Capítulo X

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Acorde! Acorde, Amara!

Abro os olhos e me sento na cama macia de supetão. Respiro fundo, aliviada por ter acordado.

Ao olhar para o meu lado esquerdo, me deparo com um rapaz de cabelos tão escuros que distinguir os fios era um verdadeiro desafio, olhos castanho escuros e uma pele bronzeada. O extremo oposto de Lucio.

Ele parecia confuso e preocupado, olhando além de mim, para a cama e quando me viro na mesma direção, tomo um susto tão grande que caio da mesma, me afastando daquela cena aos "trancos e barrancos", me recusando a acreditar que aquilo era possível.

Eu estava deitada ali, dormindo.

- Não pode ser. - sussurro. Minha visão já embaçada pelas lágrimas.

Me levanto aos tropeços e saio do quarto, seguindo por um corredor tão longo quanto a rua em que vivia no meu mundo, dando de cara com inúmeras pessoas congeladas, estátuas humanas de olhos fechados e que mal respiravam.

Eu me sentia num filme de terror, como a casa de cera.

- Nunca imaginei que um conto de fadas pudesse ser tão assustador. - digo, quando chego ao topo da escadaria de um enorme salão, cheio de pessoas naquele mesmo estado de hibernação, todas bem vestidas, com roupas de gala pomposas e ultrapassadas, se você vive no século XXI, é claro.

Descendo alguns degraus, noto o rei e a rainha, os pais da princesa, sentados em seus tronos, desacordados, como os outros, mas sorriam, felizes. Eles conheceriam sua filha hoje e eu lhes tirei isso, além de todas as minhas chances de ir para casa.

Logo meus olhos se enchem de água e uma lágrima traiçoeira corre pela minha face antes que eu possa impedi-la, porém, dou um pulo de susto e ao sentir uma mão seca-la suavemente.

- Henrique? - meus olhos não podiam acreditar no que viam. Era ele, mas como?

- Olá. - ele sorri, e eu senti tanta falta daquele sorriso e de seu jeito doce.

- Você está mesmo aqui? - pergunto, me aproximando e tocando seu rosto, o que faz com que ele feche os olhos por um momento.

- Isso é tão real. - sussurra e não resisto a abraça-lo com força, sendo correspondida após um leve susto inicial.

- Eu senti tanto a sua falta. - soluço em seu ombro e ele afaga minhas costas carinhosamente, me fazendo suspirar e me acalmar.

- Eu também senti, moça dos sonhos. - aquilo me fez congelar e soltá-lo lentamente.

Como pude me esquecer? Ele acredita que não sou nada mais que um sonho, graças à aquele acordo imbecil.

- Pode me chamar de Amara, gatão. - tento soar engraçada, mas estou ruindo por dentro, como se todos os meus órgãos internos fossem feitos do vidro mais barato, e estivessem rachando, com um único peteleco.

Ele me lança um olhar estranho, mas logo sorri e olha em volta.

- Onde estamos?

- Num castelo enfeitiçado. - respondo, suspirando, recebendo um olhar confuso dele. - Uma fada muito chateada amaldiçoou a princesa desse castelo, e como sou a enviada da floresta, ao entrar neste reino, acabei tomando o seu lugar e, como não há por perto alguém que me ame verdadeiramente, as esperanças de que eu acorde são quase nulas. - explicou e ele parece ponderar por uma eternidade.

Bufo.

Uma vez lento, sempre lento.

Pressiono os polegares em minhas têmporas, impaciente, até que ouço uma das portas do salão ser aberta e, para a minha surpresa, Lucio passa por ela, sem fôlego e, assusta-se com todas as pessoas em animação suspensa, mas, ignora em segundos toda a situação, parecendo procurar por alguém.

Princesa, não! - Invadindo Os Contos De Fadas (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora