Rose

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O sangue fresco parecia sentir saudades de minha boca, se espalhando pelos meus lábios com urgência e manchando minha pálida pele. O prazer de poder degustar de uma vítima sem se preocupar com a consciência pesada pelo remorso de ter machucado alguém era mais uma coisa que eu sentia falta. Eu não tinha humanidade, mas naquele momento era a última coisa que eu queria ter.


[Um mês depois]

O som familiar do trem de carga que insistia em aparecer todas as manhãs podia ser ouvido da grande janela de meu quarto no casarão antigo encontrado por Norman. A decoração mantinha seu tom europeu, com móveis de madeira antiga e quadros de pintores famosos, sem falar no espelho comprido que se encontrava ao lado de meu guarda roupa, que era coberto por cobre, com uma moldura exuberante.
Minha vida havia começado do zero (no caso, por necessidade e obrigação), e eu podia dizer que ja era outra pessoa. Não sentia falta de águas passadas, muito menos pensava nisso. Raramente me preocupava com as coisas à minha volta, tendo meu foco somente nas ordens de Norman. O nome de Dean não surgia em minha mente, nem o de meus próprios irmãos.

-Tem uma festa para irmos hoje-Norman comenta ao me ver descendo as escadas, tomando vinho logo de manhã.

-O que tem para fazer la?-Me sento no sofá de veludo vermelho, mexendo em umas revistas aleatórias que se encontravam na mesa de centro.

-Um pessoal que está fechando negócios comigo- Ele passa o dedo indicador na boca da taça.

-E eu preciso estar na festa?- Franzi o cenho

-Você precisa estar aonde eu quiser que esteja-ele se levanta, acendendo a lareira da sala. -Sabe que você é sempre meu plano B para as coisas. Muito pode dar errado do nada.

-Eu sei disso. Sei que precisa de mim- me gabo, sabendo que ele se irritava quando era esnobe.

-Mandei preparar um vestido preto para você. Estará na sua cama quando voltar- ele diz, sabendo que eu passaria o dia fora novamente.


Nova Orleans era um lugar deslocado no meio dos Estados Unidos. Com seu passado histórico, a mistura de linguagem era bem notada. A quantidade de turistas só aumenta, tendo suas belas antigas casas europeias vistas como lindas paisagens para fotos. As pessoas visitando a cidade não faziam ideia do que se escondia atrás de tantas festas e bazares. Era comum ver gente bizarra, mas algumas tinham uma obscuridade extra que me intrigava.
   No meio de muitas barraquinhas, uma cigana ( entre muitas outras) me chamara a atenção. Seus cabelos volumosos vermelhos cor de sangue com seus grandes lábios pintados por um batom roxo destacavam sua pele negra. Suas unhas longas combinavam com seu traje extravagante, e algo em seu olhar me fazia perguntar quem era ela.

-Aproximem-se para que eu leia sua mão e descubra seu futuro- ela anunciava para todos, que a olhavam encantados. No meio do grande público que a admirava, estava eu, a olhando para passar meu tempo.

Seus olhos encontram os meus, e um sorriso misterioso se forma em seu rosto bem contornado.

-Você. Venha aqui- ela me chama, estendendo a mão.

  Ao perceber que era mesmo eu que ela chamara, ando até sua barraca, me sentando em um banquinho um pouco desconfortável em frente à sua mesa, aonde continham milhares cartas de tarô, entre outras parafernálias que eu não me preocupava em saber o nome.
Estendo minha mão e ela a segura com suas mãos macias. Ela começa a analizar as linhas de minha mão, e seu olhar curioso me fazia desejar poder ler o que ela via. Depois de um tempo em silêncio, ela me observa com seus olhos sabidos.

-Acho que deveria me encontrar la dentro mais tarde- Ela sussurra, apontando para a barraca. Se não fosse seu ar mais sério, acharia que ela estava flertando comigo.





O sol ja não estava tão alto como antes, fazendo com que o tumulto na rua diminuísse, ja que os turistas preferiam olhar outras partes da cidade. Esperava até a ultima cliente se retirar da barraquinha, e quando havia certeza de que os seus serviços haviam sido finalizados, me direciono à ela novamente, que entra na casa atrás do local, esperando que eu a seguisse.
O lugar havia os mesmos enfeites extravagantes que havia visto em sua mesa mais cedo, mas as cortinas coloridas e seu tapete e almofadas bordados davam um toque especial naquele clima cigano.

-O que quer comigo?- vou direto ao ponto, vendo que ela ja se aconchegara no sofá, se servindo de algum chá com um aroma fantástico.

-Eu sei o que é, senhorita- ela da um gole em sua xícara. -Sei sobre seu estado também.

-Tudo isso porque leu minha mão?-fico surpresa.

-sou uma bruxa experiente. Sei com o que estou lidando-ela sorri torto- Tenho que te avisar sobre algo.

-Diga-me recusava a sentar.

-Tome cuidado com uma rosa vermelha essa noite. Ela te trará muitos problemas.

-Uma rosa?-não entendia como aquilo fazia sentido.

-Uma rosa.

Hunting the love [PAUSADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora