Hoje o dia estava sem graça, sem vida e sem cor, bom na verdade estava com apenas uma cor, cinza. Rian não estava falando comigo por algum motivo, não me lembro de ter feito nada para ele, até porque eu não conseguiria fazer nada que pudesse machucá-lo. Pensei em falar com ele e perguntar o porque dele estar me ignorando dessa maneira, mas no momento que eu ia confrontá-lo o sinal tocou e ele e saiu apressado para o recreio, como se estivesse fugindo de mim.
Peguei meu lanche e fui me sentar com os meninos da nossa sala. Eu sempre troco duas ou três palavras com eles e vou direto para o canto comer em silêncio. Mastigo lentamente enquanto treino o que vou falar com Rian quando o recreio acabar e voltarmos para a quarta aula, mas meus planos vão por água abaixo quando o vejo pela janela da sala. É agora ou nunca, me levanto e vou até lá, meu coração está acelerado e minhas mãos estão suadas. Subo a escada que leva até o corredor onde ficam as salas com passos rápidos, quase correndo, e sem ver nada e nem ninguém até que Davi puxa meu braço.
-Calma rapaz (acho que ele percebeu o quão eufórico e agitado eu estava).
-Ah, oi Davi, depois a gente se fala ok? (Me virei para continuar subindo a escada mas ele me puxou novamente).
-Você está indo para a sala não é?
-Sim sim, tchau.
-Você pode falar para Rian colocar o caderno da Natalha embaixo da minha mesa por favor ?
-Claro, agora me solta que preciso muito ir até lá.
Ele me soltou fazendo uma cara de confuso e então eu subi correndo até que vi pelo vidro da porta, Rian sentado olhando pela janela, era como se ele estivesse procurando algo. Pensei duas vezes se iria mesmo entrar, mas quando vi eu já tinha aberto a porta. Ele estava tão concentrado que nem notou que eu havia entrado. Eu amava isso nele, quando ele ficava em silêncio pensando em algo que provavelmente nunca saberei. Era quase poético vê-lo assim, só faltou um cigarro em suas mãos e um rádio tocando The Smiths ao fundo.Vi que ele não tinha me notado e então falei um oi enquanto me sentava na cadeira. Ficamos conversando por um tempo, mas eu só conseguia pensar em como ele tinha lábios vermelhos e em como eu queria experimentá-los...
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Passei o resto das aulas pensando no que tinha acontecido no recreio, ou melhor, no que ia acontecendo. Eu queria muito que aquilo se repetisse e que na próxima vez não houvesse interrupções, então resolvi escrever para ele, se eu realmente queria algo eu tinha que correr atrás, fiz uma cartinha o convidando para vir a escola de tarde comigo para a gente terminar nosso trabalho de geografia. Botei até um coraçãozinho no fim do convite para ele saber que eu gostava da amizade dele, foi um ato impulsivo, eu sei, mas o que eu posso fazer se foi mais forte que eu.
Eu não aguentava mais esperar até entregar a ele esse maldito papel, esperei pelo momento em que ninguém estivesse por perto e então o entreguei. Minhas mãos suavam de nervoso e enquanto eu caminhava para casa várias perguntas invadiam minha cabeça; e se ele não gostou do coração que eu desenhei ou então e se ele não gostou do que aconteceu no recreio, eu não deveria ter feito aquilo eu sou um babaca mesmo, eu me odeio, porque eu estou surtando por causa de Rian, ele é só um garoto que vai fazer um trabalho comigo na escola, nada de errado nisso. Eu me acalmei quando vi minha casa no fim da rua, ela passava uma imagem traquila, as árvores ao redor e aquele banco na frente eram relaxantes, pena que era assim só por fora...
-Mãe cheguei !
-Bom dia filho, como foi a escola hoje ? (Ela estava sorridente, fazia tempos que eu não via ela assim).
-Ah bom, normal como sempre. Já tomou seus remédios hoje ?
-Já... Agora eu tenho que ir (Ela me deu um beijo na testa e pegou a bolsa que estava na mesa).
-Eles estão te fazendo melhor, eu consigo ver isso, você está até mais sorridente.
Ela deu um sorriso para mim e me deu um abraço apertado.
-Eu tenho que ir, se seu pai chegar você já sabe né ?
-Sei, fazer o mesmo de sempre.
-Tchau filho, te amo (ela saiu atrasada como sempre).Me deitei na cama e liguei o rádio na esperança de escutar alguma música que me tirasse da realidade, era só isso que eu precisava no momento, sair do meu corpo nem que seja por alguns minutos. Estava passando um especial de Arctic Monkeys, minha banda preferida. Já estava na quinta música e eu só conseguia pensar em uma coisa; Rian. Aqueles lábios vermelhos não saiam da minha cabeça, o que me fazia querer mais e mais prová-los. Eu mal podia esperar para amanhã...
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Tomei um banho e comecei a arrumar a mesa enquanto minha mãe não chegava com o jantar. Já se passava das 09:00 e ela ainda não tinha chegado, comecei a ficar preocupado porque ela já estava uma hora atrasada e isso nunca acontecia. Peguei o telefone para ligar para a polícia quando escutei o barulho da porta da cozinha batendo forte. Ela chegou e se sentou no sofá como se nada tivesse acontecido.
-Olá? Será que a senhora pode me dizer o motivo da demora, afinal já são mais de 09:00 e você sai de lá às 08:00!
Ela lançou um olhar para mim e depois voltou para a televisão.
-Cadê o jantar ? (Parei na frente da tv).
-Dentro do carro, se quiser comer vai lá pegar! (Ela me afastou com a perna para eu sair do seu campo de visão).
-Mãe, você se atrasou uma hora! Não acha que eu devo no mínimo uma explicação ?
-Eu estava com algumas amigas, saímos para beber e eu perdi a hora. Satisfeito ?!
-Você está mentindo, eu sei bem com quem você estava!
-Cala a porra da boca Argel!
-Você é inacreditável mesmo, depois de tudo que ele fez você ainda volta lá como um cachorrinho com o rabo entre as pernas!
-Ele quem garoto?! Você não faz ideia onde eu estava.
-Meu pai. É com ele que você estava!
-olha aqui seu abusado, ele mudou! Arranjou até um trabalho novo, sabia?
-E você acha que essa mudança vai durar quanto tempo hein?!
-O resto das nossas vidas.
-Quanto tempo até ele te bater de novo mãe? Ou fazer coisa pior!
-Você não o conhece como eu, ele é um bom homem !
-Um bom homem ? Foi esse mesmo bom homem que tirou seus remédios, foi esse mesmo bom homem que me mandou para fora de casa e me fez dormir naquele banco por dias!
-Ele tirou meus remédios porque sabia que eu era capaz de melhorar sem eles. E você até que mereceu dormir lá fora por uns dias para deixar de ser respondão.
-Vai se foder! Você e ele se merecem, são dois monstros do caralho!
-Filho não fala assim comigo, você sabe que eu te amo não sabe?
-Eu cansei de você e dos seus problemas! Toda hora um humor diferente! Uma hora você me joga pedras e na outra flores e depois age como se nada tivesse acontecido!
-Basta Argel! Vá para o seu quarto agora!Eu saí da sala e fui para o meu quarto ardendo de ódio. Eu já não aguentava mais minha mãe me tratando desse jeito, estava na hora de fazer algo para mudá-la, nem que seja a força.
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Entre Nós
RomansaRian que até então tinha uma vida normal e sem graça se vê apaixonado pelo garoto novo da sua sala, Argel, e essa paixão vai mexer com a sua cabeça. PLÁGIO É CRIME!