O dever

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– Deveríamos mandar uma equipe de buscas? Já está anoitecendo. – Constatou o Jotun de longos chifres, apesar de seu grande porte, tanto de altura quanto de peso, as suas feições indicavam benevolência. Algo que contrastava com a clava que segurava na mão direita. Clava essa com evidências manchas vermelhas indicando que fora bastante usada na batalha que a pouco tempo terminara.

– Vamos esperar. Nosso pai pode estar velho, mais não estúpido. – Rosnou o Jotun de menor estatura. Este tinha chifres mais curtos, se apoiava no seu machado. O seu rosnar fez que o outro gigante encolhesse os ombros, temendo uma represaria física ao invés de palavras.

– Mas...Os Vargrs...E os Asgardianos...Eles podem estar vasculhando a planície.

– Bem, então devemos lidar com as consequências do ato precipitado de nosso velho pai.

– Que consequências? – Franziu as sobrancelhas o mais alto, não gostando do sorriso que transpareceu nos lábios de seu irmão. Ainda mais, não era um sorriso belo pela feia cicatriz que rasgava o rosto do Jotun menor, passando por sua bochecha, cortando a boca no seu lado esquerdo e terminando em seu largo queixo. Contudo, não era só pela cicatrize que fazia aquele sorriso ser macabro...

– Vargr! Um Vargr se aproxima! – Gritou alguém, fazendo a dupla de Jotuns se virar, observando o alvoroço dos guerreiros gigantes com a possibilidade de serem atacados pelos lobos igualmente gigantes.

– Só um Vargr? – Inqueriu o Jotun menor.

– Qual é a cor de sua pelagem? – Exigiu saber o maior, ao ver alguns gigantes já preparando suas bestas.

– Branco como a neve, meu senhor – Respondeu um dos Jotuns.

– Eu não acredito, aquele idiota! – Rosnou o que tinha a cicatriz – Não atirem, seus imbecis! Ouviram bem? Eu ordeno que não atirem!

– Irmão Helblinde, não chame nossos guerreiros de imbecis. – Lembrou o grandalhão em um sussurro embaraçado.

– Eu os chamo do que quiser, Býleistr! Sou o príncipe herdeiro! Ainda irei governa-los, que eles se acostumem! – E continuava a rosnar, ainda mais quando viu os gritos de assombro dos Jotun ao ver um imenso lobo albino aterrissando bem no meio do acampamento. Sim, os Vargrs podiam saltar grandes distancias, mas aquele salto foi anormal, ou melhor...Sobrenatural.

Os jotuns observaram, boquiabertos, a fera. O lobo tinha dois metros e meio de altura, mais de três metros de comprimento. Seus olhos vermelhos eram por demais similares com as próprias íris escarlates dos gigantes. Vargrs eram temidos e também idolatrados, por sua beleza e sua brutalidade. Muitos até acreditavam que eram espíritos em forma de lobo que conduziam a alma dos caídos ao mundo espiritual.

Algo se remexeu sobre o lobo esbranquiçado do Vargr, algo azul. Um jotun? Era inconfundível a tez cerúlea, além dos padrões brancos que se desenhavam sobre o seu corpo. Cada Jotun tinha um padrão de desenhos únicos, alguns acreditavam que eram marcas escritas pelos próprios deuses inomináveis da criação, a qual, sobre aquelas linhas escreviam o destino do Jotun. Aquele que montava o lobo era, sem sombra de dúvidas, um Jotun, mesmo que tivesse uma estatura similar a um humano, além de seu corpo ser franzino em comparação com os gigantes de fato. Aquele era um Fjölkyngi-Jotun, também conhecido como servos da magia ancestral e devido a isso, seus corpos foram moldados para melhor manipula-la. Pelo visto, a magia não exigia músculos e tão pouco altura.

O Fjölkyngi-Jotun possuía longos cabelos negros, curtos chifres e brincos de ouro ornamentavam suas orelhas, o que era indicativo de seu status e importância. Os guerreiros observavam abismados quando o pequeno Jotun sussurrou algo para o lobo e esse se abaixou, permitindo que o menor saltasse de seu flanco.

Entre Trovões e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora