720 Horas Para Mudar

5 · Viagem, Discussão e Término

Vou caminhando até a casa de Emillia. Hoje, combinamos de dar um passeio até a mesma praia em que saímos pela primeira vez no começo do namoro.

Já faz alguns dias que ela está diferente. Acho que é só pelos preparativos do casamento.

— Boa tarde, meu amor! — sussurro em seu ouvido, abraçando-a por trás e beijando seu pescoço enquanto ela fechava a porta de sua casa.

— Boa tarde. — diz fria afastando-se.

— Emillia, o que deu em você? — pergunto indignado. Não estava mais aguentando isso, Emillia não deixava eu me aproximar e nunca mais disse um eu te amo. Nunca mais!

— Eu estou te levando para praia, para tentar lhe explicar tudo isso. — dá as costas e eu engulo em seco.

— Por que não conta logo na sua casa?! — grito já perdendo a paciência por motivo fútil.

— Porque se você quiser me bater ou xingar, eu vou ter testemunhas ao redor! — grita de volta mas com a mesma calmaria de sempre, entrando na garagem. Franzo a testa tentando entender o que ela quis dizer.

Corro em sua direção e antes que ela pudesse entrar no carro, eu a puxo pelo pulso.

— O que está fazendo? — pergunta assustada.

— O que você quis dizer com isso? É o que eu estou pensando que seja? Ou só foi uma brincadeira sem graça?

— Fica a seu critério entender. Não tenho nada a ver com seu modo de pensar ou agir... — solto-a. — Por mais que eu quisesse... — entra no carro e fecha a porta, esperando que eu entrasse também. Só que eu não queria fazer isso. Saio o mais depressa possível da sua garagem. Ela é muito boba se pensa que eu vou aturar suas respostas ultimamente sarcásticas.

— Jordan! — Emillia grita atrás de mim. — Eu preciso dar essa notícia! Não quero que fique pensando que eu vou atrás de você amanhã ou depois, porque eu não vou! — paro freneticamente. Quando temos alguma discussão, sempre é Emillia que vem me procurar, porque sou orgulhoso demais para fazer isso por ela, mesmo eu não tendo razão nenhuma.

— O que é?! — pergunto rude. Ela se aproxima e fica de frente para mim á alguns muitos centímetros de distância, como se estivesse com nojo da minha pessoa. Emillia suspira e fita-me confusa.

— Jordan... Eu vou para o Canadá daqui á um mês...

O quê?!

— Mas... Por que?! Você sabe que iremos casar daqui a dois meses! — sinto minha voz falhar.

— Jordan, você sabe que eu sempre quis ser cardiologista! É o meu sonho, eu não podia recusar de modo algum... — interrompo-a.

— E como eu fico nessa história?

— Você fica. — encaro-a incrédulo e sinto meus olhos marejados.

— Meu amor, deixe de brincar, você sabe que eu não tenho paciência com esse tipo de coisa. — olho para o lado e passo a mão pelo cabelo tentando me acalmar.

— É esse o problema, Jordan! Você não tem paciência com nada! Isso acaba com sua personalidade. Você é tão lindo, gentil e educado quando quer, mas esse defeito cobre qualquer uma de suas qualidades, Jordan! Eu esperei. Esperei você mudar. Você não mudou. Pensei que iria ser diferente depois que percebeu que eu não gostava da sua impulsividade, mas você não quis saber! — Emillia fala impacientemente.

— E por que você aceitou o pedido de casamento?

— Porque eu te amo! — grita já derramando-se em lágrimas. — Você não entende? Por que eu te amo!

Estava sem expressão. Não conseguia entender o porquê disso tudo. Não conseguia achar nenhum motivo da possibilidade de cancelar o nosso casamento, se era isso que ela queria dizer.

— Não dá para ser mais clara? — pergunto com mais calma. Ela suspira e olha para o chão.

— Eu não posso viver com uma pessoa com probabilidades existentes de um dia me espancar quando estivermos casados. — ela chora ao pronunciar cada palavra e eu encaro-a neutro. — É por isso que eu não quero assumir esse compromisso... Mas foi duro tomar essa decisão, porque eu te amo tanto!

— Não, você não me ama! Se amasse ficaria comigo!

— Você não entende!

— Eu nunca vou entender o porquê de eu perder você! — exclamo frustado.

— Não expliquei o suficiente?

— A sua presença é o suficiente!

— Eu não vou mais discutir com você, Jordan. — fala balançando a cabeça. — Toma. — Emillia me entrega a aliança do nosso casamento e sai correndo chorando.

Então quer dizer que é só assim?

— Aaaaaah! — grito com toda a minha força no meio da rua. Jogo a aliança no chão sem pensar e chuto a lata de lixo em frente a casa da agora, minha ex noiva.

Acabo pegando a aliança de volta e retorno para casa arfando e com a cabeça doendo.