Capítulo XVII

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O sinal para o intervalo tinha acabado de bater e eu já me encaminhava para o meu lugar de sempre. Costumava comer no terraço, que estava sempre vazio e era onde eu tinha um pouco de paz. Ojiro havia me chamado para almoçar com ele e os outros, mas eu preferi tirar esse tempo para mim.

Porém, como nada podia ser perfeito, algo me impediu de continuar meu caminho pela escadaria. Definitivamente aquela estava sendo a segunda-feira mais movimentada da minha vida.

--...está bem mãe, não se preocupa. Sim, sim eu já fiz o mercado... – A voz estranhamente carregada de Kaminari me fez parar no caminho. Eu não tinha intenção de ouvir, mas por algum motivo eu não consegui me mover dali. – Eu vou ficar bem, pode deixar. Espero conhecer meu irmãozinho logo. Tá. Eu também te amo. Tchau.

Eu estava pronto para deixar o lugar, não tinha o direito de me intrometer na vida dos outros, mas então ouvi os soluços e o choro baixo. Não conseguia nem mesmo imaginar o loiro, que estava sempre alegre e com um enorme sorriso estampado no rosto, chorando.

Suspirei pesado e terminei de subir as escadas. Kaminari estava sentado, encostado do lado da máquina de refrigerantes, de cabeça baixa e o rosto escondido entre as pernas. Não fiz questão de esconder minha presença e me encostei do seu lado. Demorou um tempo ainda para que o loiro levantasse a cabeça, limpando o rosto e forçando um sorriso.

—Eu 'tô atrapalhando né?

—Você não devia fingir que está tudo bem quando não está. – Falei sem rodeios, desencostando da parede e indo até a máquina. O sorriso em seu rosto se desfez e ele me encarou. – Desculpa, sei que eu não tinha nada que me intrometer, mas acho que sinceridade é algo importante.

—Não, tudo bem... É só que... ah, não quero te encher com os meus problemas. – Kaminari jogou a cabeça para trás, fechando os olhos. Eu peguei os refrigerantes e me sentei do seu lado, entregando-lhe uma latinha de soda limão.

—Se quiser falar, eu posso ouvir. Não tenho nada para fazer agora mesmo. – Dei um longo gole no refri enquanto o loiro decidia entre me contar ou não o que estava acontecendo.

—É minha mãe... ela e o meu pai se separaram faz um tempo e aí ela conheceu esse cara. Ele é legal, eu gosto dele só que ele levou ela para morar em outra província. Eu não quis ir, tenho meus amigos e a escola também, finalmente consegui passar para um lugar onde queria estudar e tals... Eu disse que aguentava o tranco de morar sozinho e ela confiou em mim. Agora tá dando tudo errado: Tô pra levar bomba, meu projeto de recuperação é um vídeo e eu não sei fazer, meu PC deu pau... e eu não posso dizer nada pra minha mãe, não quero deixar ela preocupada, ela 'tá grávida e não pode se estressar. Sei que não dá pra esconder meu boletim pra sempre, se eu não conseguir a nota do projeto, com certeza ela vai ficar sabendo e eu vou ter que me mudar. – Contou tudo de uma só vez, quase sem parar para respirar.

—Mas, você não acha que se conversar com ela as coisas podem se resolver melhor? – Indaguei, observando-o abrir a latinha e tomar da soda. – Eu tenho certeza que, mesmo sem que você diga nada, ela sabe que tem algo de errado e deve estar preocupada, sem saber o que está acontecendo. Uma coisa que aprendi recentemente é que devemos confiar mais nas pessoas. – Ele me encarou surpreso, como se eu fosse a última pessoa da qual ele esperaria ouvir algo assim.

—Mas mesmo assim. Se eu levar bomba ela não vai me deixar aqui!

—Eu posso te ajudar com o projeto de recuperação. – Levantei do chão e joguei minha latinha fora. – Fala com a sua mãe, conta o que você está passando. E amanhã a gente vai lá pra casa, adiantar seu vídeo.

In your eyes - Boku no Hero Academia (EraserMic)Onde histórias criam vida. Descubra agora