§ Capítulo um §

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Karol


— O que vai ser hoje? — Questiono mesmo já sabendo a resposta. Aquela troca azeda com o senhor Roberto já era de praxe.

— O mesmo de ontem, antes de ontem, do dia anterior e desde que você começou a trabalhar aqui. Não sei a razão pela qual ainda insiste em perguntar. — Recebo uma revirada dos seus olhos e sigo em direção à máquina de café expresso.

Trabalho na Padaria Pão Doce desde antes de completar a maioridade como ajudante ou quebra galho quando alguém faltava. Assim que completei dezoito anos, ganhei de presente minha carteira de trabalho assinada e não poderia estar mais feliz.

Desde muito cedo tive que começar a ajudar os meus avós com as despesas da casa. Sempre fomos apenas nós três contra o mundo. Quando percebi que as aposentadorias deles já não estavam dando conta das despesas da casa, médicos e medicamentos, resolvi sair procurando algo para fazer depois da escola que rendesse algum dinheiro para ajudar.

Eles demoraram a aceitar isso, diziam que era obrigação deles me sustentar e não deixar que me faltasse nada, mas não via as coisas assim.

Dei sorte que quando parei aqui na padaria para comprar uma água para continuar minha busca por algum serviço, dei de cara com uma placa procurando um faz tudo. Prazer, sou a faz tudo, e de lá para cá, não saí mais e nem pretendo.

— Seu café expresso e seu pão na chapa. — Estendo o café da manhã para o senhor Roberto e recebo um grasno. Entendo-o como o seu "muito obrigado, adorável menina". — De nada. — Balbucio e vou atender ao próximo cliente.

A parte da manhã é o horário de maior movimento aqui na padaria. Muita gente indo para o trabalho, outros solitários que não curtem fazer café da manhã só para uma pessoa e idosos que moram sozinhos que adoram vir "passear" e encontrar os amigos para bater papo.

— Karol, você poderia repor os bolos nas prateleiras, por favor? — O Manoel, meu patrão, que detesta ser chamado de senhor, questiona lá do caixa.

— Claro.

— Obrigado, menina. — Acho que nunca vou crescer para ele e a Tereza.

Eles me acolheram bem novinha quando estava precisando muito e há pouco tempo demonstraram o quão real é a preocupação que tem comigo ao me estenderem a mão quando precisei de abrigo. Estou morando no quartinho nos fundos da padaria e não tenho a menor previsão de sair de lá. Eles chegaram a me oferecer um quarto na casa deles, mas, como não aceitei, começaram a ajeitar o quartinho com televisão, uma cômoda e um colchão novo, sinal mais do que claro de que só querem me ajudar.

Nunca poderei agradecer o suficiente. Eles falam que não precisam de agradecimento, pois me tem como uma filha muito querida.

Minha vida é bem comum, ou pelo menos era assim que eu pensava. Nunca conheci meu pai, minha mãe saiu de casa nova, só voltou para me largar com os meus avós e deu no pé novamente por algum tempo.

Não gosto de falar e nem pensar nela, pois atrai e ela sempre acaba voltando. Esse é um segredo, um fardo que carrego sozinha e acho que nunca vou conseguir me livrar dele.

Enfim, voltando ao ponto familiar. Há alguns meses um investigador me procurou alegando que havia sido contratado por um homem que queria saber sobre o meu paradeiro. Só que não parou por aí, no mesmo dia conheci uma mulher que dizia ser minha irmã.

A doçura de um encontro-Trilogia Elos Perdidos-Livro II- DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora