilhar algo com você. Agora é a sua vez.

Rafael parou por alguns instantes, procurando na mente algo que pudesse revelar que tivesse preciosidade como aquilo. Ser esquizofrênico era a única coisa grande que tinha pra contar, mas como ela já sabia disso, só restava uma coisa pra contar.

- Fui indicado à vaga de Delegado.

Se Rafael não havia prestado atenção na respiração de Santos, agora prestaria na falta. Ela deixara de se mover por alguns instantes antes de falar.

- O que você disse? - A voz parecia ter muita dúvida.

Santos virou o corpo ao botar a mão na cama e o observava com um tom enorme de surpresa no rosto.

- Oldman me indicou a vaga de Delegado. Só preciso confirmar com ele...

- Quer dizer que você aceitou? - Ela o interrompeu.

- Eu poderei ser Detetive assim...

- Você aceitou? - Interrompeu mais uma vez, agora impaciente.

- Sim...

O olhar pareceu morrer ao vento. O tom de surpresa emudecera na vista e a calma voltou a tomar conta do corpo. Ela, por fim, sorriu.

- Meus parabéns, bonitão.

E começou a descer pelo corpo de Rafael, pronta para fazer um novo agrado.

Tem alguma coisa no Escuro?Onde histórias criam vida. Descubra agora