10º Cap. Good Year

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Assumimos a dupla e já marcávamos o show só com nossas composições. O Cassy me mostrava umas músicas geniais que ele havia feito com o Carca. Só tiração de sarro. Típicos roquinhos de três posições, que começaram a ficar conhecidos em Campinas. Todo show que nós dávamos, sempre vinha da platéia, no final, o "toca aquela". A que mais gostavam era um blues japonês...

No Japão também tem pão No Japão também tem chão No Japão também tem cão E no Japão tem macarrão

Mas no Japão, terra da amargura,

Em vez de Pereira, em vez de Oliveira Tem Nakamura.

Eu queria saber por que raios Eu queria saber por que diacho Se no globo estou de cabeça pra baixo Então por que é que não caio?

No Japão também tem cão No Japão também tem chão No Japão também tem bem Mas na China é que tem Mao

Na China é que tem Mao E eles invadiram o Vietnã

Ou, então, a obra-prima do Carca:

Li na Enciclopédia Barsa

E fui procurar um médico

O meu comportamento era uma farsa Talvez tivesse complexo de Édipo Sou esquizofrênico, descobri Fiz o teste do doutor Kildare

Dizem que isto é muito perigoso Talvez fosse até hereditário Pode ser também contagioso Setor, peguei num vaso sanitário

Sou esquizofrênico, descobri Fiz o teste do doutor Kildare

Eu não tinha muito esse espírito debochado, e me enchia um pouco da platéia, que começava a nos confundir com meros humoristas. Mas fiz um rock-cristão que pegou. Foi logo após a morte do Papa João Paulo I.

João Paulo viveu menos que um mês (Coro) Menos que um mês E morreu misteriosamente

Tinha um bolero, em homenagem aos incêndios paulistas:

O teu beijo é tão bom

Que pode me queimar os lábios

Por isso eu digo: pegou fogo no meu coração

Minha mãe mandou-me Falar com um psiquiatra Pois eu não parava

De pensar só naquela ingrata

Ao que ele me disse

Que o caso não era só dele Era dos bombeiros

Mas dos bombeiros do amor

Passe-me o extintor

Para acabar com essa fornalha Com esse amor

Que me aliena e me atrapalha

Depois eu vi

Que era só caso de palha E hoje sou feliz Sem você

Joelma

Eu e Cassy começamos a elaborar melhor as músicas. Foi aí que pintou uma oportunidade de fugir de Campinas e aparecer um pouco mais. A TV-Cultura bolou um festival que apareceria na televisão e teria até disco gravado pros vencedores. Naquela época, não existia essa onda de disco independente, e de tocar em barzinhos. Os espaços pra quem fazia música se restringiam a shows universitários. Então, fomos com duas fitas cassetes nos inscrever. Eu com o Bamba novo e o Cassy com Cemitério blues .

Chegamos lá no último dia, uma tremenda fila na porta. Incrível, não sabia que tinha tanto compositor escondido por São Paulo. Nada menos que setecentos inscritos. E pelo tipo das pessoas, nunca aceitariam nossas músicas. O anúncio fora bem claro: MPB. O Bamba era um blues e o Cemitério, um rock.

Feliz ano velhoOnde histórias criam vida. Descubra agora