5 - A Noite Que Foi Longa Ψ

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Quando segurei sua mão, ela estava fria. Somente agora, observando bem, que havia percebido que ele tinha a pele tão alva quanto o normal. Nossas mãos se tocaram e foi como se o mundo ao nosso redor tivesse sumido, eu não sei explicar muito bem, mas algo dentro de mim estava diferente. Seus lábios se abriram em um sorriso largo e ele me puxou em direção a porta do meu quarto. Em seu outro braço, havia uma caixa de discos de vinil e estávamos indo praticar sua diversão favorita.

Acertar bêbados na saída dos bares.

[...]

Cambaleante, o homem soltava a porta do bar. A barba gigante, um semblante malvado e colete de couro preto, ele aparentava ser algum motoqueiro.

Estávamos sentados em um telhado de uma velha casa apagada próxima daquele bar, provavelmente os residentes já estavam dormindo. O demônio ruivo ao meu lado disse que aquele é o seu lugar preferido para acertar alguns bêbados e não era apenas por ser de frente para a saída do bar, segundo ele, o vento ali era ótimo e ajudava quando ele lançava o disco.

— Se liga. — Jimin chamou minha atenção.

Segundos depois já estava o disco de vinil no céu, voando. Após ser lançado com muita força, acabou acertando a cabeça do homem.

— Foi certinho! — Pude ver seu sorriso largo após conseguir.

O homem gritou resmungando enquanto olhava para os lados à procura de seu agressor.

Fiquei observando-o por um tempo. A jaqueta preta aberta, os cabelos um pouco bagunçados, suas pernas balançando e em seus lábios um sorriso descontraído, sincero. O que levou uma pessoa dessas a entregar sua alma ao inferno? Isso me intrigava e muito. Ele era lindo, parecia ter sido uma ótima pessoa em vida pelo seu carisma, simpátia. Tá certo que em certos momentos Park Jimin é um saco, mas, ele não aparentava ter sido ruim em sua jornada na terra.

Após sua risada cessar, meio receoso, ousei perguntar.

— Jimin, como você se tornou um demônio?

Seu semblante mudou. Ele que já estava com um outro disco de vinil nas mãos pronto para acertar outro bêbado, deixou então o objeto ao seu lado. Encarou o nada por alguns instantes antes de se virar e me olhar, ele juntou as mãos antes de se pronunciar.

— Por quê quer saber? — Jimin brincou com a língua dentro da boca após perguntar.

— Porque você parece ser tão legal. Quer dizer, por quê entregaria sua vida ao inferno? — Ele riu baixo após escutar minha resposta.

Após rir, Jimin ficou quieto por longos minutos e durante esse silêncio fui me arrependendo de minha pergunta. Ele deveria ter ficado desconfortável ou talvez até triste comigo, talvez o motivo fosse até doloroso demais a ponto dele não querer lembrar nunca.

— Eu não tinha nada melhor para fazer.

Hã?

— Que? — O encarei incrédulo não acreditando em nenhuma das palavras que saíram de sua boca.

— Como assim "que"? — Jimin olhou-me como se fosse completamente ridículo da minha parte não entender suas palavras.

— Ué, você simplesmente acordou e decidiu "Ah, eu não tenho nada melhor para fazer hoje, vou entregar minha alma a algum ser infernal"?

— Não foi bem assim. — O demônio voltou a encarar o nada. — Eu era filho de um imperador, minha vida já era um inferno. Então pensei: "Ah, não faria muita diferença mesmo viver com meu pai ou no inferno, pelo menos lá vou poder fazer o que eu quiser."

Como Se Livrar De Um Demônio Apaixonado, Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora