Terceira humilhação da nobreza

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"Eu devia ter nascido cinzento! Cinzento e nobre!", pensava Yoongi ao se espreguiçar na grande e macia cama localizada no centro do enorme quarto que um dia acolhera o duque e a duquesa Park, ouvindo as ondas baterem contra a muralha durante a maré alta. Normalmente em campanhas o general não trocava sua tenda negra por outro abrigo, mas deveria passar um tempo significativo nos domínios do clã cinzento para que a mentira que planejava contar para seu governante passasse despercebida e não havia nada de errado com um pouco de conforto. Logo, seguindo essa lógica, todos os oficiais do exército negro que acompanharam a intifada estavam hospedados no maravilhoso palácio de Busan.

Enquanto o Min deliciava-se com espreguiçadas sonolentas em meio aos lençóis de seda, rolando pelo colchão de penas com o prazer que aquele conforto lhe causava estampado na face, o dono de todo aquele luxo dormira encostado na parede de uma das celas subterrâneas do palácio, a qual eram mantidos prisioneiros de guerra e o nobre não poderia estar mais frustrado. Jimin adormecera como um animal, acorrentado e em uma cela de prisioneiros, junto de quase trinta ômegas amontoados em um espaço de quatro metros quadrados e, ainda por cima, derrotado militarmente. O ataque fora tão surpresa que não conseguiram nem mesmo pedir ajuda e tão eficiente que nem poderiam pedir. Agora Jimin estava preso junto de seu povo temendo por uma curva biológica que ele não podia lutar contra, se fosse alfa, morria, se fosse beta, viraria servente da nobreza negra e se se mostrasse um ômega acabaria como escravo sexual.

O ultraje era tamanho que o herdeiro dos Park se pegava pensativo, tentava inutilmente fazer alguma ligação entre os fatos que estavam o rondando. Em um dia era um nobre, cercado de tudo o que se entendia como poder, riqueza e privilégios e, em poucas horas, passara a categoria de um mero híbrido sem casta moribundo, pronto para o que o destino lhe aguardava sem ao menos poder lutar contra. Seria está uma punição por uma vida passada? Ou seria apenas a punição de seus próprios pecados em terra? Ele não sabia, apenas desejava que, se fosse continuar vivo, uma peste o abatesse ou simplesmente morreria de desgosto.

Ele não era pertencente aquele local, sua pele era sensível demais, fina demais, qualquer simples arranhão era considerado perigoso para a aparência impecável do garoto. Fora tão severamente educado que beirava ao ridículo a forma como tentava se comunicar com classes inferiores a si e em meio aquele amontoado de ômegas assustados e abatidos, se sentia mais só do que nunca. Os outros ômegas que o cercavam mal compreendiam o idioma bem pronunciado que o Park proferia, acentuando cada sílaba da forma mais polida que todos seus tutores poderiam ensinar, e os outros nobres que poderia conversar consigo estavam ou mortos ou em outras celas, igualmente solitários e domados como cães. Os soldados negros tiveram o cuidado de segregar cada lorde, conde e duque sobrevivente. Mesmo que só restassem ômegas e esses não fossem os maiores líderes existentes, uma nobreza carismática poderia mover o povo a um contra-ataque, até mesmo Jimin pensou que poderia incentivar tal ação se tivesse alguém com quem conversar, mas, para o azar do cinzento, a mente estrategista do general havia pensado a mesma coisa.

O homem a quem pertencia essa mentalidade, no momento, ainda trajava os delicados pijamas de seda com desenhos elaborados e provavelmente pintados à mão que achou em meio às posses do duque que, nesse momento, tremia mediante a presença dos soldados encarregados de lhes trazer alguma refeição matinal. Yoongi não era um saqueador, ele dominava territórios e somente isso, o que os soldados decidissem levar consigo não era seu problema, ele mesmo nunca havia deixado sua tenda para se divertir em meio à conquista, mas ele estava amando brincar de nobre com as posses da família Park. O quarto magnífico, a vista maravilhosa do mar além das muralhas, as roupas luxuosas demais para serem apenas vestimentas de cama, a comida divina do litoral... O Min não sabia como voltaria para sua humilde casa após aquela intifada, em apenas três dias no palácio ele já havia esquecido como era ser somente um general. "Se a vida de Hoseok ainda é assim, eu tenho que dar um jeito de assumir o título dele!", sentado no parapeito da janela voltada ao oceano enquanto bebericava o chá que um dos apavorados criados cinzentos lhe trouxera, permitia que a mente voasse até o moreno deixado em Daegu. Era estranho a quantidade de vezes que se pegava com o pensamento no alfa de cabelos amendoados, cor essa vinda da duquesa parda com que seu pai se casara em uma das primeiras tentativas pacíficas de união de povos, e até duvidava se a relação deles era mantida apenas por desejo e tesão ou havia algo mais entre os conhecidos de longa data.

Moonlight eyesWhere stories live. Discover now