Entre Nós

Capítulo 13

Acordei na madrugada e não consegui mais dormir. Ainda faltava 2 horas para meu despertador tocar, então peguei meu celular para assistir alguma coisa enquanto não dava a hora de me arrumar para ir pra escola. Comecei a assistir Meu primeiro amor quando recebi uma mensagem de Argel:

-Oi, você está acordado?
-Oi
-Não consigo dormir, sempre que fecho os olhos me lembro de você...
-De mim?
-É... Eu fico lembrando daquele dia no laboratório e em como eu queria que ele se repetisse.

Fiquei sem palavras, só consegui encarar a tela do celular até que ele mandou outra mensagem.

-Me desculpa ter dito isso é que eu precisava, isso estava preso na minha garganta desde aquele dia...
-Tudo bem...
-Não é o que parece.
-É que eu não te entendo, Argel! Você fala isso pra mim agora e quando a gente chega na escola você nem olha na minha cara, é como se eu fosse um passa tempo seu para toda vez que você se cansar de Felipe.
-Não é bem assim, eu nem tenho nada com Felipe.
-Não é o que parece...
-Nem tudo o que parece realmente é.
-Eu até acreditaria em suas palavras se suas atitudes não fossem contrárias.
-E o que você quer que eu faça?
-Fique do meu lado.
-Ta bom então.
-Ta vendo, esse é o problema, eu não quero que você faça algo só porque eu estou pedindo, eu quero que as atitudes partam de você...
-Você está certo, me desculpe.
-Pare de se desculpar o tempo todo!
-Só quando eu parar de errar o tempo todo!
-Eu estou cansado, preciso dormir um pouco.
-Tchau, durma bem.
-Tchau.

Desliguei o celular e joguei ele do outro lado da cama.

Eu não me arrependo de ter tratado ele dessa maneira fria, não nasci para ser segunda opção de ninguém, muito menos de Argel.

*****

Fui pra escola com fones de ouvido para ninguém me perturbar. Não adiantou de nada. Assim que me sentei, Davi puxou meus fones.

-Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?
-Não...
-Puf...
-Cadê Natalha?
-Acho que ela não vem hoje não, só faltam 5 minutos para o sinal tocar.
-Vocês combinam é? Quando um vem o outro falta.
-É.

Coloquei o fone e abaixei a cabeça na mesa. Eu estava quase dormindo quando ouvi alguém puxando a cadeira ao meu lado. Pensei ter sido Natalha mas estranhei ela ter vindo se sentar comigo e não com Davi.

Levantei a cabeça para falar com ela.

-Achei que você não vi...

Parei de falar na hora que vi que não era Natalha e sim Argel que havia se sentado.

-Oi. (Ele falou dando um sorriso cínico).
-Oi. (Olhei para Argel sem entender o porque dele estar aqui).
-Oi Davi, quanto tempo.
-Pois é, não nos falamos desde que você deixou Rian para ir se sentar com Felipe... (Davi disse isso com um tom provocativo).
-É... Eu meu lembro disso.

Argel ficou me encarando por um tempo e então eu sussurrei para ele:

-Porque você está aqui?!
-Você me pediu atitudes, estou tendo.
-Argggg.
-Desculpa, eu vou sair.

Ele se levantou, mas eu o puxei de volta.

-Você vai ficar aqui!

Ele deu um sorrisinho debochado e se sentou olhando para mim. Revirei os olhos e abaixei minha cabeça, só levantei quando o sinal tocou indicando o começo da primeira aula.

Torci para Davi não chamar Renan para se sentar com ele, porque só assim eu poderia conversar com ele e ignorar o fato de Argel estar do meu lado. Infelizmente minhas preces não foram ouvidas, assim que o professor de história entrou na sala, Renan apareceu com mochila e tudo.

-Olá... Argel, certo? (Ele perguntou como se já não soubesse).
-Isso mesmo, e você é? (Argel estendeu a mão para cumprimentá-lo).
-Renan... Engraçado que a gente nunca foi apresentado né? Toda vez que eu venho me sentar aqui você não está.
-Pois é...
-Tá, já deu! (Davi puxou Renan).
-Será que ele ficou com ciúmes? (Argel sussurrou no meu ouvido).
-Ciúmes do quê? De vocês flertando na nossa frente? Acho que não...
-Pelo visto você ficou. (Ele me deu um beliscão de leve na barriga).
-Porque eu ficaria com ciúmes de você?
-Porquê você me quer...
-Quero mesmo... Bem longe de mim.
-Tipo na cadeira da frente, que por coincidência é onde ele está sentando?
-Cala a boca!

Ele riu.

Argel sabe como me provocar, e isso me deixa louco.

*****

O sinal do recreio tocou e todo mundo saiu, exceto Argel e eu, ele me fez ficar.

Depois que a sala ficou completamente vazia ele se virou para mim e disse:

-Porque você está assim?

Fiquei preocupado porque ele estava com a feição séria.

-Assim como?
-Frio.
-Eu sou frio!
-Não, você não é.

Abaixei a cabeça e comecei encarar meu tênis.

-Eu realmente não te entendo, você me fala que eu não demonstro e isso e aquilo, mas quando eu faço alguma coisa você me trata com frieza, se decida Rian.
-Me desculpa, eu não queria ser assim.
-Nem eu queria que você fosse assim.
-Mas você sabe que pra mim é difícil.
-O que é difícil?
-Amar.
-Amar? Ou amar um garoto?
-Os dois.
-E você acha que pra mim é fácil?
-Eu sei que não, mas você age como se fosse...
-Nem sempre a maneira como agimos corresponde com a maneira que sentimos.
-Você age como se tudo fosse um conto de fadas, como se isso que nós temos não fosse um problema.
-E é?
-Não sei.
-O único problema que nós temos é o medo, é ele que nos impede de ficarmos juntos.
-Desculpa ter medo, eu realmente não queria ter medo de sentir isso que eu sinto por você, mas você tem que entender que pra mim é difícil.
-E pra mim é super fácil né?! Você acha que é fácil te ver e não poder te dar um beijo na frente de todo mundo? Não poder te abraçar?! Rian eu nunca te abracei na frente das pessoas, por medo! Medo do que você vai pensar, medo do que você vai fazer, medo de tudo, mas ao contrário de você eu estou pondo meus medos de lado para ser feliz.
-Eu queria muito fazer isso...
-E porque não faz?
-Porque eu não sei o que as pessoas pensariam de mim.
-Foda-se as pessoas, Rian! Você vai deixar de ser feliz por medo do que vão achar?!
-E se pensarem que eu sou gay?!
-Você é?!
-Não!
-Então pronto! Você não pode deixar de viver por medo do que os outros vão pensar de você.

Me segurei para não desabar em lágrimas.

-Eu te amo! Quero dizer isso pro mundo inteiro, mas não posso e nem consigo.
-Espera... Você me ama? (A voz dele saiu tremula).
-Sim, eu sei... Sou ridículo não é? (Não consegui mais segurar, quando vi as lágrimas já rolavam em meu rosto).

Ele me puxou e me deu um abraço apertado. Pude sentir ele chorando também.

Ficamos abraçados até o sinal tocar e todos entrarem na sala.

Passamos o resto das aulas de mãos dadas por debaixo da mesa. Fazíamos carinho um no outro com o polegar.