Capítulo 2

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Já tinha me acostumado com o frio, com o escuro e com a falta de comida. Já tinha me acostumado com os gritos e com o desespero, mas isso tudo parou depois de um mês.

Ainda era tratada mal por ser a única que não quis cooperar, mas ainda tenho certas vantagens.

Ainda me lembro de quando cheguei aqui. Os homens arregalaram os olhos e disseram:

-Ela não pode ser comandante!
-Por que não?-indago cínica
-Você é mulher!

Não vou mentir, aquilo me rende boas risadas até hoje. Foi só ele dar uma olhadinha para mim que perdeu completamente a postura.

Aparentemente quando as pessoas escutam falar de "comandante", sem ter nenhum gênero especificado, elas assumem que se trata de um homem imediatamente.

Minha cela se abre e me deparo com John, Megan, Carina e Paul. Eles estavam com suas mais novas roupas do exército e me encaravam preocupados.

-Comandante... já fazem meses. Você sabe muito bem que o império o qual servíamos está lutando pela causa errada. Você sabe que eles sequestraram a princesa desse reino e você sabe que agora uma guerra está sendo travada pelo trono desse local!-diz Carina em tom de súplica- Por favor. Venha conosco, volte ao exército! Eles já te libertaram!

-Não quero liberdade em um império que não conheço. O Sul já não é mais meu lar, mas isso não quer dizer que aqui seja. Não posso servir um império o qual não sei os ideais-afirmo- já fiz isso uma vez e não farei de novo. E por favor, não me chamem de comandante. Já não tenho esse cargo mais

-Não queremos que sofra! Você sempre foi e sempre será nossa comandante-afirma Megan- salvou nossas vidas e nos ensinou mais do que poderíamos pedir. Só queremos que você saia dessa cela.

-Por favor... Você precisa sair. Viva aqui, sei não vai se arrepender-pede John

-Com licença-diz um dos soldados adentrando a cela- o comandante Hendeston deseja vê-la-conclui olhando para mim e eu o encaro surpresa

Sou levantada com o auxílio de meus "companheiros" -ou seja lá como posso chamá-los agora- e rapidamente recuso a ajuda e me mantenho de pé sozinha. Vejo eles revirarem os olhos e bufarem em resposta.

O soldado caminha na frente e nos guia pelo calabouço

Olho em volta e vejo dois homens em cada esquina dos corredores. Observo seus uniformes e vejo que eles não carregam chaves como qualquer guarda encarregado pelo calabouço levaria.

Eles tinham uma postura impecável e noto que nas celas nunca haviam mais de dois homens, e eram raras aquelas que não possuíam somente um prisioneiro

Chegamos em frente à uma enorme porta de madeira e metal reforçado.

Os soldado bate na porta ainda mantendo sua postura impecável e alguém lá dentro diz um "entre" em resposta

Adentro a enorme sala e fico um pouco impressionada forçando-me a disfarçar a surpresa em meu olhar. Tudo era organizado para um forte de guerra. Tinha uma enorme mesa com um mapa e peças de xadrez que representavam o exército inimigo -que coincidentemente era o império que eu servia anteriormente-  uma mesa de escritório, que possuía materiais de escrita e atrás da mesa uma cadeira.

A frente desta tinha mais duas cadeiras acolchoadas e de cor vermelha além de no canto da sala, do lado direito da mesa, haver um divã de cor neutra com algumas almofadas

Avisto um homem parado e de costas olhando a janela.

Ele tinha as costas musculosas, ombros largos e ambas as mãos unidas em suas costas. Seus cabelos não tinham o típico corte militar, e sim, um comprimento médio e levemente encaracolado nas pontas

Guerreira escarlateOnde histórias criam vida. Descubra agora