14º Cap. PUC

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Num carro, íamos eu, a Gorda e Nana. Noutro, ia outra turma. O cinema era longe pacas, lá na Penha, no final da marginal do Tietê. Antes de chegarmos, rolou um. Fiquei meio em dúvida, mas tudo bem. Era um dia jóia e tava com gente mais jóia ainda. Fumei e fiquei bobão. Olhava pro rio poluído e cagava de rir. Sei lá do quê, apenas ria.

O cinema era uma tremenda abobrinha. Autocine Chaparral, todo no estilo Velho Oeste. As mocinhas garçonetes vestidas de chapéu, roupa de couro e até revólver de brinquedo na cintura. O filme: um tesãaao. Um dos melhores filmes que vi em minha vida. Uma tremenda história de amor alucinógeno.

Voltando pra casa, tinha uma multidão me esperando. Era sexta-feira e o ponto de encontro pra se partir pras festinhas tinha virado o meu quarto. Entre as pessoas estava a Marcinha, a loirinha que era minha namorada, e estava viajando, e não era namorada, transa, amizade colorida, sei lá.

A loirinha Marcinha começou avir bastante em casa. Ela estudava de manhã na PUC (Sociologia), à tarde trabalhava numa lojinha da Augusta e, como morava a duas quadras daqui, jantava e ficava até eu dormir. Vinha por causa da Big, dos meus amiguinhos e, claro, por minha causa. A gente trocava altos livros. Adoro mulheres que lêem muito, e ela é uma dessas. Quando menina, achava-se feia, quase nunca tinha namorado, então lia adoidado. Hoje em dia, apesar do fã-clube, continua lendo. Dei pra ela ler o Apanhador no campo de centeio, que achava a cara dela, mas ela não gostou.

Um dia, ela ficou me olhando, passando a mão na minha cabeça e me deu um beijo. Colocou a boca, foi abrindo devagarinho e deixou eu pôr a língua. Sutilmente ela também me lambia. O beijo demorou e foi uma delícia. Não entendi. Voltamos a namorar? Ou foi só demonstração de carinho? Muita gente tinha carinho por mim, mas ninguém me beijava assim. O que essa gracinha vai querer com um fenômeno de vitalidade física como eu ? Sei lá. Também não fiquei muito encanado, mas seria jóia namorar essa loirinha.

E foi o que aconteceu. De tarde eu ligava pro trampo dela, e ficávamos titiricando pelo telefone. Ã noite, ela vinha me ver. Como não sou bobo nem nada, vestia o melhor pijama, ia pra sala, sentava na poltrona mais larga, punha um livro no colo e fingia estar lendo. De repente a porta se abria, eu ouvia aqueles passinhos apressados e sentia a sua mãozinha gelada me abraçando.

– Ôi, gracinha.

Ela tinha uma voz afônica, meio rouca, e a coisa que mais gosto numa mulher é quando ela tem a voz rouca. Pode ser gordinha, baixinha e espinhuda, mas tendo a voz rouca fico apaixonado. Brincava com a Marcinha dizendo que namorava suas cordas vocais.

No começo surgiram pequenos problemas práticos: como abraçar? Quando eu estava sentado na cadeira de rodas, era péssimo. Pra me dar um beijo, tadinha, se contorcia toda. Na poltrona da sala era jóia. Sentava no meu colo, e ficávamos a noite toda papeando e se beijando. Com meus bracinhos fracos eu abraçava, brincava com os peitinhos dela e passava as mãos nas pernas o tempo todo. Na cama, era complicado. Essas camas de hospital têm que ser altas pra facilitar quem cuida dos doentes ( dar banho, fazer curativo, essas coisas). Pra me beijar, ela tinha de ficar na ponta dos pés. Deitar na cama era impossível, eu ocupava todo o espaço, e, por causa do pescoço, não podia ficar de lado. Mas a gente se virava. Ela punha um banquinho e, com a metade do corpo pra fora, agarrava-se em mim.

Sexo? Não, não tinha. Não dava, deitado ou não, conseguia erguer minhas costas nem um milímetro. Ficava lá mortão, com aquela borracha no meu pinto.

Mas tinha horas que o estado de excitação nos matava. Eu punha a mão na vagina dela e massageava até sentir aquela tremedeira. Ela só me beijava, e quanto mais eu massageava, mais sua boca ficava mole, gostosa. Respirava forte, gemia, suava. Era tesão. E a gente sabia que era só esperar, deixar a bexiga funcionar direito, tirar a sonda, consolidar minha vértebra e ficar mais forte, que nos amaríamos melhor .

Feliz ano velhoOnde histórias criam vida. Descubra agora