Capítulo XIX

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Nós caminhávamos de mãos dadas de volta à estação. O céu estava pontilhado de estrelas e elas pareciam brilhar ainda mais a meu ver. O som do córrego passando abaixo de nós na ponte me fez parar, percebendo a pouca distancia do nosso destino.

—Fica lá em casa hoje. – Sugeri baixinho, puxando-o para perto e abraçando sua cintura.

—O-o que?! E os seus filhos?!

—Não se preocupe com isso. A Eri te adora, está sempre me perguntando quando você vai aparecer para brincar e o Hitoshi apenas gosta de implicar com você, é só não cair na pilha dele.

—Não sei... não quero ser um incômodo para ele.

—Ah, mas ele vai ter que se acostumar, já que estamos namorando. – Enfatizei a palavra, vendo-o corar. – Vamos lá Hizashi, eu quero muito ficar mais tempo com você e precisamos aproveitar, semana que vem vou para o acampamento de verão com a molecada e só vamos nos ver quando eu voltar. – O loiro coçou a nuca tentando resistir a minha chantagem, o que foi inútil.

—Está bem, você venceu.

Eu sorri nós voltamos a caminhar, ainda meio abraçados, sentindo a brisa fresca daquela noite de verão nos acariciar. Era tão ruim pensar que nosso passeio estava chegando ao fim, mas ao menos poderíamos ficar um pouco mais juntos por aquela noite.

Observei a hora no meu celular assim que entramos na estação, já passava das onze da noite, o tempo tinha voado como sempre acontecia quando estávamos juntos. Àquela hora Hitoshi já devia ter colocado Eri para dormir e se trancado em seu próprio quarto. Um sorriso se formou no canto dos meus lábios apenas de pensar que teríamos um mínimo de privacidade.

Nós chegamos em casa mais rápido do que eu esperava. Como eu imaginava, as luzes estavam apagadas e tudo devidamente organizado.

—Fique a vontade, já conhece a casa, não precisa fazer cerimônia. – Falei ao ligar as luzes, atravessando a sala em direção à cozinha. - Quer beber alguma coisa?

—Só uma água está bom. – Respondeu. Alcancei dois copos e servi água gelada para nós, me sentando ao seu lado no sofá após entregar-lhe o seu.

Fiquei observando-o enquanto bebericava a água distraidamente. Era engraçado, pois Hizashi se distraía facilmente com frequência, viajando em seus próprios pensamentos e, às vezes, se esquecia de tudo ao redor. Quando finalmente terminou e colocou o copo sobre a mesinha da sala, eu avancei sobre ele como um felino, sem qualquer pressa. Sua expressão de surpresa me instigava a continuar, como se ele não esperasse por uma atitude minha.

Envolvi seu pescoço, enroscando os dedos em seus fios loiros e aproximando nossos rostos o suficiente para que nossa respiração se chocasse. Selei nossos lábios calmamente, sentindo a macies do toque, com meu coração batendo forte. O loiro logo entreabriu os lábios, dando passagem para que minha língua pudesse invadir sua boca. Eu não me cansava do quanto aquela sensação era maravilhosa, do quanto eu poderia provar daquilo e continuar sempre querendo mais.

Senti as mãos de Hizashi escorregarem pelas minhas costas, segurando em minha cintura com firmeza e me puxando para mais perto. O calor já começava a tomar conta de mim e aquela sensação gostosa de formigamento lá embaixo me fazia querer esquecer de todo o resto e simplesmente me entregar de uma vez. Enfiei as mãos por baixo da camisa do loiro, sentindo o leve relevo de seu abdome e intensificando ainda mais o beijo, fazendo-o se arrepiar. Estava para retirar a peça quando ele separou nossos lábios.

—Espera Shouta, não podemos fazer isso aqui. – Sussurrou, ofegante. Seu rosto estava completamente vermelho e seu olhar transbordava expectativa.

—Vamos continuar no quarto então. – Sugeri, descendo os beijos para seu pescoço e ouvindo-o soltar um gemido abafado. Mas algo me fez interromper o que estava fazendo imediatamente: o som de vidro se quebrando vindo do andar de cima. – Ouviu isso?

—O que?

—Aconteceu alguma coisa, vou lá em cima ver. – Na hora meu corpo gelou. Realinhei minhas roupas apressado e subi as escadas, a possibilidade de Eri ter se machucado me deixando cego de medo.

A porta do quarto da pequena estava entreaberta, como eu sempre deixava, porém a luz do abajur estava apagada, o que era incomum, já que a pequena tinha medo do escuro. Meu coração se apertou e eu abri a porta, acendendo a luz.

—Eri? – Chamei, deparando-me com a cama vazia e o abajur quebrado no chão. Precisei olhar envolta para encontra-la, encolhida no vão entre a parede e o armário, chorando e tremendo com eu nunca vi antes. Senti meus olhos arderem, mas precisava me manter calmo. Me aproximei devagar, me ajoelhando a sua frente. – Eri, o que aconteceu?

—E-ele... ele voltou... ele vai me machucar... eu tô com medo!

—Ei, está tudo bem. Ninguém vai te machucar meu anjo, eu estou aqui e vou te proteger. – Toquei seu rostinho, limpando as lágrimas, sem fazer movimentos bruscos para não assustá-la. – Foi só um pesadelo filha, prometo que ninguém vai encostar em você, eu não vou deixar. Vem cá.

Estendi os braços e ela me abraçou apertado, chorando ainda mais. A aconcheguei em meu peito, fazendo um carinho delicado em suas costas e me levantei com ela, sentando em sua cama. Hizashi entrou em seguida, com um copo de água na mão.

—Bebe um pouquinho Eri. – Ele ofereceu e eu a ajudei a segurar o copo, as suas mãozinhas ainda tremiam de medo. O loiro sentou ao nosso lado, segurando uma das mãos da pequena e nós ficamos assim por algum tempo, esperando que ela se acalmasse e parasse de chorar. – Está tudo bem agora? – Ela respondeu positiva com a cabeça.

—Posso dormir com vocês hoje? Só um pouquinho...

Hizashi e eu trocamos um breve olhar e então sorri para a menina.

—Claro que pode.

Carreguei Eri dali sendo seguido de perto por Hizashi, já que a pequena não havia soltado sua mão, como se para garantir que o loiro estaria junto. Já no quarto, coloquei Eri na cama enquanto Hizashi ia se trocar no banheiro, com uma roupa minha emprestada. Na minha vez, pude ouvir os dois conversarem, suas vozes soando abafadas através da porta.

—...o papai gosta muito do Sr. Hizashi. Eu também e o Toshi também... será que não daria para você namorar com o papai?

Ouvi Hizashi tossir e terminei de me vestir o mais rápido que deu. Eri o encarava confusa e quando saí do banheiro o loiro estava quase ficando roxo, não sei se de vergonha ou pela tosse.

—Você ia gostar que a gente namorasse, Eri? – Perguntei, me sentando ao seu lado da cama, feliz pela pequena já estar mais animada.

—Sim! Ia ser legal por que o Sr. Hizashi é muito bonzinho e brinca comigo sempre.

—Então eu vou te contar um segredo... – Me aproximei dela, colocando as mãos em concha e sussurrando em sua orelha. – Nós já estamos namorando.

—Sério?!

—Sim, mas não conta para o Toshi ainda, tá? – Falei, já rindo da expressão sem graça de Hizashi. – Agora vamos dormir para poder acordar cedo e brincar bastante amanhã.

—Táá!

Apaguei a luz, deixando apenas o abajur acesso, e Hizashi e eu nos acomodamos na cama, com Eri entre nós. Entrelacei meus dedos com os do loiro, permitindo que a menina fosse abraçada por nós dois.

Há quanto tempo eu não me sentia tão completo? Apesar do susto, certamente aquela seria uma noite que eu nunca iria esquecer, pois era a primeira em muito tempo que eu me sentia verdadeiramente inteiro.

In your eyes - Boku no Hero Academia (EraserMic)Onde histórias criam vida. Descubra agora