Prologo

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Tudo começou com a Tiff

— Ele me pediu em namoro, Leah!

Era recreio e a gente já estava na lanchonete. Na fila, na verdade. Mesmo assim já dava para sentir o perfume do bolo de cenoura vindo da cozinha. Era bolo de cenoura com cobertura de chocolate, delicia!! Claro que nem se compara ao bolo que o Will faz, quando da na telha do meu irmão preguiçoso ir para a cozinha! Mesmo assim não posso reclamar, o bolo de cenoura do Metropolitano era o melhor lanche que serviam de manhã, a única coisa realmente doce que a nutricionista da escola liberava! Aquele cheiro tão delicioso não me permitia prestar total atenção na Tiff.

— Você me ouviu, Leah?! É importante — ela suspirou meio irritada —Não é como se eu estivesse falando do tempo.

Eu nem sabia de algum pretendente da Tiff, e agora alguém simplesmente pede ela em namoro. Como assim?

— Quem é o louco?

Ela revirou os olhos.

— Como quem, Leah? O Glub. Quem mais?

Me obriguei a rir, por mais que a Tiff tivesse me fuzilado com o olhar por não ficar tão impressionada por seu amigo virtual a pedir num namoro virtual.

— Tiff. — comecei devagar, não queria magoá-la, por mais que já tenha mandado a real para ela cada vez que falava do Glub. — O Glub não é real...

Ela riu. Já conhecia nosso discurso, meu e das meninas. Ergueu as mãos para pegar o prato com aquele pedaço fofo com a cobertura ainda quente escorrendo pelos lados. Chegou a babar o canto da minha boca. Eu sempre morria de vergonha de comer na escola. As meninas comem que nem passarinho, eu ao contrário, depois das aulas de matemática geralmente saio da sala com uma fome de ogra! Sorri de leve quando vi a Tiff pedindo um garfo para a outra merendeira e deixando o achocolatado de água na bancada junto com os outros copos, nenhuma de nós tomava as bebidas da escola.

— Você não entende Leah... — Ela balançou a mão do garfo com indiferença, como ela sempre fazia quando falávamos do Glub e do relacionamento deles. — Se você conhecesse eles, e esse mundo que vocês chamam de irreal e virtual, aposto que não daria duas semanas e estaria tão viciada quanto eu!

Tive que me dar o luxo de gargalhar ao ponto de erguer a cabeça para trás, quase esquecer de pegar o bolo e chamar a atenção de boa parte das pessoas daquele refeitório. Tiff sacudiu a cabeça, reprovando minha risada, porém ignorando-a. Sentou na mesa da Daphne. Da Daphne, da Abbie e da Cloe. Eu segui.

— Ta apostado? R$ 250!

— Ui, adorei essa conversa! O que vocês estão apostando? — Daph riu quando a gente sentou. Abbie deu uma mordida no bolo dela. Cloe sorriu e nos encarou.

— Tem certeza, Leah? Quer perder tão fácil assim R$ 250?

Sorri, e Tiff percebeu meu olhar provocativo.

— Eu perder? Você vai ver...

— Calem a boca — mandou Cloe, ainda assim com um leve sorriso curvado em seu rosto. — Não vão contar o que ta acontecendo?

— Tiff ta achando que eu posso ficar mais viciada que ela nesses seus joguinhos no computador.

— Primeiro: não é joguinho! Dois: não foi bem o que eu falei. Eu falei que em duas semanas você ia se viciar no meu — ela abriu aspas com a mão — "mundo virtual".

— Essa é a aposta? — Abbie largou o garfo no prato e deu uma risada leve. Eu achava hilário o negocio do garfo, tanto ela quanto a Tiff só comiam bolo assim. Não gostavam de lambuçar os dedos. — você não ia aguentar duas semanas na frente do PC Leah. Esqueça.

— Sabe que eu achei interessante... — Daph sacudiu a cabeça bem do jeito que ela faz quando ta tramando alguma coisa. — mas vamos ter que ter regras.

— Regras? Gente, eu tava brincando. — Acabei rindo pronta para largar aquela conversa e comer meu bolo de cenoura em paz!

— Viu... — A namorada do Glub sorriu me provocando, apontando de leve o garfo na minha cara.

— Não que eu não conseguisse. — Defendi e desviando sua arma de perto – Eu fico um mês nesse teu chatezinho e não me vicio. Taaa?

Daph sorriu com nossa disputa individual.

— As regras são a seguinte: Leah tem que se cadastrar e fazer muuuuitos amigos nesse chat. Ficar no mínimo 4 horas por dia...

— Quatro horas!?

Daph me ignorou:

— Tem que fazer isso por um mês. Depois de um mês tem que deletar tudo! Não deixar nenhuma lembrancinha. Fechado? O ganhador: R$ 250... Que tal?

— Eu topo! – afirmou Tiff sem pensar duas vezes.

Eu pensei um pouco.

— Eu sabia — riu Abbie, dando um tapa na mesa — não aguentaria nessas condições por duas semanas.

— Mas a intenção é eu viciar nisso, não é?

— Não se preocupe... Você vai viciar... — assegurou a especialista dos assuntos virtuais.

— Mas e se eu pular fora no meio do caminho... O que acontece?

Cloe, Daph e Abbie pensaram um pouco.

— Cada um da a metade e doa para a caixinha da boa ação da escola!

A caixinha da boa ação é uma maleta que fica na entrada do pátio do Metropolitano, foi a invenção de algum aluno há uns anos atrás para ajudar a creche da MSC (escola pública do outro lado da rua do Metropolitano) que tava por fechar na época. O pessoal aderiu tanto a ideia que até hoje a caixinha é um xodó e arrecada pelo menos uns 700 reais por mês para os bebês!

— Eu amo quando você bota a cabeça pra pensar Abbie! — os olhos de Daph brilharam de animação.

— Ótimo —  Tiff me fitou provocante — Você topa?

Mirei meu olhar para o meu bolo por um tempo, fixando naquela cobertura saborosa que ainda derretia e escorregava para o prato. Depois assenti e a encarei confiante.

— Já pode ir tirando R$ 250 do bolso, baby. Eu vou ganhar isso!

 Eu vou ganhar isso!

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MENINA DO CLOSET [História Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora