Capítulo 18

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-Ai!-resmungo quando Carina limpa o corte em minha barriga

-Menos! Isso é um preço a se pagar pela sua idiotice.

-O corte nem doeu...-resmungo de volta

-Pronto-diz jogando o algodão no lixo, em seguida me ajuda a sentar na cama da tenda médica-não se esforce. Seu braço foi bem danificado naquela luta de espadas... você terá dores musculares e talvez alguns hematomas

-Tudo bem-digo me levantando e ela me olha com reprovação

-Vá com calma, Haylock

-Não faz meu estilo-respondo dando de ombros enquanto caminho em direção a saída da tenda

No instante em que piso fora da tenda vermelha com detalhes em branco e dourado, sou recebida com olhares e sussurros.

Não me dei o trabalho de desvendar o motivo ou o significado de cada olhar ou cada sussurro, apenas segui meu rumo em direção ao forte.

Meu braços estavam doloridos graças a força de Dylan, e a faixa com gases e algodões bem presa em minha barriga, atrapalhava minha caminhada até meu destino.

Depois que toda a adrenalina abaixou, eu pude sentir o resultado de uma boa luta em meu corpo. De fato estava exausta. Posso dizer que agora eu estou em forma e desta vez eu tive de lutar bem sério, diferente de como foi com Antony.

Suspiro ao notar que ainda falta um longo caminho até o forte, afinal, a equipe médica ficava na retaguarda, ou seja, do lado oposto de meu destino. O forte fica bem depois do final do acampamento em uma pequena montanha para que os canhões tenham mais alcance e os arqueiros tenham uma melhor visão.

Eu decido parar no meio do caminho e me sentar no pé da colina, em um local onde poderia apreciar o vento e não chamar a atenção.

Respiro fundo sentindo meus cabelos serem levados. As imagens da batalha vinham inconscientemente em minha cabeça. Analisar uma batalha era quase como ato involuntário para mim, acontecia naturalmente. Eu fazia o mesmo depois de uma partida de xadrez: revisando cada jogada, cada movimento.

Dylan não tem só um talento natural com espadas por causa de sua família de boa linhagem. Ele ganhou aquilo com esforço. Sua técnica é impecável e na hora de medir forças eu não conseguiria vencer dele apenas com uma de minhas espadas

Estou descrente que ele quase me forçou a utilizar minha segunda espada. Não vou negar, até hoje nunca utilizei ambas espadas para só um inimigo. Eu só faria isso em sinal de vingança ou justiça...

Mas com Dylan.... eu realmente não queria perder, eu queria mostrar meu valor e queria ser capaz de encarar o comandante de igual para igual

Eu sempre achei que nunca precisaria de proteção, até porque, ninguém nunca seria capaz de lidar com meus inimigos. Mas hoje vejo que existem pessoas tão fortes e habilidosas quanto eu... e isso me assusta.

Ser diferente é motivo de exclusão, chacota, e é algo ruim ao ver dos outros. Você se afasta e se fecha e sobretudo toma o que os outros dizem como uma verdade

Eu já havia aceitado que meus cabelos são cor de sangue, o que anda de mãos dadas com a morte. Já me acostumei a me agarrar em minhas espadas e não soltá-las mais. Já me acostumei a viver em guerra. Essa é minha realidade

Mas então... então descubro que vermelho é a cor do destino. Descubro que com um simples toque em minha mão eu largo ambas as espadas e que, com um pouco de paz, uma guerra pode ser encerrada.

A descoberta muda as pessoas, as possibilidades e oportunidades mudam as pessoas. Os sentimentos mudam as pessoas. As experiências mudam as pessoas. E eu não tenho certeza se mudei, ou estou sendo quem na verdade eu sempre fui.

Guerreira escarlateOnde histórias criam vida. Descubra agora