Capitulo XXIV

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Senti o calor do sol tocando meu rosto e, por maior que fosse a insistência dele, minha vontade era de continuar dormindo por mais dez horas se possível, mas meu estômago já estava doendo de fome e a claridade começava a me incomodar. Estiquei-me, abrindo os olhos e me espreguiçando. A cama ao meu lado estava vazia, mas aquilo não me preocupou, eu podia ouvir a melodia do violão e a voz gostosa de Hizashi vinda do lado de fora.

Levantei-me, calçando as pantufas e ajeitando a calça de moletom, com preguiça de mais para procurar pela camiseta, que deveria estar jogada por aí em algum canto. Do corredor eu já conseguia identificar algumas palavras da música, provavelmente algum rock melódico dos anos setenta ou oitenta. Me aproximei silenciosamente, parando na base da escada para apreciar a música, esperando que ele a terminasse.

...half my life, Is books, written pages

Live and learn from fools and from sages

You know it's true, oh

All these feelings come back to you

Sing with me, sing for the years

Sing for the laughter, sing for the tears

Sing with me, just for today

Maybe tomorrow, the good Lord will take you away

Yeah, sing with me, sing for the year

Sing for the laughter, sing for the tear

Sing with me, just for today

Maybe tomorrow, the good Lord will take you away

Dream on

Dream on

Dream on

Dream until your dreams come true

Quando o loiro tocou os últimos acordes finalmente eu me aproximei, envolvendo seus ombros com meus braços e depositando um beijo em seu pescoço. Pude observar o quanto aquilo o arrepiou e, mesmo encabulado, Hizashi abriu um enorme sorriso.

—Bom dia. – Cumprimentei-o com um selinho breve, o que deixou o loiro ainda mais radiante.

—Bom dia. Te acordei? – Indagou preocupado e eu neguei com a cabeça, sorrindo e me sentando ao seu lado. – Eu fiz o café da manhã, você deve estar com fome né?

Concordei, me lembrando que não havíamos jantado na noite anterior. Senti meu rosto esquentar levemente e segui Hizashi até a cozinha, onde uma belíssima mesa de café da manhã ocidental estava posta, cheia de frutas e pães, com um pequeno bolo e uma jarra de suco de laranja. A garrafa térmica também estava ali e eu não me fiz de rogado e enchi minha caneca com o delicioso café puro e amargo gostoso que apenas Hizashi sabia fazer. O loiro se sentou a minha frente se servindo e eu fiz o mesmo, fazendo questão de experimentar um pouco de cada coisinha que ele havia se preocupado em providenciar.

—Que musica era? A que você estava tocando antes... – Perguntei enquanto provava um pedaço do bolo, que descobri ser de baunilha. Não era muito doce e combinava perfeitamente com o café.

—Ah, aquilo... era Dream On, do Aerosmith. – Respondeu, levando uma fatia de queijo a boca.

—Você já pensou em tentar de novo? – Ele me encarou confuso. – Com relação ao mercado da musica. Talvez tenha mais oportunidades aqui no Japão.

Hizashi suspirou pesado, encostando na cadeira. Eu sabia que não era um assunto fácil para ele, mas não podia deixar que desistisse por completo de algo que realmente amava fazer, sem pelo menos tentar uma última vez.

—Já pensei nisso algumas vezes, mas não sei se estou preparado para passar por isso de novo, sabe? Estou tão bem dando aula para as crianças...

—Entendo. Mas acho que você deveria dar ao menos uma ultima chance. Enfim, irei apoia-lo independente do caminho que escolher. – Estiquei minha mão sobre a mesa, entrelacei nossos dedos e Hizashi me agradeceu num sussurro, com um pequeno sorriso.

Nós terminamos nosso café da manhã em um clima agradável e retornamos para a sala, onde Hizashi voltou a cantar e tocar, na maior parte do tempo musicas românticas, roubando-me sorrisos e beijos vez ou outra. Mas, apesar de estar gostando muito de passar aquele tempinho só eu e Hizashi, meu coração já apertava de saudades da minha pequena Eri.

—Posso buscar a Eri na casa da Shino pra você. – Como se lesse meus pensamentos, Hizashi colocou o violão de lado e me deu um meio abraço. – Enquanto isso você toma um banho e se arruma. Se a pequena vir esses roxos vai achar que eu bati no papai dela.

—Se tiver ficado alguma visível, eu te mato Mic! – Senti meu rosto quente enquanto procurava pelas marcas, encontrando algumas pelo meu torso despido, mas por sorte uma camiseta qualquer cobriria.

—Fique tranquilo, eu tomei cuidado, diferente de certas pessoas... – Ele puxou o cabelo para o ombro oposto, deixando evidente um chupão enorme e marcas de dentes em seu pescoço. Meus olhos se arregalaram e até minhas orelhas estavam pegando fogo de tanta vergonha. – Relaxa, posso usar o cabelo para esconder. E não é como se eu não gostasse. – O loiro sorriu, me dando um beijinho na bochecha e me empurrando em direção às escadas.

Tomei um banho mais demorado que o de costume e quando saí, já vestido e bem arrumado, me deparei com Hitoshi na sala, sentado no sofá e fazendo carinho em Kuro. O gato era apegado de mais ao meu filho e, quando este não estava em casa, o felino praticamente não saia de seu quarto.

—Eai, terminaram o dever de casa? – Sentei-me ao seu lado no sofá e tentei parecer descontraído. Não queria pressioná-lo a me contar sobre sua vida amorosa, mas queria que ele soubesse que podia realmente contar comigo para qualquer coisa.

—Sim, nem tinha tanta coisa para fazer assim, aquele cabeça de ameba estava desesperado por nada. – Ele sorriu pequeno, contradizendo o sentido de sua frase. Então seu sorriso murchou e tomou uma expressão séria, parando até mesmo de acariciar o pelo macio do gato, que nem se mexeu de seu colo. – Hm.. pai... – Chamou, mas não conseguiu sustentar meu olhar por muito tempo. Suas íris índigo se desviaram brevemente, como se procurassem em algum canto daquela sala as palavras corretas para me dizer algo que eu já sabia. Então ele voltou a me encarar, respirando fundo e coçando a própria nuca. – Bem... eu e o Denki, nós... estamos juntos... namorando e tal...

Ele parecia apreensivo enquanto esperava que eu reagisse a notícia. Apenas para brincar consigo, demorei mais que o necessário, antes de abrir um pequeno sorriso, podendo observar suas bochechas ganhando um leve tom rosado. Meu filho coçou novamente a nuca e riu.

—Nem sei por que eu 'tava com tanta vergonha de contar qualquer coisa. – Hitoshi confessou, ainda corado. – Valeu pai.

—Está tudo bem... apenas tenham juízo, usem proteção e sejam felizes. Não existe nada nesse mundo que eu queira mais do que ver você feliz, filho. – Puxei-o para um meio abraço que foi retribuído de forma tímida e constrangida. E antes que pudéssemos nos soltar, a porta foi aberta e por ela entrou uma garotinha muito animada, que assim que nos viu, correu para participar do abraço, puxando Hizashi junto.

—Você contou pro papai que tá namorando com o Denki, Toshi? – Eri perguntou, curiosa, arrancando uma expressão surpresa do irmão.

—Como você-

—Essa mocinha é muito esperta. – O interrompi, apertando o narizinho arrebitado da pequena, que riu ainda mais e sentou no meu colo.

—Estava tão na cara assim? – Nós três concordamos com um "UHUM" uníssono e Hitoshi ficou ainda mais vermelho, mas ao invés de ficar aborrecido, como normalmente ficaria, ele apenas riu e retribuiu o abraço coletivo. Incluindo Hizashi nele, como eu nunca pensei que faria.

E aquilo preencheu meu coração de um calor tão absurdamente bom, algo tão reconfortante e pleno que me fez sentir tão completo como nunca antes.

Tão completo quanto eu só poderia ser com aqueles três ao meu lado.

In your eyes - Boku no Hero Academia (EraserMic)Onde histórias criam vida. Descubra agora