5º Cap. Hospital Paraíso, São Paulo

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Teto verde. Chique pra burro. De fórmica toda furadinha, desses isolantes térmicos e sonoros. Estava na maca indo pro Raio X e admirava o novo visual. Realmente, era um hospital caro. Pelo verde e pelo silêncio já dava pra sacar que a gente ia gastar os tubos. Todo o mundo falando baixinho, com respeito. Tava cansado da viagem, mas ficava atento a tudo. Estava recebendo um monte de informações novas, novidades para ter o que pensar depois. Os furinhos do teto verde, o bebedouro de água. A porta grande, cinza. O cheiro era mais azedo que o da UTI. Mas o que me impressionava mais era o silêncio, um som abafado, seco, sem o já costumeiro eco. Parecia um mundo mais calmo, devagar, sem vida. Dava pra ouvir a própria respiração. Terrível, sentia-me mais vigiado, qualquer palavrinha que desse seria ouvida pelo corredor inteiro.

Chegando na sala da Raio X, fiquei sozinho. Teto verde, ainda. Na parede, uns quadros estranhos. Radiografias de colunas, de pés. Puxa, que fixação, podiam pôr umas paisagens, umas mulheres peladas, o time do Coríntians.

O cara do Raio X pediu pra eu ficar de pé, ele nem imaginava meu estado clínico. Achei bom, sinal de que eu não tinha cara de quem estava totalmente paralisado. Isto me dava uma certa esperança. "Meu corpo ainda está todo aqui. Apesar de não sentir , a perna ainda tem joelho, pêlos, pé. Deve estar branquinha de falta de sol. Quem sabe, até magrinha. Mas está viva ainda."

- Não, moço. Não consigo me levantar.

- Então espere um pouco, que vou ter que pedir ajuda.

Essas máquinas de Raio X são lindas. Modernas, imponentes.

Chegou a ajuda e me deitaram na mesa. Com um controle manual, ele focalizou a máquina bem na coluna e:

Feliz ano velhoOnde histórias criam vida. Descubra agora