O Plano é executado

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Finalmente chegava o dia. Nosso plano estava preparado, nossas mentes estavam focadas, não deixaríamos que nada mudasse nosso foco e nosso vigor. Ficamos presos dentro dessa sala durante oito meses, num cubículo, sendo os últimos seis estudando nossos planos, estudando uma forma de subirmos e quebrarmos essa doutrina aos poucos.

Nossa primeira missão não envolveria ataques, nem mesmo indiretos. Não envolveria confronto, não envolveria nada disso. Era uma missão de reconhecimento. Emily nos passou inúmeras dicas de como nos esconder, de como agir furtivamente. Nos ensinou a dar passos sem fazer alarde, a escapar de câmeras de segurança. Nos deu cópias das plantas que eles tinham da cidade e nos delegou a missão de reconhecer o local onde estávamos, e alguns vizinhos. Até porque, desde que entramos ali, nunca mais fomos à superfície novamente.

Devo reconhecer que não existiria plano nenhum se não fosse o esforço de Sophie. Com as informações que Emily trazia, ela traçava realidades, comparava com as atualizações que vinham lá de cima, e conseguiu traçar um dossiê sobre cada uma das gangues. Não eram muitas, mas eram grandes em números de integrantes.

A menor de todas se chamava Bloody Fingers. Eram os mais sutis de todos, mas também os mais incisivos. Seus ataques eram precisos e, mesmo sem muitos membros, faziam ataques cirúrgicos, como cortes de bisturi (daí o nome "Dedos Sangrentos".).

A mediana se chamava Red Wolves. A gangue/resistência que Franklin fazia parte agia na maior parte das vezes na surdina, mas nos meses que se antecederam vinham tendo uma série de ataques diretos, infelizmente sem sucesso. Eram ataques inteligentes, mas infelizmente pecavam por um ou dois erros individuais que sempre levava a missão ao fracasso. Entre as outras gangues, havia um boato de que o Exército teria um informante dentro dessa resistência, mas até então não passava de um boato que tinha sido espalhado com o objetivo de "dividir e conquistar".

A maior e mais ativa de todas se chamava Illusions. Segundo os registros trazidos por Thompson e reunidos por Sophie, era a gangue que tinha feito mais estrago às tropas de Stone. Eles eram imprudentes, não ligavam para os métodos e sim para os resultados. Seus integrantes plantavam bombas em abrigos do exército, pichavam os prédios e as casas, e, quando eram pegos, tomavam um tipo de veneno que fazia seu corpo colapsar e, assim, não revelavam informação alguma. Sempre mudavam seu QG de lugar, nunca assim sendo descobertos apesar de tão ativos. Faziam juz ao nome, já que escapavam de forma tão suave feito miragens, ilusões no meio do caos.

Nossa resistência não era conhecida por ninguém além de nós, e pretendíamos continuar dessa forma. Emily nos deixou claro que todas as nossas missões deveriam ser furtivas e na surdina, que de modo algum tentaríamos algo para "nos fazer conhecidos", por assim dizer. A última coisa que ela queria era um alvo maior tatuado em nossas costas, já tínhamos que fugir o suficiente mesmo sem isso.

Ao passarmos pela porta de aço, todos fomos tomados por um arrepio coletivo. Para nós eram oito meses, para Sal, anos sem sair dali e pela primeira vez saberíamos da situação sem ser pelos relatos de Thompson. Os corredores pareciam cada vez mais esguios, trazendo a nós um ar sufocante, como se as paredes estivessem nos roubando o ar. Com nossas roupas pretas, o calor enquanto andávamos pelos esgotos era insuportável, nos fazendo suar desde a planta dos pés até o último fio de cabelo. Fora o nervosismo, mesmo sabendo que deveríamos manter o foco.

Ao chegarmos no ponto onde nos separaríamos, Thompson nos recomendou cautela pela última vez e desapareceu no corredor. O plano era o seguinte: eu e Maria sairíamos num beco qualquer (dessa vez seria entre a agência de seguros Rollercoaster e a mercearia Johnny's) e, a partir dali, eu e ela, com a cobertura de Emanuel, Sophie e Sal, cobriríamos o quarteirão inteiro com escutas, para que pudéssemos saber com exatidão onde as tropas estariam e onde deveríamos atacar sem sermos percebidos. Na próxima semana, iríamos para outro quarteirão e faríamos o mesmo. Thompson não iria interagir conosco durante uma missão e arriscar entregar seu disfarce, então ela só saberia como foi depois, em nosso cubículo.

Maria e eu pegamos o corredor da direita, Sal seguiu em frente enquanto Emanuel e Sophie subiam a escada atrás de nós. Todos tínhamos pontos estratégicos para nos posicionar, eu e Maria tivemos treinamento para colocar as escutas nas paredes sem fazer alarde.

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— Vocês receberão esses pequenos dispositivos, que farão quase tudo por vocês. Só os posicionem da forma correta nas paredes e ele já está instalado.

Olhamos todos desconfiados para aquela coisinha tão pequena, além, é claro, da tecnologia que não havíamos visto igual.

— É cortesia dos cientistas do exército. Ninguém sabe que temos essas coisas, e foi bem fácil arranjar alguns para nós, sendo eu o braço direito de Stone. Pelo mesmo motivo, também foi bem fácil adulterar registros, ameaçar pessoas para que absolutamente ninguém saiba que esses dispositivos sumiram. – Thompson deu uma pausa para respirar e para nos mostrar o tal dispositivo. — Ele conta com uma tecnologia furtiva de última geração, por isso é chamado de "Chameleon". Ele se adapta ao ambiente e fica invisível, não emite qualquer tipo de som.... Enfim, é a arma perfeita para quem quer se manter debaixo dos panos como nós. Daqui, iremos monitorar cada rua, cada esquina, para que vocês possam saber com exatidão quais serão os próximos passos antes que eu chegue aqui e, assim, otimizar nossos planejamentos futuros.

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Eu e Maria tínhamos tudo em mãos, nosso trabalho maior era andarmos conforme as instruções de Emanuel e Sophie, estrategicamente posicionados em telhados de prédios onde Thompson já havia se certificado de que não haveria nenhum oficial naquele dia. Sal estava posicionado com suas armas brancas e sua mira infalível, caso algo desse errado. Tudo era perfeitamente esquematizado e somente uma falha humana nos faria fracassar.

Underneath - Abaixo de TudoOnde histórias criam vida. Descubra agora