Capítulo 3.5 (Extra)

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Eu estava nervoso. Era a primeira vez que ficaria sozinho com o Midoriya depois de um longo tempo. Nos conhecíamos desde o primário e quando crianças vivíamos um na casa do outro, mas desde o começo do Ensino Médio não nos víamos com tanta frequência, apesar de sermos colegas de classe e sempre trocarmos mensagens. Aquela seria também a primeira vez que ficaríamos um tempo juntos desde que entendi o que sentia por ele e talvez fosse por este motivo que meu coração batia desenfreado.

Ajeitei o cabelo no reflexo da janela e apertei a alça da sacola antes de apertar a campainha, sendo recebido por um Izuku meio afobado.

—Ah! Hitoshi-kun! Que bom que chegou! – Ele abriu um enorme sorriso, daqueles que faziam meu coração acelerar e meu rosto aquecer. – Entra, por favor.

—Eu trouxe uns lanches para mais tarde – Adentrei a casa, retirando os sapatos, cumprimentando a senhora Inko e lhe entregando a sacola, seguindo Midoriya pelo corredor até seu quarto, mas, chegando lá toda a minha empolgação desceu ralo a baixo. Sentado sob a mesinha disposta no centro do quarto estava Todoroki Shouto, o meu pesadelo dos últimos dias. Ele vinha roubando a atenção de Izuku e se aproximando cada vez mais dele. Óbvio que eu não podia deixar de notar o quanto Midoriya ficava animado em ter a companhia do outro e aquilo me incomodava até o fundo da alma. Respirei fundo e segui com minha melhor cara de sono de sempre.

—Desculpa não ter avisado antes, mas a professora pediu para colocarmos o Todoroki-kun no nosso grupo, já que era o que tinha menos gente. Ele caiu com o Kaccham, mas sabe como ele é, né? – Midoriya tentou se explicar, meio constrangido com o clima que havia se instalado no quarto. Eu, sinceramente preferia imaginar o bicolor sendo espancado pelo Katsuki do que ser obrigado a aturá-lo o dia inteiro, mas tive que me controlar para não dizer o que pensava.

—Tudo bem, eu não me incomodo. – Respondi, com um meio sorriso.

Nós nos sentamos, começando a organizar as coisas para fazer o trabalho. Era um trabalho de biologia, tínhamos que escolher um tema referente ao corpo humano e falar sobre. Ficamos a tarde inteira nos revezando entre pesquisar nos livros e no computador, resumir e escrever e, com Todoroki no grupo, acabamos terminando tudo muito mais cedo do que o imaginado.

A senhora Inko nos trouxe os lanches pouco depois de terminarmos a tarefa, incluindo também suco e algumas fatias de bolo. Seria um momento descontraído, para descansarmos depois de tanto trabalho, mas para mim foi a gota d'agua. Eu já não estava sabendo lidar com a troca de olhares e sorrisos dos dois antes, mas naquele momento foi ainda pior. Todoroki limpava o chantilly no canto da boca de Midoriya, enquanto o mesmo lhe sorria e agradecia. Os dois se olhavam de uma forma tão intensa que até parecia que eu não existia. Eu queria socar a cara do bicolor e tomar Midoriya para mim, leva-lo para bem longe, onde pudéssemos ficar apenas nós dois, onde eu pudesse lhe dizer o que sentia e o quanto me incomodava sua aproximação com Todoroki.

—O que está fazendo? – O moreno indagou, vendo o outro pegar os morangos e colocar em seu prato.

—Te dando meus morangos. Você parece gostar deles. – Midoriya corou e eu quis pular pela janela.

Chega. Não aguentava mais isso e não ia continuar assistindo os dois me ignorarem enquanto meu coração se partia. Programei meu celular para tocar o alarme e fingi ser uma ligação.

—Desculpa, preciso atender. – Saí do quarto aliviado, mas me sentindo um lixo. Enrolei por algum tempo e voltei. – Eu preciso ir para casa, meu pai não está se sentindo bem. – Inventei, finalmente tendo um pouco da atenção de Midoriya.

—Sério? Será que é algo grave? – Ele perguntou, enquanto me ajudava a guardar meu material.

—Eu espero que não. – Respondi, deixando o quarto e sendo seguido até a porta da casa – Desculpa, nos vemos amanhã.

Nós nos despedimos e eu fui embora, com pressa. Estava tudo planejado, tudo preparado para que eu passasse a noite lá. Mesmo que não fosse contar sobre os meus sentimentos, mesmo que fosse apenas para continuar como amigo do Midoriya, eu não me importava, eu sabia que ele não gostava de mim da mesma forma, mas não me importava, só queria ficar ao seu lado. Agora, vê-lo com outra pessoa, aquilo me machucava, me fazia sentir uma dor que nunca tinha sentido antes e, mesmo que a vontade de chorar fosse grande, eu me segurei. Mesmo com o peito apertado e o coração magoado, eu suportei.

Coloquei o meu melhor sorriso falso no rosto e entrei em casa, ficando aliviado ao perceber que meu pai não tinha chegado ainda. Corri para o meu quarto e afundei o rosto do travesseiro, gritando os mais diversos palavrões para descrever aquele maldito ruivo oxigenado. Por que ele tinha que aparecer justo agora?! Por que ele não cansava de se meter entre nós?!

Depois de quase ficar rouco de tanto gritar, me enfiei embaixo do chuveiro, em um banho demorado, e voltei para a cama, vendo a tela do celular piscar e ignorando-a. Não queria ter que encarar Midoriya agora. Olhei para as estantes, escolhendo um livro no meio delas que distraísse meus pensamentos, levando-me pra longe de Midoriya e Todoroki.

In your eyes - Boku no Hero Academia (EraserMic)Onde histórias criam vida. Descubra agora