O sacrifício pela paz

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Só os cavalos iriam ser a testemunha de seu desespero. Esfregando as mãos e punhos no cocho cheio de água fria. Água essa que logo alterou a coloração para a cor escarlate. Não tivera coragem para retornar a sua própria tenda, isso porque teria que passar pelas longas mesas que foram dispostas no centro do acampamento, aonde estava ocorrendo bebedeira, dança e canções, comemorando a batalha e honrando os mortos. Como poderia passar por todos aqueles guerreiros, sejam eles humanos de Midgard ou mesmo seus irmãos Aesir, se não sentia nenhuma honra na sua participação no combate. Só tinha matado um Jotun, mas este foi o suficiente para despertar emoções contraditórias para um guerreiro de Asgard. Nojo, vergonha e tristeza. Nojo pelo sangue que impregnava a sua armadura, agora descartada em um canto no estábulo, em suas mãos e braços. Vergonha, pois a morte de seu inimigo não teve nada de gloria, como cantavam os bardos, fora pura sorte ou azar, para o caso do Jotun, tinha tropeçado e caído com a espada em punho e desta forma desengonçada enfiou a lâmina na barriga do gigante azulado. E logo depois, o grande adversário caiu sobre ele, o pretendo e imobilizando até o fim da batalha. Tristeza, pois não via lógica em todas aquelas lutas. Nem sabia se tinha ganhado ou perdido! Estavam mais perto da vitória duradoura? Da Paz? Não sabia dizer...Era sua primeira batalha e já sentia vontade de se aposentar.

– O que sou de verdade... – Sussurrou para o seu reflexo na água, um garoto de cabelos que nem eram loiros como o do seu pai e, tão pouco, castanhos meio avermelhado como a sua mãe. Era como fosse um dourado enferrujado. Uma transição. Uma indecisão. Seus olhos castanhos, as sardas em seu rosto. Parecia mais uma criança que um dos príncipes de Asgard – Sou um covarde? Um guerreiro? Ou apenas um inútil?

– Baldur? O que está fazendo aqui?

Por um segundo o jovem pensou que tinha obtido alguma resposta, quiçá dos deuses mortos. Assustado, caiu para trás só para notar que não estava tão sozinho como tinha imaginado.

– Pai? – Indagou hesitante. Sim, ali estava Odin, ainda portando a sua armadura e lança – Eu só...

Baldur se levantou rapidamente do chão sujo de feno.

– Eu... – Olhou em volta, tentando pensar em uma desculpa, qualquer uma. Antes que fosse totalmente dominado pelo desespero sentiu a mão do seu progenitor em seu rosto.

– Meu filho. – Odin sorriu, acariciando a bochecha suja de fuligem, as trilhas deixadas pelas lágrimas ainda eram bastante visíveis – Sinto muito.

– V-você não tem que se desculpar, pai. – Sussurrou o menor abaixando o rosto, envergonhado com o que rei de Asgard deveria estar vendo – Eu que devia pedir perdão...Eu não te honrei na batalha, não como Thor o fez. Digo...Era para ser a nossa estreia e ...Eu falhei.

– Falhar? Você está vivo, Baldur, para mim isso é uma vitória. Não se compare com o seu irmão mais velho. Foi um erro ter adiantado a sua estreia, mas achei que...Estando ao lado de Thor você teria...

– Proteção? – Completou o garoto – Pai, se deseja me ver como adulto tem que parar de fazer Thor ser minha babá.

Odin sorriu, se abaixou e deu um beijo na testa do filho.

– Eu tenho orgulho de todos meus filhos e isso não é contabilizado pelo número de inimigos que foram por eles ceifados desta existência. Eu tenho orgulho só pelo fato de serem meus filhos.

Baldur corou, mas só então notou que o grande rei de Asgard estava ali, tal como ele, em um imundo estábulo, nas margens do acampamento, enquanto deveria estar conduzindo as festividades.

– Pai, o que você está fazendo aqui? Você não veio da entrada do estabulo, pois eu teria visto, você veio por trás...Ou seja, de fora? Do campo de batalha?

Entre Trovões e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora