Capítulo 15

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Rian e eu passamos o resto da semana nos encontrando as escondidas. Íamos para a escola e agíamos normalmente sem demonstrar nada e a noite nós nos encontrávamos na praça.

Era uma sensação boa me encontrar com ele sem que ninguém soubesse. Dava uma adrenalina, ainda mais quando alguém aparecia e nós tinhamos que disfarçar.

Teve uma vez que ele estava sentado no meu colo me beijando e um homem apareceu de bicicleta, na hora que eu vi ele pedalando em nossa direção eu empurrei Rian e ele caiu no chão. O homem veio perguntar se estava tudo bem e eu disse que sim enquanto checava se Rian tinha se machucado. Felizmente ele nem se ralou. Rimos muito naquele dia.

*****

Hoje é sábado, fui para academia de manhã cedo e quando cheguei fui fazer algo para comer. Fiz algumas panquecas e fui assistir tv, fiquei horas assistindo até que meu pai chegou me interrompendo.

-Argel, cadê sua mãe?
-No trabalho, fazendo hora extra.
-Ótimo, vem comigo.

Ele saiu para a garagem e eu o acompanhei.

-Entra no carro.
-Aonde a gente vai?
-Só. Entra.

Peguei meu celular e fingi estar mandando uma mensagem para alguém.

-Tá fazendo o quê?
-Avisando para alguém que se eu morrer fui você quem me matou.

Ele riu e entrou no carro.

-Entra logo.
-Ok.

Entrei no carro e ele pisou com força no acelerador fazendo eu bater minha cabeça no banco. Estávamos em silêncio, então ele ligou o som e começou a tocar The Smiths. Uma coisa eu tenho que admitir, meu pai tem um bom gosto musical, foi graças a ele que eu conheci minhas bandas preferidas.

Meu pai começou a cantarolar e depois de um tempo eu também, isso me lembrou quando eu era pequeno e nós saímos para acampar. Ele sempre acendia uma fogueira e colocava The Smiths enquanto me contava histórias de sua adolescência, que hoje eu sei que foram inventadas.

-Chegamos.

Saí do carro e olhei em volta para ver se eu conhecia o lugar, estávamos no meio do nada!

-Porque você me trouxe até aqui?
-Para te ensinar a dirigir. Você já tem 16 anos e não sabe fazer isso. Seu avô me ensinou quando eu tinha 16 anos também.

Olhei incrédulo para ele. Eu não estava entendo o porque dele estar sendo legal comigo.

Meu pai ficou o dia inteiro me ensinando a dirigir e quando deu a hora de ir nós nos sentamos no capô do carro para observar o pôr do sol enquanto tomávamos uma coca-cola. Eu sentia falta de momentos assim entre nós...

*****

Chegamos em casa e minha mãe estava fazendo o jantar.

-Aonde vocês estavam? (Ela nos olhou confusa).
-No meio do nada!

Meu pai olhou para mim e deu uma risadinha.

-Ele estava aprendendo a dirigir.
-Calma aí, você e você (ela apontou a faca que estava cortando as cenouras, para mim e para meu pai) saíram juntos e não se mataram?!
-Nós somos seres civilizados, sabia?
-Menos, Argel, bem menos (meu pai falou enquanto pegava uma cerveja dentro da geladeira).

Fui para o meu quarto trocar de roupa, porque a minha estava toda suja. Enquanto fazia isso recebi uma mensagem, corri para ver quem era, ou melhor, para ver se era Rian. Não era.

-Oi, lembra de mim? Felipe. Seu antigo amigo...
-Haha lembro sim, como esquecer.
-Tudo bem?
-Tudo.
-Fazendo o quê?
-Nada.
-Quer fazer alguma coisa hoje a noite?

Fiquei um tempo encarando a tela do celular, pensando no que responder.

-Tipo o quê?
-Quer vir aqui pra casa? Eu tô sozinho...
-Pode ser.
-Que horas você vem?
-As 21:00.
-Me manda mensagem quando estiver vindo.
-Ok.

Minha mãe me gritou para ir jantar, desci as escadas e arrumei a mesa, a gente nunca jantava na mesa da sala de jantar, ainda mais em família.

Terminei de comer rápido e fui tomar um banho para ir a casa de Felipe. Assim que terminei chamei um Uber e mandei mensagem falando que eu já estava indo. Desci as escadas e fui avisar a minha mãe que eu estava saindo, mas ela e meu pai estavam dançando agarradinhos na sala e eu não quis interromper.

Cheguei na casa dele e nós ficamos na sala, ele colocou uma música para tocar, acho que era Patience do Guns N'Roses.

Ele se sentou no sofá e eu na poltrona. Fiquei mexendo no celular até que ele veio se sentar na poltrona ao lado e ficou me encarando.

-O que foi?
-Nada... É só que... Esquece...
-Agora eu quero saber, Felipe.
-Eu quero muito fazer uma coisa, mas tenho medo da sua reação.
-Não tenha.

Ele se levantou, se sentou no meu colo virado de frente para mim e me deu um beijo lento, assim que terminou ele ficou me encarando e eu puxei ele para outro beijo, mas dessa vez um mais demorado.

Quando terminamos de nos beijar, nós ficamos abraçados enquanto ele fazia carinho em meu cabelo. Me lembrei de Rian, gostaria muito que fosse ele aqui comigo ao invés de Felipe.

Ele levantou e puxou minha mão me levando até o quarto dele. Quando chegamos lá ele deitou na cama.

-Você vai ficar?
-Eu não posso...
-Porque?
-Porque eu não tomei banho ainda.

Eu sou péssimo mentindo!

-Você pode tomar banho aqui se quiser...
-Mas eu não trouxe roupa.
-Não precisa usar...
-Felipe!
-Eu tô brincando. Você pode usar as minhas, acho que servem em você.

Uma parte de mim queria ficar, mas a outra não.

-Ok.
-Olha aí qual que serve em você.

Peguei umas peças de roupa e fui para o banheiro. Agora eu vou ter que tomar banho de novo. Quando eu tirei minha roupa e entrei no box, meu celular tocou. Era Rian. Atendi sussurrando.

-Oi.
-Oi.
-Aconteceu alguma coisa?
-Não, porque?
-Porque você nunca me liga ou manda mensagem.
-Eu queria ouvir a sua voz.
-Ah...
-Você está ocupado?
-Porque?
-É que você está sussurrando...
-Estou sussurrando porque meus pais já estão dormindo.
-Ah...
-Rian, eu posso te ligar amanhã?
-Pode, desculpe te ligar...
-Não se desculpe, eu gostei de ouvir a sua voz, é que nesse momento eu não posso falar...
-Tchau. Beijo...
-Tchau. Beijo...

Tomei um banho rápido e quando saí do banheiro Felipe já estava dormindo. Me deitei ao lado dele e acabei dormindo também.





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