Fica comigo esta noite

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Fica comigo esta noite...

   Brandão ainda estava na cadeia, Mariana voltara desolada pra casa, enquanto Luccino estava apreensivo na morada do Coronel, Otávio lhe fazia companhia, e após um pedido de Luccino, aceitara dormir ali.

— Espere, vamos dormir no mesmo quarto ? — Ele indagou quando Luccino lhe indicou o quarto onde dormia.

— Se você não se incomodar...— Luccino sorria, mas por trás do tom cortês, havia certo humor. Ele não era inocente, sabia bem o que Capitão pensava. — Eu não ronco, se é com isso que está preocupado. — Ele mentiu.

— Nada disso...apenas...— Otávio tentava dizer aquilo da forma mais sutil.

Luccino levantou as sobrancelhas, indicando curiosidade, embora soubesse o que Otávio queria dizer.

— Será apenas uma noite, você concordou em me fazer companhia, vamos apenas dormir, certo ? — Ele sorriu e adentrou o quarto, indicando que Otávio fizesse o mesmo.

— E o que mais poderíamos fazer ? — Ele disse num tom para quebrar o gelo, mas ambos pensaram na resposta, ficando automaticamente vermelhos, pois, embora fosse um plano e um desejo, era cedo demais para tal ato, já que os dois nem mesmo haviam dado um único beijo.

Luccino arrumou a cama para que o Capitão dormisse ali. Com ele.

Um após o outro, os dois tomaram banho, com Otávio dando leves olhadas no corpo de Luccino enrolado na toalha, ainda se sentindo envergonhado pelo ato. O militar recebera roupas emprestadas do italiano, para que pudesse dormir mais confortavelmente, e sem poder se conter, após se certificar de que Luccino não veria, levou as roupas até o rosto, sentindo o cheiro de graxa ( provavelmente adquirido pelo tempo que Luccino passava na oficina ) junto da adocicada fragrância invadir suas narinas. E ao vestir as peças, ele se sentiu tão bem que poderia viver pra sempre usando as roupas de Luccino, se fosse para viver eternamente sentindo o cheiro dele nas roupas.

Já preparados para se deitar, em lados opostos na cama, se deitaram de frente para o outro, apenas olhando, sem nada dizer.

E o que precisavam dizer ? Nada. Só os olhares que eles trocavam já era suficientemente um diálogo completo, Luccino e Otávio divagavam em longas conversas sem proferir um som sequer. O sorriso sereno e acolhedor de Otávio, que se escondia abaixo de um bigode cheio, deixava o peito de Luccino aquecido, e isso lhe causava um sorriso doce, que Otávio amava. Quase como uma troca de favores, os dois se complementavam sem perceber.

— Que bom que você está aqui comigo. — Disse Luccino, a voz baixa, mesmo que não houvesse a necessidade de sussurrar.

— O prazer é todo meu. — Otávio se aproximou um pouco, de modo cauteloso, de Luccino, que também se movera vagarosamente na direção do capitão.

— Você tem me ajudado tanto, está sempre disposto a me ouvir e sempre entendendo coisas que eu mesmo digo e não compreendo.

— Olha só quem fala...— Otávio riu. — Eu devia te agradecer, Luccino. Graças a você, eu me entendo cada dia mais comigo mesmo, eu mudei por sua causa, e nem mesmo percebi. Você me faz muito bem, Luccino.

— Ora, eu não fiz nada. Você sempre foi assim, só precisava de alguém que te ajudasse a mostrar esse lado. Alguém que você pudesse confiar e que ficasse sempre ao seu lado.

— Eu quero ficar sempre ao seu lado. — Otávio se aproximou mais um pouco, seu corpo ficando próximo do de Luccino, quase se encostando. — No que precisar.

— Não quero ficar te incomodando com todos os meus problemas. — Luccino engoliu em seco. Otávio sorriu, ousando o movimento, e colocando sua mão no rosto de Luccino, acariciando sua bochecha.

— Me incomode sempre que quiser. Se um dia, qualquer dia, você precisar de alguém, pode me chamar. — E com essa declaração, os dois colaram seus corpos, estando realmente próximos, mas algo não parecia completo.

  Será que eles deveriam se beijar ?

Tanto Luccino quanto Otávio estavam nervosos, mesmo que Luccino já estivesse envolvido nos braços de Otávio, o medo e a ansiedade lhe invadiam diante do contato íntimo. O mesmo ocorria com Otávio, que não sabia se Luccino queria que o mesmo o beijasse, ou se estava nervoso também.
A angústia pairava entre os dois. Estavam próximos do rosto um do outro, mas não avançavam, de repente, o fato de estarem sozinhos os assustava, e Luccino quase desejou ter deixado Otávio ir embora. Quase.

Tentando acabar de vez com a tensão que havia ali, Luccino curvou a cabeça se aninhou embaixo do queixo de Otávio, os cabelos fazendo cócegas na área. Luccino podia ouvir o coração acelerado de Otávio, e com uma das mãos ele abraçou o militar, que sorriu. Otávio passou a acariciar os cabelos do italiano, passando os dedos por entre os fios e formando tufos.

Luccino fechou os olhos, aproveitando o conforto do abraço do militar, que com uma das mãos lhe prendia pelas costas, a outra acariciava seus cabelos, além de Otávio deixar um beijo de boa noite na testa de Luccino. Desse modo, não foi difícil o italiano dormir tranquilo, se sentindo protegido nos braços do Capitão Otávio.

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