Otávio está num carro alugado,viajando para a cidade de seu novo quartel,lágrimas nos olhos não aguentam se esconder e escorrem para fora, a respiração de Otávio era ofegante e pesada, com seu coração partido ele deixava o Vale do café,que agora seria só uma parte decepcionante da sua história , uma desgraça para sua coleção . Mas um tempo no quartel resolveria isso,curaria o que restara de seu coração , e formaria uma nova casca, o mesmo Otávio de antes,o frio e ausente de sentimentos.
Na mala que ele fizera para partir,estavam suas roupas,seu sapatos e outros pertences,mas faltava algo,aquela sensação de haver esquecido algo,mas ele tentou não pensar nisso.
Um grito de moça fez o moço que dirigia olhou para trás e arregalou os olhos,fazendo Otávio olhar pra trás,quase não acreditando em sua visão.
Mariana e Luccino sobre a moto,Mariana pilotava o mais rápido que podia, Otávio arregalou os olhos e sentiu uma lâmina cortando o seu peito ao ver a imagem de Luccino.
— Pare o carro! Agora! — Ele grita o senhor o faz, Otávio desce o mais rápido possível ao ponto de ver Mariana e Luccino descendo da moto e vindo ao seu encontro.— O que você...vocês estão fazendo aqui ?
— Eu só vim de motorista,não tenho nada pra falar. — Mariana revira os olhos e toma a direção contrária,se virando para sua moto,que estava bem afastada, e então Otávio reuniu forças e olhou pra Luccino.
— O que você quer ?
— Está fazendo a coisa errada! Não pode ir embora! — Luccino também tinha lágrimas nos olhos,mas tentava ao máximo não derramar nenhuma,a voz embargada não ajudava.
— Por que não ? — Otávio tentava o máximo que podia para ser frio,mas ver os olhos marejados de Luccino o faziam vacilar e revelar a sua mágoa. — O que eu tenho lá que não posso ter em outro lugar ?
— Você tem os seus amigos,Randolfo, Coronel Brandão,Mariana e...e eu.
— Nós não...somos amigos. — Otávio olhava Luccino,seu maior desejo era agarrar-se a ele,porém ele não tinha essa capacidade.
Luccino ficou quieto, desapontado, ele pensou em fugir,mas suas pernas não se moviam,estavam grudadas ao chão,perto de Otávio e longe de qualquer outra coisa.
— Então o que nós somos ?
— Nada. Não posso ser seu amigo nem mesmo sou teu instrutor de esgrima, portanto, o que sou seu ? O que há entre a gente ? — Luccino ficou quieto novamente , Otávio soltou o ar e virou-se para ir embora.— Foi o que...imaginei.
— Espera! Você não pode ir embora! — Luccino repetiu,segurando o braço de Otávio , que puxou o braço violentamente , se virando e afastando Luccino.
— Não posso ? Não posso por que ? Eu não tenho nada aqui,agora o meu trabalho é em outro lugar,nada me prende aqui. — Ele aumentou o tom de voz,mas isso não mudara a posição de Luccino. — Eu não tenho motivo nenhum pra ficar aqui!
— Sim, você tem. — Luccino,tomado por um impulso, se aproximou rapidamente do Capitão, colando os lábios nos seus,um beijo fraco, um mero colar de lábios,mas que não foi recusado por nenhum dos dois.
Otávio não tivera tempo de recuar, não sabia nem mesmo se queria . Sentir os lábios de Luccino nos seus era quase um sonho realizado,eram macios e doces,era a melhor coisa que já sentira, a revolução dentro de si , comemorava a vitória,fazendo festa no estômago de Otávio,que sem perceber,juntara suas mãos com as de Luccino. Quando o beijo cessou , Luccino olhou receoso para Otávio,uma lágrima escapou,com medo da rejeição, uma outra escorreu dos olhos de Otávio.
— Não éramos apenas amigos que se gostam demais ? — Otávio olhou doce pra Luccino, um sorriso tímido por baixo do bigode,algumas lágrimas escorrendo,sendo enxugadas por Luccino.
— Você mesmo disse , não podemos ser amigos, amigos não se gostam do mesmo jeito que a gente se gosta. — Luccino enxugou uma lágrima de Otávio, com aquele costumeiro sorriso Preccieli que só eles tinham.
— Gostar de você ? Eu sinto mais do que isso. — Otávio passou a mão pelos cabelos de Luccino. — Eu amo você, Luccino Preccieli.
— Eu também amo você, Capitão Otávio. — Luccino secou a última lágrima de Otávio.
— Não sou seu capitão,sou apenas Otávio. Seu Otávio. — Otávio abraçou Luccino, tendo o seu coração de ferro concertado por aquele mecânico.
Agora Otávio sabia o que tinha deixado no Vale.
Havia deixado seu coração com Luccino.