15º Cap. Início de Dezembro 1980

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Dia 14 faço um ano de acidente, e só agora realmente vou começar o tratamento de fisioterapia na BBB. Foram dez meses de vértebra em frangalhos, usando aquele colete de ferro, e mais um mês de espera de vaga na BBB. Um ano em que tive uma certeza: minha vida mudou pacas. Sou um outro Marcelo, não mais Paiva, e sim Rodas. Não mais violonista, e sim deficiente físico. Ganhei algumas cicatrizes pelo corpo, fiquei mais magro e agora uso barba. Não fumo mais Minister, agora passei pro Luiz XV. Meu futuro é uma quantidade infinita de incertezas. Não sei como vou estar fisicamente, não sei como irei ganhar a vida e não estou afim de passar nenhuma lição. Não quero que as pessoas me encarem como um rapaz que apesar de tudo transmite muita força. Não sou modelo pra nada. Não sou herói, sou apenas vítima do destino, dentre milhões de destinos que nós não escolhemos. Aconteceu comigo. Injustamente, mas aconteceu. É foda, mas que jeito...

Muito tempo depois, soube que estivera mais morto do que vivo naquela UTI. Minha mãe conta que, logo após chegar em Campinas, perguntou pro médico o que ela poderia fazer, e ele disse:

– Nada, apenas reze.

Hoje em dia, me pergunto se preferiria estar morto. Não sei, nem quero saber. Só sei que, nas noites em que tenho insônia, lembro de um garoto normal que subiu numa pedra e gritou:

– Aí, Gregor, vou descobrir o tesouro que você escondeu aqui embaixo, seu milionário disfarçado.

Pulou com a pose do Tio Patinhas, bateu a cabeça no chão e foi aí que ouviu a melodia: BIIIIIIN. Estava debaixo d'água. Não mexia os braços nem as pernas. Via somente a água barrenta e ouvia: BIIllIIIN .

                            

Feliz ano velhoOnde histórias criam vida. Descubra agora