Capítulo XVI : 30/06/2017

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Data: 30 de Maio de 2017

Eu ouço gritos por todos os lados, as pessoas falam, gritam, gemem, estão todos querendo falar, e eu não consigo nem mais escutar minha própria voz, todos estão desesperados para ser ouvidos mais não tem ninguém ouvindo.
Hoje eu acordei em casa, a cada dia que passa eu tenho mais e mais delírios e alucinações, meu diário acabou se tornando uma loucura, algumas partes foram rasuradas e outras estão cheias de palavras sem sentido.
Olívia, a enfermeira que cuidou de mim ficou na minha mente, eu não sei se eu realmente fui para o hospital e conheci ela, ou foi apenas mais um dos delírios que assolam minha mente.
  Eu não aguento mais, eu não quero mais viver, minha alma anseia pela morte, pelo doce beijo da eternidade, eu estou vivo, mas agonizo em direção a morte.
  Eu estou em minha casa, apenas iluminada pela luz do pôr do sol, o ritmo da música cubana flui pelas paredes do meu apartamento, um ambiente interessante de fato, me faz relembrar as coisas que aconteceram na minha juventude.
Eu criei diversos personagens, personifiquei vidas, incorporei almas, cenários, e todo tipo de coisa, vivi períodos de revolução, lutei por renovação, mas hoje estou em decadência, já não acredito mais com tanta veemência em ideologias e nem mesmo em religiões, mas meus personagens sim, e é isso que torna esta bagunça mental tão interessante.
Este diário é uma merda, no fim, só servirá com aperitivo para as baratas que habitam por esse apartamento.
Eu lembro que quando eu era mais novo, um amigo meu me emprestou um livro chamado "O Diário de Anne Frank", foi bem interessante a forma como aquele livro me atingiu, ela está morta, mas ao mesmo tempo viva nas memórias daqueles que nunca chegou a conhecer, da mesma forma que eu estou hoje, eu vivo, por entre cada letra, por cada poesia escrita neste diário, creio, que se alguém algum dia ler estes escritos, eu já estarei morto, mas renascerei dentro daqueles que me renovam ao ler cada palavra minha.
Eu não acredito em Deus, mas acredito em viver a vida, acredito em aproveitar cada piscada de olho, cada molécula de oxigênio que entra pelos pulmões, cada orgasmo proclamado em nome do prazer.
Assim como Maria, eu não suporto mais isso, acredito que está na hora de por um fim em tudo isso, posso estar alucinado, delirando, mas é isso que eu me tornei.
Então como um poeta morto, que delira por entre as palavras deste diário, deixe-me lhe dizer uma coisa: Apenas viva!

                     "Carpe Diem"

Delírios de um morto poetaOnde histórias criam vida. Descubra agora