Chamado para a guerra - Parte dois

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   A guerra havia acabado e Luccino não podia estar mais feliz. Infelizmente os soldados só voltariam dali um mês, que foi o tempo para a cidade ser reconstruída, casas foram reerguidas com a ajuda de mutirões, os estragos foram reparados, comida foi distribuída. O mês todo foi de grande ocupação entre os moradores.

  Mas Luccino estava ansioso para ter o major de volta, mandou duas cartas para ele nesse mês que se passou. Mas nenhuma delas foi respondida. Luccino teve de passar o mês inteiro pensando se Otávio voltaria ou não, se ele estaria muito machucado, se estaria bem mentalmente ou se estaria muito traumatizado.

Finalmente o dia dos soldados voltarem chegou, Ernesto preparou um grande festa para comemorar a volta dos soldados, e toda a cidade estava ansiosa. Mariana levou sua pequena filha, e Lídia estava levando um nos braços e o outro pelo braço, pois o mais velho não parava quieto, afinal queria ver seu pai logo.

— Quieto, Felisbertinho! Assim eu vou perder meu braço. — Ela puxou o garoto mais uma vez.

papai! Eu quéio papai! — O mais velho gritava em euforia.

— Espevitado que nem a mãe. — Mariana riu.

— Deixa que eu seguro ele. — Luccino riu junto e pegou o garoto no colo, mas ele ainda olhava para todos os lados a procura do pai.

De longe foram ouvidos os barulhos dos camburões que trariam os soldados do Vale, sem dúvida estavam menos cheios do que quando foram, deixando o coração das famílias do militares angustiada, até que eles começaram a descer dos veículos.

  A felicidade foi a estampa de quase todos os rostos que receberam os militares. Para aqueles que não tiveram o prazer de rever seu filho, amigo ou marido, foi entregue uma carta de despedida, a farda e a medalha de honra ao mérito.

  Randolfo foi até sua amada, que pegou o filho do colo de Luccino e foi até ele. Randolfo estava com uma perna quebrada e com um sorriso maior que o rosto ao ver sua família de volta, abraçou o seu menino, beijou sua esposa e acariciou a sua filhinha mais nova. Lídia o foi puxando para uma carroça.

— Lídia, calma! — Randolfo pediu, tentando acompanhar o ritmo da esposa.

— Depressa, Ranran. Temos que ir pra casa, estou morrendo de saudade de você, meu capitão. — Declarou ela, a malícia brilhando em seu sorriso.

  Mariana por si abraçou o marido, que levava um dos braços enfaixados, e mostrou a nova integrante da família, Brandão não conseguiu segurar as lágrimas, e após abraçar Luccino, direcionou suas atenções unicamente para sua filha e esposa.

O italiano correu para o centro do camburões, onde alguns soldados ainda estavam saindo, seu coração a mil, apertado pela angústia e saudade de seu amado. Mas a angústia não durou muito após ver Otávio descer de um dos camburões e pegar sua mala, mandando as favas toda a cautela e discrição que deveriam ter, Luccino corrreu para Otávio, sem se importar se o seu desespero seria muito suspeito, ele abraçou Otávio.

   Otávio sentiu uma pontada de dor ao receber o abraço de Luccino a tamanha força usada e o seu ferimento ainda em recuperação, mas não pode evitar retribuir o carinho, enterrando a cabeça em seu pescoço e sentindo o perfume do qual ele sentira tanta falta. Alguns soldados que estavam perto concluíram que aquele devia ser o tal primo que escreveu as cartas para Otávio, cartas que ele trazia dentro da farda.

— Você voltou...— Luccino ficou de olhos fechados.

— Eu prometi que voltaria, e eu sempre honro as minhas promessas. — Otávio sorriu e se afastou, terminando o abraço.

— Estou com tanta saudade...— Luccino havia esquecido todas as belas palavras que ia dizer quando Otávio voltasse, deixando que apenas seus sentimentos saíssem de modo seco e sem cerimônia, mas eram as palavras mais doces que Otávio ouvira em meses.

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