Epílogo

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Não Há Felizes Para Sempre?

Brasil, 2020

Quando eu voltei para casa, tudo desceu ladeira a baixo.

O fato de eu afirmar que havia passado mais de um mês num mundo encantado fez com que acreditassem que eu havia sofrido um trauma tão grande que inventara tudo para esquecer o que realmente me acontecera, principalmente, minha mãe, que mesmo me amando com todas as forças, era cética e não aceitava que eu tivesse realmente vivido o que dizia. Fui obrigada a me consultar com inúmeros psicólogos e psiquiatras, até que desistiram, dona Helena, finalmente, aceitou que bastava que eu estivesse ao seu lado, e deixou-me em paz, desde que eu prometesse parar de ir até a floresta do acampamento, buscando outros cogumelos, aceitei, afinal, uma parte de mim sabia que não haveria volta.

Com isso, mergulhei numa horrível depressão por meses, queria entender porque aquilo tudo me aconteceu e eu não pude ter um maldito final feliz. Daria tudo para saber o sentido de dar a alguém o amor, apenas para tira-lo depois. No entanto, eu tinha consciência de que ter encontrado Henrique, fora um efeito colateral, inesperado por Kamirra e, aceitei tal realidade, dando meu máximo para seguir a vida, mesmo sonhando quase todas as noites com o corpo inerte do homem que amo estirado no chão, convivendo com a dúvida de se minha volta havia o salvado ou não, tendo como única e absoluta prova do que vivi, a Kataná, pendurada na parede de meu quarto.

Com o apoio de meus amigos, terminei o último ano letivo e entrei para a faculdade de Direito. Decidi que, com magia ou não, continuaria a lutar pelas pessoas, como lutaram por mim, mas sem arriscar minha vida, para o bem do coração de minha mãe.

Eu perdera meu aniversário de dezessete anos no mundo dos contos de fadas, mas pudemos comemorar o meu de dezoito anos em 29 de Janeiro de 2018, e eu pude ver o quanto tudo mudara. Mamãe havia arrumado um namorado legal, que a ajudou muito quando eu desapareci e quando adoeci, Erika e Bruno estavam juntos, assim como Mirela e JC. Até o chato do Bryan encontrou uma garota divertida de quem gostei logo de cara. Eu estava feliz em ver todos juntos, sentia falta de ter alguém ao meu lado, porém, não era qualquer cara que substituiria quem eu perdi, desde o dia em que retornei, meu coração parecia congelado no tempo, aguardando um homem que eu provavelmente nunca mais veria.

O tempo passou, a faculdade me consumia tanto que mal tinha tempo para me martirizar e, agora que consegui um estágio, mal respiro, mas os pesadelos ainda são uma constante em minhas noites.

Hoje, saindo para um lanche, fui cutucada na rua por um indesejável, Yuri, que não deixara de ser o mesmo arrogante que conheci, me impressionei por ter me reconhecido, já que eu mudei consideravelmente nesse meio tempo, minha franja cresceu tanto que se misturou ao resto do cabelo, no qual mantenho um corte chanel na altura dos ombros, também ganhei corpo, engordei um pouco, mas não me incomodo.

Yuri, insuportavelmente, não parava de falar o quanto crescera na vida, sem ao menos me dar um pedido de desculpas pela cachorrada que fizera comigo anos atrás, que pareceu ser esquecida devido ao meu desaparecimento. Ali, enquanto o observava, finalmente pude entender que amores irrelevantes, como o que ele me proporcionou, se vão, mas os verdadeiros marcam a alma e jamais te abandonam. Henrique sempre seria a melhor parte de mim e Yuri a pior.

Ignorando o babaca, lhe dou as costas e volto para a empresa.

Sentada em minha mesa, organizando as informações que Mariellem, a advogada para quem estagio na M&K Associados, me pediu para o caso em que estava trabalhando, minha mente vagueia para um sonho que tivera esta noite, o que era raro, com meus amados olhos verdes e um sorriso radiante. Aquilo encheu me coração e trabalhei o resto do dia tranquilamente.

Princesa, não! - Invadindo Os Contos De Fadas (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora