§ Capítulo seis §

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Karol


Asco.

Ando até onde ela está relutantemente.

— Trouxe o que eu tinha.— Estendo o dinheiro para ela.

Ela começa a contar de forma bem lenta, segurando com a ponta dos dedos, como se tivesse nojo do meu dinheiro. Todas às vezes ela faz dessa forma.

— Ninharia. Você está brincando comigo? — Ela enfia no top brilhoso que veste o meu dinheiro suado. Nessa hora ela se esquece de sentir nojo.

— Eu sou assalariada e ainda ajudo os meus avós, o que você esperava? — Nem sempre consigo controlar meu temperamento com ela, por mais medo que tenha do que ela possa fazer com os próprios pais.

— Emprego medíocre.

— Pelo menos é honesto.

— Poderia te arrumar um emprego aqui. Por que você não vem trabalhar com a mamãe? Gosto de ter todos os tipos de mulheres no cardápio e estou com falta de gordas.

— Dispenso. — Ela sentia o prazer de me cutucar, seja quanto ao meu corpo, meu trabalho ou minhas escolhas em geral. — Se é tão pouco, por que continua insistindo em receber migalhas de mim?

— Simplesmente porque eu posso. Além disso, sou uma ótima mãe, preciso estar por perto. Algum pagamento por ter te carregado é mais do que merecido. Você devia até pagar por dois... — Gargalha.

— Fiz a minha parte. Vou embora agora.

— Quero mais semana que vem. Se empenha um pouco mais no seu serviço de merda para tentar dobrar isso aqui. — Ignoro e pego o celular para chamar outro carro. — Você acha que algum carro vai vir receber chamada daqui a essa hora? Tão inocente. — Ela se aproxima e dá duas batidinhas no meu rosto, depois me segurar pelo queixo.

— Nunca vim tão tarde aqui.

— Se tivesse atendido desde que liguei a primeira vez, teria vindo de manhã. Você só me dá trabalho. Como boa mãe, posso providenciar uma cama para passar a noite em minha humilde residência.

Olho pela porta para dentro do bordel que ela chama de casa. Vejo algumas mulheres nuas dançando num palco decadente e homens se esfregando a outras.

— Prefiro ir andando ou dormir na rua.

— Como quiser, querida. Poderia até arrumar algum desesperado para fazer a caridade de te comer, pelo menos aqui poderia ser numa cama. Você andando pelas vielas do morro até sair daqui, pode correr o risco de qualquer um te atacar.

Dou as costas para ela e começo a andar pela rua. A essa hora nem moto taxi vi rodando quando cheguei.

A cada passo seguro a vontade de chorar. Ouço quando ela ri e diz que vai pagar uma rodada de bebida para os capangas, pois havia acabado de conseguir uma grana fácil.

Assim que entro numa curva, vejo uma moto se aproximando lentamente. Logo me lembro de ela falando de alguém me fazer mal em alguma viela. Já havia enfiado meu celular dentro da calça. Só tinha ele, minhas chaves e dez reais.

Sigo andando e olhando para baixo.

— Sobe, Karol.

Nem acredito quando vejo o Igor.

A doçura de um encontro-Trilogia Elos Perdidos-Livro II- DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora