Capítulo XI

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Hizashi Point Of View

Mais uma vez eu havia chegado cedo de mais. Mas não tinha jeito, a ansiedade me corroía por dentro e eu não conseguia só ficar em casa esperando dar a hora. Cheguei à mesma lanchonete meia hora antes do combinado e, como teria que esperar de qualquer forma, sentei em uma mesa e resolvi adiantar o trabalho. Pedi um expresso e espalhei os papéis sobre a mesa, analisando um conteúdo por vez e pensando nas melhores formas de trabalha-los com os alunos nas aulas de reforço. Não teria tantos problemas com matérias como História, Geografia e até Japonês Clássico, sempre fui bom nelas e havia adquirido ainda mais conhecimento na minha graduação em pedagogia, mas as disciplinas de Exatas sempre foram uma negação para mim. Tinha sorte de Shouta estar do meu lado desta vez.

—Parece concentrado hoje. – A voz rouca do moreno invadiu meus ouvidos e eu quase me assustei. Ele estava parado do meu lado, com as mãos nos bolsos e com cara de quem não dormiu a noite.

—E você parece com sono. – Respondi, vendo-o sentar a minha frente.

—É, não dormi muito bem. – Provavelmente tinha passado a noite pensando no processo de adoção e no quanto não queria que tivessem levado Eri de volta para o orfanato.

Eu tinha sugerido que nos reuníssemos para falar sobre as aulas de reforço justamente por que sabia que ele precisava ocupar a mente, aproveitaria para distraí-lo com assuntos da escola.

Shouta puxou uma pasta de sua bolsa, colocando mais papeis sobre a mesa.

—Eu consigo trabalhar com Física e Química além de Matemática. Já andei pensando em algumas coisas para trabalhar com eles.

—Ótimo. Eu consegui pegar o conteúdo com quase todos os professores. Me preocupo apenas com o Hakamata, ele parecia bem contra a minha ideia e eu não consegui falar com ele depois. Não entendo nada de biologia.

—Posso tentar falar com ele durante a semana, também não é minha área, vamos precisar da colaboração dele.

Confirmei com a cabeça. Uma garçonete se aproximou anotando nossos pedidos. Ficamos um bom tempo apenas bebericando café e comendo biscoitos enquanto trabalhávamos.

—O que acha disto aqui? – Falei, mostrando um rascunho de um roteiro para filmagem. – Podemos fazer algumas atividades mais interativas. Os jovens gostam dessas coisas da internet.

—Deixe-me ver. – O moreno, ao invés de pegar o papel da minha mão, resolveu mudar de lugar e sentar ao meu lado no banco. A proximidade fez borboletas remexerem meu estômago. – É uma ótima ideia. Do jeito que essa molecada vive grudada no celular, eles vão se animar fácil com isso.

Ele me olhou nos olhos longamente, estava tão próximo que eu podia sentir sua respiração quente em meu pescoço, meu corpo formigando de vontade de se aproximar. Mas eu não podia. Estava inseguro do que devia fazer. Havíamos claramente nos aproximado nos últimos dias, mas eu não queria tomar a iniciativa. E se ele só me quisesse como amigo? Não podia confundir as coisas. E como se para deixar tudo ainda mais confuso, Shouta suspirou e deitou a testa no meu ombro.

—Desisto. Não consigo mais continuar com isso. – Murmurou e, antes que eu pudesse entender do que estava falando, ele levantou o rosto de novo, colando nossos lábios. Eu fiquei sem reação, de olhos arregalados, vedo-o se afastar.

Apesar da surpresa, a sensação de seus lábios nos meus ficou, trazendo um sabor nostálgico e até mesmo um tanto melancólico. Há quantos anos não nos beijávamos?

—S-shouta, o q-que-

—Shh.... Não diga nada. Vamos só... deixar as coisas acontecerem. – Dizendo isso ele encostou a cabeça no meu ombro de novo. Ficamos alguns minutos assim, apenas aproveitando a companhia um do outro. Ele parecia bem relaxado, já eu, estava completamente travado, sem acreditar no que estava acontecendo.

—E-eu preciso ir ao banheiro. – Pedi. Não queria estragar o clima, mas não conseguiria ficar naquela posição por muito tempo sem ter um troço.

Aizawa levantou-se pacientemente, dando-me passagem. Tentei não parecer nervoso, mas estava sendo difícil até lembrar como fazia para caminhar. Quando entrei no banheiro finalmente soltei o ar que tinha inconscientemente prendido. Encarei meu reflexo corado no espelho, tocando os lábios com a ponta do indicador.

—Ele me beijou... Ele me beijou! O que eu faço?!

Eu me sentia um adolescente de novo, a vergonha e a euforia me invadindo ao mesmo tempo. Eu precisava de ajuda. Não pensei duas vezes antes de iniciar uma chamada com Yu, que atendeu no primeiro toque.

—Eai loiro? Aconteceu alguma coisa? Precisa que eu te busque? – Iniciou, preocupada.

—Não, não. Não é nada disso. Ele me beijou. O Shouta me beijou, o que eu faço?!

—Não acredito que você saiu do lado do boy para vir pedir concelhos pra mim? Onde você tá, no banheiro?! Que horrível Mic! Só vai lá e pega ele de jeito! Aproveita que o gato tá dando mole.

—Não é bem assim, Yu! Ele disse pra deixar acontecer, mas não quero me precipitar. Preciso de ajuda, minha cabeça tá dando voltas e eu não sei o que pensar. Se eu voltar pra lá vou ficar mais tenso do que já estou!

—Faz assim: chama ele pra sair. Mas sair de verdade, nada de reunião de trabalho. Leva ele pra jantar, pra ver um filme, algo mais romântico, bem casalzinho, entende?

—Você tem razão. Eu vou lá!

—Boa sorte loirão!

Eu encerrei a chamada e saí do banheiro, cheio de confiança. Mas assim que o vi, sentado me aguardando, fraquejei de novo. Meu coração disparou de zero a mil em um segundo e eu senti o rosto queimar. Ele tinha voltado ao seu lugar e segurava uma nova xícara de café nas mãos.

—Acho que terminamos por hoje, não é? – Indagou depois que me sentei a sua frente. Tentei não encarar tão fixamente seus lábios, mas era quase impossível. Apenas confirmei com a cabeça, reunindo meus papéis. Ele terminou seu café e recolheu suas coisas também, nós fechamos a conta e deixamos o local. Na porta, encarei-o novamente. Meu coração parecia estar participando de um concurso de percussão de tão forte que batia. Respirei fundo, tomando coragem.

—Ei, Shouta...? Vai fazer alguma coisa no sábado? Tem um filme novo que eu quero ver, se você puder ir, seria legal. – Eu não fazia ideia dos filmes que estavam em cartaz, mas duvido de que isso fosse um problema. Só queria ter um pouco mais de tempo com o moreno.

—Tudo bem, eu vou sim. – Respondeu, com um pequeno sorriso no rosto. Nós nos despedimos e ele seguiu no caminho oposto ao meu. Agora eu tinha mais um evento para atacar minha ansiedade: um encontro de verdade com Shouta. Minha barriga já doía só de pensar. Respirei fundo novamente, rumando ao apartamento de Yu, precisaria de uma boa sessão da amizade dela para me acalmar.

In your eyes - Boku no Hero Academia (EraserMic)Onde histórias criam vida. Descubra agora