Capítulo XIV

379 69 256
                                    

Só Faltavam As Sereias

- Onde você está, garota? - Rumpelstilskin me chama na escuridão.

- Na praia, eu acho. Ainda não sei quem me tornei. - digo, confusa, tentando ver algo, mas tudo a minha volta era breu.

- Você já perdeu um dia, precisa correr. Recupere sua voz e encontre seus amigos, lhe restam apenas dois dias.

Minha voz?

Antes que eu possa sequer assentir, sou lançada para fora daquele lugar e abro os olhos de supetão, perdendo o equilíbrio e quase caindo pela janela de um quarto altíssimo, com vista para a praia.

Me agarro as cortinas, respiro fundo, tentando controlar meus batimentos cardíacos e me afasto lentamente da janela, sentando-me numa cama macia, afim de recuperar o fôlego e a sanidade.

Se bem que a última acho que não volta mais, essa aí me largou de vez.

Assim que me sinto melhor, observo o quarto, todo decorado em cores neutras, como nude, marrom, branco e alguns detalhes em verde claro, assim como o vestido até os joelhos, corte império, ombro a ombro, que eu uso. Ele é muito mais simples que o de Tália, mas ainda deixa minha casa inteira parecendo um cubículo.

De repente, ouço passos fora do quarto e vejo a maçaneta da porta girar. Temendo ser presa novamente por "não ser a garota certa", me jogo debaixo da cama, grata pelos longos lençóis cobrirem cada lado da mesma.

- Ei, garota da praia, você está aqui? - uma voz masculina pergunta e mantenho silêncio. - Onde será que ela está? - ele parece andar pelo quarto, provavelmente caçando a tal garota e eu peço a Deus para que não olhe debaixo da cama, e ele logo sai do quarto.

Expiro, soltando o ar que nem mesmo sabia estar prendendo e saio de debaixo da cama, tentando formular um plano para dar o fora desse lugar, quando sou surpreendida por um riso.

- Arrá! Sabia que você estava aí! - encaro o homem alto, de olhos castanho-esverdeados, cabelos escuros e pele âmbar, ao lado da porta, encostado na parede e solto um grito horrorizado. Ao menos, deveria ter soltado, mas nenhum som saí pela minha boca. Eu olho para o homem com estranheza e ele me devolve o olhar, como se eu fosse um alienígena e, nesse momento, finalmente sei onde estou, no conto que mais me dá raiva e eu sou a cabeçuda que deu sua voz para uma bruxa só para conquistar um macho.

Agarro meus cabelos e solto um grunhido raivoso que parece despertar o homem.

- Quem é você? Onde foi parar a minha amiga?

Ai, coitada, já está na friend zone.

Faço sinais, indicando a ele que não consigo falar e finjo escrever em algo, para que me arranje papel e caneta - ou qualquer coisa do tipo.

Ele vai até um canto mal iluminado do quarto, onde há o que creio ser uma escrivaninha e volta com papel, uma pena e um tinteiro. Apoio tudo no chão e, de joelhos, começo a escrever a velha ladainha que já espalho com facilidade:

Olá, meu nome é Amara, eu sou uma Enviada da Floresta, se quer saber do que se trata, pesquise, estou sem tempo e paciência para explicar, o fato é que vim parar no lugar da sua amiga por acidente, e eu preciso encontrar uma bruxa do mar para então sair desse pedaço de terra e encontrar meu... - penso por um momento. Como eu posso denominar Henrique? Namorado? Amigo? O cara que me deu o melhor beijo da minha vida? Ah! Já sei! - amor verdadeiro. - Isso aí! Mais piegas impossível, Amara!

Princesa, não! - Invadindo Os Contos De Fadas (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora