Quinta ação inesperada

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Se o duque achou que o ritmo de retorno do exército negro não era tão puxado e seria relativamente fácil de acompanhar, ele estava tremendamente enganado e tomou consciência disso na primeira milha que percorreu ao lado do general. Jimin tropeçava, se atrapalhava com a corrente enquanto tentava manter o compasso da caminhada equiparado ao corcel negro e isso distorcia os lábios do militar em sorrisos discretos, divertindo-se com o medo que o monarca aparentava ter de ficar junto das pernas traseiras do animal – de certo modo tinha o mínimo conhecimento sobre o risco de levar um coice andando atrás do cavalo, as chances eram enormes. Seus olhos buscavam no horizonte o primeiro batalhão, ansioso para o momento que armassem acampamento apenas para poder sentar um pouco, ou, ao menos, ficar parado por um segundo que fosse.

O nobre andava tão concentrado em meio ao terreno escorregadio, esgueirando-se pela neve fresca, que não reparou quando o militar fez cessar o trote do corcel, notando apenas quando a corrente em seu pescoço segurou seus passos, fazendo seus pés deslizarem no solo congelado, não caindo não chão por muito pouco. Pela primeira vez desde que deixaram sua capital, Jimin ouviu as gargalhadas debochadas e a voz petulante do general.

– Parece que quer chegar mais rápido que eu, meu senhor. – Yoongi segurava um cantil de couro que, após dar uns goles no líquido que ele continha, ofereceu o recipiente ao monarca. – Tome um pouco, antes que desmaie.

Jimin não percebeu que estava tão sedento até que a imagem do recipiente inundou seus olhos, acolheu o cantil entre os dedos, engolindo vigorosamente a bebida que ele abrigava. A água era um néctar dos deuses em contato com os lábios do nobre, secos e rachados pelo frio, ele tinha certeza que nunca mais o líquido insípido seria tão saboroso em sua boca. Dava goladas grandes e seguidas, parando apenas para respirar pesadamente, mantendo o cantil junto ao corpo como quem segura um filhote frágil. Com as mãos apoiando o rosto e o cotovelo equilibrado no pito da sela, Yoongi observava o desespero com que o menor bebia da água, ele em quase nada lembrava o monarca imponente que encontrara em Busan, parecia mais maleável a cada dia que passava sob o domínio do general, até mesmo aceitou que a coleira fosse posta em seu pescoço sem a menor oposição. Parte de si se orgulhava daquela mudança de comportamento do monarca, gostava de ter um membro de uma nobreza muito superior à sua o chamando de "senhor", já uma voz miúda sussurrava que era necessário tomar cuidado com tamanha submissão.

– Não beba tudo, meu senhor. Temos várias milhas até podermos parar para reabastecer os suprimentos. – Estendeu o braço, sugerindo silenciosamente que o duque lhe devolvesse o cantil. – A não ser que planeje comer a neve, é melhor economizar a água que ainda se mantem líquida.

Com um bico relutante puxando os lábios, Jimin posicionou o cantil entre os dedos do general, os olhos seguindo o recipiente enquanto o militar o guardava em meio às peles de seu casaco. Logo estavam de novo em movimento. O tempo parecia uma eternidade, cada passo ecoava pelos ouvidos dos de cabelos loiros-platinados, ele não sentia mais as solas dos pés e nem mesmo os ossos de suas pernas relativamente curtas. As horas passavam e a imensidão da paisagem não mudava os tons de branco, as árvores começavam a mudar gradativamente de altura, deveriam estar entrando em algum planalto ou algo parecido. Jimin se perguntava como poderia ele andar até Jeolla do Sul, como conseguiria caminhar sem ter os pés em carne viva até lá.

Os devaneios continuavam a passar, desviar e retornar a sua mente, assim como tentava não ceder a dor que se instalava em seus pulmões. A neve não lhes dava um segundo sequer de paz, o tempo todo os atingindo e congelando o pequeno nobre que já ignorava o medo de ser atingido pelos cascos do corcel, caminhando sofridamente atrás do cavalo do general. O vento era implacável, sem dúvida já estaria congelado se não tivesse seguido o que o comandante do exército o ordenara, também contava com o calor corporal não tão forte que era gerado pela sua caminhada sem pausa, contudo, aos poucos sentia que talvez não conseguiria prosseguir por muitos mais dias. Era fraco, frágil, Jimin tinha completo conhecimento disso, não fora treinado para sobreviver às nevascas e longas jornadas, foi ensinado a dar comandos, a programar colheitas e festejos, a como comandar seu povo e fazê-los o amar.

Moonlight eyesWhere stories live. Discover now