Rian (capítulo 6)

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Ele já estava 10 minutos atrasado. Eu já andei pela escola inteira e nada dele aparecer, "será que ele ainda vem ?", esse pensamento não saía da minha cabeça. Pensei várias vezes em ir embora e nunca mais olhar na cara dele, mas eu ainda tinha esperanças de que Argel chegaria e me daria um abraço forte e nós iríamos fazer sei lá o que, sei que isso parace bobo mas é que desde o que aconteceu naquele dia no intervalo eu não consigo parar de pensar nele nem por um milésimo de segundo, na verdade, nem consigo e nem quero. Pensar nele me relaxava, era como se fosse meu porto seguro, sempre que eu passava por um momento difícil ele me acalmava, mesmo que só nos meus pensamentos.

Já se passaram 30 minutos e nada dele chegar, então decidi ir embora, mas antes passei no banheiro para ver minha cara de otário. "Sério que eu fiquei 30 minutos esperando por ele? Logo por ele!". Lavei o rosto e fiquei um tempo olhando meu reflexo no espelho, quando eu abri a porta do banheiro, para ir embora, bati de frente com Argel.
-Ah ainda bem. Achei que você tinha ido embora (ele passou a mão no cabelo, que estava molhado de suor, assim como todo o corpo dele).
-Bom, eu ia...
-Desculpa pelo atraso, eu tive alguns problemas em casa...
-Tudo bem... A gente ainda vai fazer o trabalho?
-Claro, você acha que eu corri até aqui só para te ver é?
-Não... Você está certo, desculpa... (Desviei o olhar, envergonhado).
-Rsrsrsrs você é uma comédia Rian (Ele deu um soquinho no meu braço, o que me fez sorrir).
-Você não quer entrar para limpar esse suor não?
-É eu ia fazer isso.
A gente entrou e eu me sentei em cima do balcão onde ficam as pias, que por sinal era um balcão bem grande, da largura da parede. Argel começou a se limpar jogando água no rosto de uma maneira bem desengonçada, o que fez ele molhar a blusa inteira.
-Droga!
-Tem papel toalha aqui atrás de mim, quer que eu pegue para você ?
Ele veio em minha direção e se inclinou para pegar o papel toalha, nossos rostos estavam colados, se eu me virasse um pouco a cabeça, meus lábios estariam juntos aos dele.
-Vamos ? (Ele me perguntou depois de se limpar).
-Para onde ?
-Laboratório, vai que a gente precise imprimir alguma coisa para o trabalho.

Eu nunca entendi o motivo disso aqui ser chamado de laboratório, é uma sala cheia de computadores, é como se fosse uma lan house só que gratis. Aqui estava sempre cheio, mas hoje não tinha ninguém. Nós nos sentamos nas últimas cadeiras da última fileira, lá era bastante escuro e segundo Argel, era melhor a gente ficar no escuro porque assim ninguém poderia nos ver.
Depois de 10 minutos em silêncio Argel se levantou e foi para a frente da impressora.
-Eu não sei usar isso! (Ele deu um murro forte na mesa, o que me fez dar um pulo da cadeira).
-Quer que eu te ajude?
Ele assentiu com a cabeça e eu fui até lá. Botei tudo que ele queria para imprimir e quando terminou a impressão as folhas caíram se espalhando pelo chão. Nós nos agachamos para catar elas.
-Ei, eu acho que a gente perdeu algumas, devem ter entrado debaixo da mesa (Falei pegando no ombro de Argel, que estava sentado de costas para mim. Ele se virou e só então eu percebi que ele estava chorando).
-Calma, eu boto para imprimir de novo.
-Não é isso...
-E o que é então? É por causa daqueles problemas que você teve em casa hoje?
Ele assentiu com a cabeça.
-Eu não sei o que houve mas saiba que eu estou aqui do seu lado ok?
Ele me puxou para um abraço e me apertou forte. Ficamos assim por um bom tempo até que ele me soltou e ficou me fitando por alguns segundos, eu desviei o olhar e ele parou.
-Vamos fazer alguma coisa para você esquecer um pouco o que aconteceu na sua casa, seja lá o que tenha acontecido.
-Pode ser... (Ele falou enquanto enxugava as lágrimas).
-O que você quer fazer agora?
-Bom... Tem uma coisa que eu quero fazer a um bom tempo já...
-Ótimo, vamos fazer. O que é?
-Isso...
Ele veio lentamente na minha direção e me beijou. Eu fiquei sem reação mas depois o beijo me envolveu completamente. Eu acariciava o cabelo dele e ele apertava a minha cintura e aos poucos nós íamos deitando no chão. Ele estava por cima de mim e eu estava com as mãos nas costas dele. Eu podia passar horas aqui com ele mas infelizmente o sinal do recreio tocou e nós paramos por medo de que alguém pudesse nos ver aqui.

Eu me levantei e fiquei olhando para ele que ainda estava sentado no chão encarando o seu sapato.
-Eu vou ao banheiro... Você vem?
-Pode ir na frente.
Fui ao banheiro mas gostaria mesmo era de estar lá com ele, só que desta vez eu que estivesse por cima. Arrumei meu cabelo que estava todo bagunçado e dei uma risadinha boba quando lembrei o motivo dele estar assim, fiquei repassando cada segundo em minha mente do que tinha acabado de acontecer. Vários pensamentos invadiram minha cabeça "como vai ser de agora em diante?" "será que vai ficar um clima estranho entre a gente?" "como vou falar para os meus amigos sobre isso?" no fim cheguei a conclusão de que nada disso importava desde que eu esteja perto dele...

Eu estava radiante, nunca tinha me sentido tão feliz, é incrível como uma pessoa pode fazer você se sentir bem com uma simples atitude, para muitos da minha sala isso não seria nada, só um beijo de muitos, mas para  mim é diferente, beijo é algo especial que conecta as pessoas, é uma forma de demonstrar amor sem precisar falar nada, só fazer.

Voltei para o laboratório e quando cheguei lá tinha um grupinho de amigas sentadas perto de onde eu e Argel estávamos, mas ele não estava lá, acho que elas perceberam que eu estava procurando alguém, porque uma delas me falou que o menino que estava lá tinha saído pouco tempo depois que elas entraram. Agradeci e saí da sala para procurar ele. Procurei pela escola inteira, entrei em todas as salas e não achei ele, com certeza ele tinha ido embora...


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