Prólogo

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Filha ― murmurou com a voz fraca ―, esta carta vai levá-la até o seu destino.

Alana não entendeu o pedido da mãe. Há meses as duas estão nesse hospital: frio, triste e cheio de dor. Há meses o câncer devastador tem tomado cada órgão da sua mãe tão amada e amiga. Alana não tinha mais disposição e ânimo para lutar, ela só queria que todo esse pesadelo deixasse a sua vida e principalmente a vida da mãe. Quando adormecia na poltrona de acompanhante, ela sonhava com o quintal grande, com a grama num tom de verde tão vivo que representava estar nos campos do próprio paraíso. Lembrava do balanço feito no galho de uma árvore frutífera. Da voz cheia de alegria da mãe lhe chamando para se deliciar com um bolo de chocolate. Esses sonhos eram resquícios da sua felicidade. Ela sentia falta do pequeno poodle deixado aos cuidados da vizinha, ela sentia falta das conversas com as amigas e do sorriso radiante da mãe.
Alana queria gritar, chorar, afastar toda essa dor que vinha presenciando. Agora, sentada ao lado da mãe e vendo o seu sofrimento agonizante, ela deixou de ser egoísta. Alana beijou a bochecha da mãe com todo amor que existia em seu coração e pegou a carta em sua mão.

― Eu vou ficar bem, mãe. ― Lágrimas escorriam em seu rosto. ― Chegou a hora de descansar, eu prometo que vou ficar bem.

E como se as palavras da filha fossem o remédio para tamanha dor, a mulher deu o seu último suspiro, deixando Alana desolada. O seu choro começou como um sussurro, depois os seus gritos eram como uma sinfonia triste, árdua e difícil de ouvir. Cada gota de lágrima era uma chance de se livrar da agonia que destruía o seu coração. Alana queria a mãe por perto, ela queria que a mãe tivesse mais forças para lutar e vencer. Entretanto a doença levou a sua vitalidade, a sua beleza, e despedaçou sua alma. 
Médicos e enfermeiros entraram no pequeno quarto hospitalar, uma enfermeira tentou acalmá-la, tentou dizer a frase que todos estavam usando desde que ela e a mãe descobriram a doença: “Vai ficar tudo bem”. 
Alana queria acreditar nessas palavras, ela queria acordar na manhã seguinte e não sentir essa dor tão cruel dilacerando seu peito. Ela queria muito seguir em frente e pensar que sim, que ela encontraria a felicidade sem ter a mãe ao seu lado. 
No fim era uma mentira… 
Todas essas palavras que as pessoas usavam em momentos conturbados e tristes eram mentiras. Ela não se lembrava do que aconteceu em seguida, só se lembrava da sua visão ficando turva e toda luz existente ao seu redor se apagando, e o mundo perdendo a sua magia.
Alana acordou atordoada em um quarto escuro e com móveis antigos, ela observou ao redor, com a visão ainda enfraquecida, e assustou-se com a presença de uma mulher estranha sentada próxima à cama.

― Bom dia ― cumprimentou a desconhecida.

― Quem é você? ― Alana perguntou, sentindo a garganta queimar. Ela se recordou da noite mais devastadora da sua vida e encolheu-se, abraçando o próprio corpo.

A minha mãe se foi, a minha amiga tão fiel me deixou.
Um soluço escapou, mesmo não querendo chorar. Ela queria cumprir a promessa feita para mãe em seu leito de morte. 

Infelizmente as lágrimas eram mais fortes.

― Shh! ― Fez a mulher. ― Meu nome é Rose, sou assistente social, pretendo cuidar de você.

Cuidar de mim?
Ela estava confusa, sozinha e infeliz. 
Ninguém poderia cuidar dela, ninguém conseguiria trazer a sua mãe de volta, como se milagrosamente um final feliz acontecesse. 
As pessoas não entendiam o quão desolador era esse momento.

― Vou ajudá-la com o funeral da sua mãe e depois vamos encontrar seus familiares.

Familiares? 
Alana não conhecia nenhum parente próximo, a sua mãe sempre insistia em dizer que o seu nascimento foi consequência de uma produção independente, optando pela fertilização in vitro.

Vivendo Com Um Magnata (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora