Agora vocês sabem

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Conforme eles dois iam nos treinando e nos trazendo informações lá de cima, Thompson foi progredindo na coisa de "parar de compartimentalizar tudo". Nos trazia informações cruciais, baseadas em seu tempo no exército como "pupila" de Stone. Ela nos contava histórias de quando eles andavam juntos. Em uma dessas conversas, ela contou algo que iria nos alertar sobre muita coisa.

— ... Escutem, nós precisamos de mais cautela. — Ela disse, ao analisar os planos de reconhecimento que nós havíamos montado, e sentou no chão. — Enquanto todos me odiavam, Stone sempre dizia - com sarcasmo, o que deixava todos mais revoltados ainda - que eu era a melhor dali e que ninguém nunca chegaria aos meus pés. Que qualquer um dos que estavam ali poderia liderar uma missão com 20 pessoas e iriam ter, no mínimo, 5 baixas em sua equipe e voltar com a missão completa somente com o que seria pedido; enquanto eu completaria a missão antes do tempo estipulado, traria informações sobre a base inimiga, como mapas, transmissões de rádio interceptadas e anotadas, coisas assim. Ele realmente puxava as coisas pro meu lado na academia e, quando me formei, me chamou para trabalhar perto dele. Ele já queria que eu fosse seu braço direito nessa coisa toda.

— Essa coisa toda?! — Maria perguntou, nitidamente alterada. — Você diz que ele já tinha isso planejado o tempo todo?!

— Exatamente. — Emily assentiu com a cabeça e prosseguiu, com uma expressão vazia em seu rosto. — Ele tem isso planejado, até onde eu sei, desde que conseguiu um cargo de renome no exército. Ninguém o respeita de verdade, mas todos o temem. Logo, ele rapidamente conseguiu os recursos necessários e cá estamos nós.

Sal abaixou a cabeça, como quem já suspeitava disso tudo. Maria apertou minha perna, sua mão estava gelada e suando, nitidamente com medo, mas sua feição de força e vontade de mudar aquela situação não mudou.

Foi aí que olhei para os outros e percebi que nada ali havia tirado a força de vontade de cada um de nós. Mas eu tinha dúvidas. Pedi a palavra e expus a todos.

— Bom, se ele tem isso planejado há tanto tempo, ele deve saber sobre nós. — Todos me olharam com uma feição assustada, mas curiosa. — Não sobre nós exatamente, mas sobre essas resistências. Ele deve estar preparado para oposições, para ataques, ele deve saber dos esconderijos, desse túnel, dessa sala.....

Desse túnel e dessa sala ele não tem como saber. – Thompson me interrompeu e todos voltamos a atenção a ela novamente, mas sem entender.

— Mas como ele poderia não saber? Ele tem a planta de tudo lá, não tem? — Sophie perguntou, olhando as anotações e com o lápis atrás da orelha.

— Ele não tem como saber porque ele não é o único que faz planos. Eu cavei esse túnel sem deixar nada vir à tona. Eu construí essa sala e fiz com que ninguém soubesse da existência. Eu instalei a porta de aço. Eu fiz com que tudo fosse fora dos registros, aliás: eu me livrei dos registros.

Nesse momento, eu me lembrei de ter comentado com minha mãe alguns anos antes sobre uma obra estranha que estava acontecendo no Labyrinth, que comprometia toda a estrutura do colégio. Disseram que era uma reforma na estrutura, que estava ameaçando ceder. Eu e minha mãe nos olhamos e achamos estranho, mas... Como era algo vindo do governo...

— Ele não me ensinou a ser um soldado, ele me ensinou a ser como ele. Como planejar ataques, defesas, missões de reconhecimento. Como sumir com provas, como abusar do meu poder como parte do exército. Como chantagear pessoas ao ponto delas sentirem medo só por pensar em tocar no assunto. — Ela levou as mãos ao rosto e ameaçava chorar, sua voz embargava. — Não me levem a mal, eu não sou uma má pessoa. Eu fiz isso tudo por um bem maior. Por favor... não me julg...

Sal se levantou enquanto ela falava, foi em sua direção e segurou em sua mão. Todos ficamos atônitos, nunca tínhamos visto uma Emily tão vulnerável, ou ainda o Sal demonstrar algum tipo de sentimento que não fosse ódio de Stone e sede de vingança. Emily levantou o rosto, com os olhos marejados e se direcionou a ele.

— Nós confiamos em você. Você não é uma má pessoa e nós não achamos isso. — Ele disse com uma voz mansa que nós nunca tínhamos escutado. — Você é nossa líder, aquele desperdício de matéria acredita em seu potencial e nós também acreditamos.

Emily olhou para nós e o ar de compaixão e compreensão nos tomou da mesma forma. Ela sorriu, aliviada, suspirou um "obrigada" em nossa direção e levantou.

— Enfim, Sophie, vem aqui pra gente fazer uns ajustes. Já tá extremamente bom, acredito que já possamos colocar em prática essa semana.

Agora sim, nós iríamos lá pra cima. Sophie era nossa estrategista, Emanuel e Sal, nossa cobertura, e eu e Maria seríamos a linha de frente. Não tínhamos planos de atacar nada nem ninguém, nós precisávamos agir na surdina, e como eu morava ali e ela é a mais desenvolta, fomos os escolhidos.

— Ei, Bond. — Ela me puxou pelo braço quando nos levantamos.

— Diz, morena.

— Nós vamos continuar com o que temos independente do que tá acontecendo lá em cima, né?

— Ué, acredito que sim, por quê?

— Então não acha que devemos contar aos outros? Eu não quero ter que esperar todo mundo dormir pra te dar uns beijos.

Eu não tinha pensado naquilo. Eu já estava com ela há alguns meses, já havíamos trocado algumas carícias discretas na frente dos outros, mas.... não havia passado disso.

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"— Não, gente, a minha boca não é tão pequena assim! — Sophie dizia, envergonhada.

— É sim! Repara na boca de Thompson! Repara na boca de Maria! — Emanuel dizia, rindo bastante. — Sal, o que acha?

— Eu não reparo na boca de ninguém. — Ele disse, enquanto afiava o seu lápis com uma faca.

— E você, James? O que acha?

— Eu acho a boca de Maria maravilhosa. É tudo na proporção certinha, tudo maravilhosamente bem posicionado, e olha esse lábio inferior? Meu Deus....

— Eu tô falando da Sophie, James...

Uma atmosfera constrangedora tomou conta do ar. Eu e Maria ficamos vermelhos e eu comecei a suar.

— Ah... eu sei, né, eu to brincando.... E sua boca realmente é pequena, Sophie.

— Não é nada!!

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— É, acho justo...

— E como devemos fazer isso? — Ela perguntou, chegando mais perto, me abraçando e sorrindo.

— Assim.

E nos beijamos na frente de todos. Nem procurei ver a reação de ninguém, queria me concentrar naquele beijo. Ouvimos alguns gritos e risadas de Emanuel e Sophie, não ouvimos Sal dizer nada.....

Mas Emily bradou:

— VOCÊS FICARAM MALUCOS?????!!

Underneath - Abaixo de TudoOnde histórias criam vida. Descubra agora