13º Cap. Uma Paulista Chamada Avenida

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Ou é uma menina chamada Paulista? Isso, uma garota t#anfusa, agitada, que brilha nas retinas dos paulistas, dos ecolá aos arigatô. Uma avenida tão dialética que, na hora do rush , as pessoas que vão a pé andam mais rápido do que as que vão de rodas. Homens, mulheres e minorias andam sobre seu ventre moreno, cospem em seus poros e excitam seu corpo exposto, faça chuva, faça sol. Na cabeça, a mentalidade dela: A SEARS. Uma menina muito consumista, cheia de coisas, mas fraca de conteúdo. Nos pés, a decadência, o Ponto 4, mosquito e mosqueteiro. No centro, bem no centro, ali ó, a região pélvica. O Trianon plumoso, suas babás sensuais, velhos, bichas, meninos e meninas saindo do Dante, pipocas com cocotas, bobocas como eu, moços bons para dar uma bola, árvores tão densas que não dá pra jogar bola, cheirar cola, coca-cola, kibom. Tá bom.

É o centro nervoso do capital Brazil (com Z). A cidade e sua função. As células são impressas em Brasília, cheias de demagogia, pensando assim: ó, como somos importantes. Mas é aqui, mais especificamente na Paulista, que elas são devoradas, selecionadas e guardadas nos subarranha-céus bancários. Chegam cheias de panca, são trocadas por letras de câmbio, ações, juros e correção monetária. São Paulo empapela o país. Santos é diferente: traz e manda. Conhece Santos? Aquele mar marrom com manchas de petróleo brilhando, aquela areia cinzenta com ossos de galinha e garrafas de cuba-libre vazias. No horizonte uma infinidade de navios cargueiros, lado a lado, esperando a oportunidade de desembarcar contrabandos, marinheiros e suas gonorréias. Ia ser ridículo se o mar fosse azul-claro com areias brancas, coqueiros e, no fundo, veleiros e jangadas em busca do sol.

Em cada cem habitantes paulistanos, quinze são viciados em fliperama. E a cidade da máquina, do digital, da tomada. Meninos e meninas, velhos impotentes, a Paulicéia delira apertando botõezinhos, fazendo a bolinha subir. E ela sobe, derruba um "extra" e sobe outra. Não deixa ela cair, ô cara, cuidado com o "tilt". Mostre pra máquina que você é mais máquina do que ela. Na Avenida Paulista tem um fliperama gigantesco. E o Diversões Eletrônicas Curso Objetivo. Só que não tem bolinha, não. E gente, isso, gente que sobe, derruba um "extra" e desce. Esse "extra" é mais difícil. E a contradição do sistema, onde os felizardos serão os futuros infelizes desta mal-educada nação, pobre problema que não depende da magia da avenida. E é com má educação que o paulistano não respeita os black postes da menina. Todos forrados de cartazes: vende-se, show, luta, eu quero ser alguém. Mas essa sujeira eu até acho uma boa, e a menina também gosta. O mundo precisa de manifestos, de letras, de apresentações. Pô, ele nos dá tanto de graça e de inspiração, por que nóis vai ficá parado, hein? Beijos para o mundo, beijos para Porto Seguro, para Arembepe, para a Avenida Niemeyer, para o Maracanã. Beijos para a Ponte Preta, para o Comando Vermelho. Força aí, Comando, o povo brasileiro está na sua luta. Por melhores condições de assalto a banco, abaixo os alarmes, mais dinheiro, menos vigilantes. Encoste a arma no gerente e diga:

- Eu não quero te machucar, só quero a grana do teu patrão.

Depois, venha gastar conosco da classe média, num barzinho da Henrique Schaumann, compre um Passat, vista um belo jeans, paquere uma mina d'Augusta, sente-se e tome umas e outras conosco. Quem sabe até fumaremos um ?

Hoje li no jornal que vão pôr uma antena de duzentos e setenta metros na Paulista. Nada mau, se pensarmos que a Torre Eiffel tem trezentos e poucos metros. Já pensou como vai ser mais fácil se suicidar? A ponte Rio-Niterói vai fechar as portas. Vai ter fila para se atirar lá de cima e beijar o corpo da menina, se espatifando numa velocidade aproximada de 310 quilômetros por hora. Ufa, já imaginou que pau? A menina vai-se deliciar com as cosquinhas que esses suicidas vão fazer na pele morena dela...

Minha mãe trabalha na Avenida, no tal de World Trade Center. Bonito, né? Chique, até vou repetir, só que agora com a língua bem enrolada: WORLD TRADE CENTER. É o primeiro prédio, quase esquina com a Rebouças; O engraçado é que, em dia que faz calor, ninguém consegue trabalhar. Se abrir a janela, é por causa do barulho; se deixar fechada, morre-se sufocado. Não falei que é uma avenida dialética? Outra vantagem de trabalhar nesse prédio é que no décimo andar funciona o Consulado Americano. Assim, quando algum boy estiver com preguiça, é só ligar pra lá e avisar sobre uma suposta bomba que tenham colocado em protesto contra o imperialismo yankee. A polícia chega em poucos minutos e evacua o prédio. Fica todo o mundo na calçada tomando picolé. No mundo dos negócios isto se chama "que aperto". Dá-lhe menina, dá-lhe minha amante. Beijos na sua calçada deste cara que admira você.

Feliz ano velhoOnde histórias criam vida. Descubra agora